Perfil

Valeria Soska: da tecnologia ao comando comercial da Globo

Com mais de 25 anos de carreira em setores tradicionalmente masculinos, executiva atua para ampliar diversidade e formar líderes

i 20 de agosto de 2025 - 8h50

(Crédito: Arthur Nobre)

Valeria Soska, diretora comercial da Globo (Crédito: Arthur Nobre)

Com mais de 25 anos de carreira, sendo boa parte dela liderando equipes de vendas de alto desempenho, unidades de negócios e projetos de consultoria estratégica, Valeria Soska nunca se intimidou por atuar em áreas que, tradicionalmente, eram ocupadas majoritariamente por homens.

Formada em matemática, a executiva começou a carreira na PwC e na IBM apoiando iniciativas de transformação. Em 2007, entrou na SAP, onde ficou por 14 anos e gerenciou uma parceria com a Petrobras em uma conta estratégica de abrangência para o Brasil e para a América Latina.

A passagem dos anos e as experiências que adquiriu nessas empresas ajudaram a atual diretora comercial da Globo a adquirir uma expertise para mudar de área, chegando à empresa de mídia nos planos de investimentos de grande parte dos anunciantes nacionais.

“Há três anos tive a oportunidade de vir para a Globo e isso aconteceu justamente em um momento em que eu já estava considerando quais seriam os próximos passos da minha carreira. Eu poderia trazer muito das experiências que eu tinha em tecnologia para uma empresa que vem nessa pegada mediatech, adtech”, conta.

Para Valeria, o primeiro ano na Globo foi o mais desafiador. Ainda assim, ela reconhece ter tido muito acolhimento, tanto do veículo como de seus pares na jornada. “Eu ainda estava aprendendo como funciona o mercado e como a empresa se comporta e era tudo ao mesmo tempo. Muitas vezes, eu me via em situações em que pensava: ‘caraca, como eu saio daqui?’ Tudo o que eu tinha aprendido nas minhas outras passagens não funcionavam nesses momentos. Mas é nessa hora que você usa a sua experiência para te ajudar a ultrapassar os desafios”, analisa.

Meio & Mensagem — Você passou por setores como tecnologia, telecomunicações e, agora, está em uma empresa de mídia. Como enxerga a evolução desses mercados, que por muito tempo foram ocupados majoritariamente por homens, em questão de diversidade e inclusão?

Valeria Soska — Tive a sorte de, no mundo da tecnologia, trabalhar para empresas multinacionais, onde o tema da diversidade já era bastante abordado. Na SAP, por exemplo, já há muitos anos havia um percentual mínimo de mulheres como speakers nos eventos. Esse número foi crescendo ao longo dos anos e isso trouxe mulheres para ocupar esses lugares de grande expressão no mercado. Quando eu cheguei na Globo, fui impactada pelas transformações que a empresa estava fazendo em relação a esse tema, com iniciativas que já estavam em curso, como uma mentoria em que trazem pessoas externas para palestras. Formamos um grupo de mulheres dentro da área comercial e nos encontramos, de tempos em tempos, para debater temas que são relevantes para todas. Procuramos nos ajudar a resolver questões que temos, como conciliar filhos, trabalho, carreira, cuidados próprios e afins. Nosso grupo tem cada vez mais adesão. Junto com isso, também trabalho para trazer mais mulheres para cargos de liderança na área comercial. Hoje, já temos uma equipe com grande presença feminina, mas ainda temos desafios.

M&M — Quais mecanismos e movimentos têm sido essenciais para garantir e aumentar a diversidade de mulheres no mercado e, especialmente, nas lideranças?

Valeria — Na verdade, temos que permitir que mais mulheres entrem e se desenvolvam nesses cargos. Temos que elevar todo mundo um degrau para que elas possam se desenvolver com cursos, mentoria, feedbacks e suporte, para que consigam subir até os cargos de liderança. No caso, aqui, sou uma mulher líder na área comercial e tenho uma líder que também é uma mulher e que foi, por muito tempo, uma das únicas no comitê executivo. Hoje, temos mais mulheres, o que é uma preocupação da empresa em criar esse ambiente de diversidade. Isso é um exemplo de ações para trazer novas mulheres para essas posições e, eventualmente, criando vagas afirmativas, como a que entrei e algumas que eu projetei, não só pela diversidade de gênero, mas também pela diversidade racial.

M&M — Você é membro do conselho consultivo da SoulCode Academy. Como esse cargo se encaixa na sua jornada e qual é a importância de oferecer aos jovens a oportunidade de acesso à educação e tecnologia?

Valeria — A SoulCode Academy foi fundada como uma edtech com cunho social. Existia uma grande demanda por profissionais da área de TI e a ideia era juntar essa necessidade do mercado e oferecer oportunidade para as pessoas que não tiveram acesso a essa formação, que estavam ressignificando a carreira ou que tiveram dificuldades em poder frequentar uma universidade. Logo no início meu foco foi na mentoria, porque uma coisa é toda a questão técnica ensinada pelos professores, mas quando vamos trabalhar com pessoas mais carentes, o aspecto comportamental é muito importante, até mesmo para coisas mais simples, como por exemplo, como se vestir para uma entrevista, que palavras usar, o que significa certos jargões no mercado de trabalho etc. Foquei em estruturar essa mentoria que, hoje, acontece por meio de voluntários que dedicam horas a esse processo. Tenho a crença que, a medida em que você avança na carreira, você tem a obrigação de devolver para aqueles que estão começando e que estão se transformando naquilo que você aprendeu. Certamente tive muita ajuda e fui muito beneficiada com a educação que tive. Agora, na posição que eu tenho, estou nessa função.