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Para Juliana Roschel, abertura ao erro gera criatividade e inovação

A VP de marketing e growth do Nubank defende a curiosidade, o espaço para errar e a diversidade como motores

i 20 de agosto de 2025 - 7h41

(Crédito: Arthur Nobre)

Juliana Roschel, vice-presidente de marketing e growth do Nubank (Crédito: Arthur Nobre)

Curiosa, Juliana Roschel descobriu cedo o seu interesse por histórias e pessoas. O que, no início, parecia apenas uma afinidade, foi o guia para que a executiva decidisse estudar comunicação. Formada pela Universidade de São Paulo (USP), passou por diversos setores. Há 27 anos, começou sua carreira na Accor, onde permaneceu por sete anos. A primeira grande virada foi o ingresso no segmento automotivo, quando se tornou gerente de marketing da Toyota no Brasil e foi responsável, por exemplo, por revitalizar a marca Corolla no País com o lançamento do Novo Corolla, em 2008.

Dali, Juliana começou uma jornada no mundo da tecnologia. Primeiro, foi diretora de marketing da Samsung e responsável pelo planejamento estratégico da unidade de negócios de mobile. Pouco mais de quatro anos depois, assumiu outra face da tecnologia como líder regional de clientes do Google. A passagem se encerrou em 2018, quando a executiva foi ser diretora de marketing para a América Latina da Electrolux. O trabalho envolveu desenvolver uma estratégia multicanal para o grupo e direcionar o processo de inovação em uma abordagem centrada no consumidor. Depois de pouco mais de três anos, Juliana migrou para o YouTube, onde foi head de marketing regional até assumir o desafio atual no Nubank, em 2022.

Como vice-presidente de marketing e growth, a executiva acompanhou a fintech em uma jornada de expansão. Na edição de 2025 do ranking brasileiro da Brand Finance, que lista as marcas mais valiosas e mais fortes do Brasil, o Nubank ocupou a quarta posição e foi considerada a marca mais forte no Índice de Força de Marca (Brand Strength Index — BSI). Para manter alimentada a curiosidade que a levou até a comunicação, Juliana conta valorizar o contato com diferentes gerações e estar conectada com o mundo de maneira ampla. “Eu não posso só consumir conteúdos e opiniões que estão em linha comigo. Me abro para escutar opiniões que são diferentes das que eu acredito, das que eu valorizo porque eu não sou dona da verdade. Eu só tenho uma opinião. Esse exercício de se colocar em um lugar de escuta e de não julgamento é o mais difícil que o ser humano precisa fazer na vida e o que tento fazer diariamente”, compartilha.

Meio & Mensagem — Durante a sua carreira, você passou por segmentos muito distintos. De que forma essa diversidade moldou a sua visão sobre o marketing e sobre liderança?

Juliana Roschel — Por ser uma pessoa curiosa, obviamente, sou inquieta. Curiosidade e inquietude andam juntos. E o diferente sempre me atraiu mais do que me assustou. Por isso, sempre tive essa vontade de estar em muitos segmentos, que são bem pouco correlatos. Fui de serviços, depois, fui para tecnologia, para o automotivo, linha branca, para tecnologia de novo, depois para finanças. Essa pluralidade me ajudou, primeiro, a me manter sempre nesse lugar de aprendizado, que é um lugar que eu gosto de estar. Me fez exercitar músculos diferentes, de olhar para as culturas que eu trabalhei sempre com olhar de humildade para aprender sobre aquela cultura. Quando falamos de culturas tão diferentes, temos que ir com um olhar de aprendizado e não de julgamento. Temos que entender o ponto de partida daquelas pessoas e porque elas pensam e se comportam desta forma. Isso ajuda muito. Ajuda a ter ideias mais potentes, a exercitar um olhar do indivíduo com mais empatia. Porque, quando nos colocamos nesse lugar de aprendizado, temos que ter empatia por quem está ali, te ajudando, te ensinando. Isso foi moldando a forma que eu lidero e a forma que eu olho para marketing.

M&M — O Nubank é conhecido por sua cultura de inovação. Como você fomenta um ambiente onde sua equipe se sinta segura para experimentar?

Juliana — O ambiente de inovação nasce de um lugar onde as pessoas precisam ter espaço para testar, para potencialmente errar e para aprender com esse erro. Uma cultura que é, como a nossa, uma cultura de um DNA muito forte de inovação, precisa acolher o processo de aprendizado de coração aberto. Eu tenho que fazer com que o time entenda que o erro é parte do processo criativo. Criativo, no sentido amplo da coisa, quando falamos de inovação ou mesmo criatividade em marketing. Esse lugar de segurança é importantíssimo de ser disponibilizado e de ser fomentado. Isso não quer dizer que não se exija entrega, qualidade, performance. Às vezes, temos conceitos meio tabus. Porque eu erro, testo, aprendo e sou criativo, então, não exijo? Isso não é verdade. A mágica de times de alta performance, que têm um potencial criativo e de inovação alto, está justamente nesse equilíbrio. De como eu deixo o ambiente seguro para a pessoa poder avançar, testar e não ser coibida nesse processo e, ao mesmo tempo, como é que eu deixo claro o que se espera dela. Esse é o equilíbrio que tento buscar

Meio & Mensagem — Em uma década, como avalia a evolução da presença feminina no mercado de trabalho?

Juliana — Eu sou uma eterna otimista. Houve avanço. Ainda mais se eu olhar para um universo de tempo maior, que é o da minha carreira. Tudo que eu já, infelizmente, vivi, e onde estamos hoje, houve um avanço. Estamos onde precisamos estar? Não. Para mim, essa é uma agenda que, desde muito no início da minha carreira, eu tinha com clareza: como sigo trazendo mais mulheres, como eu sigo trazendo discernimento para os homens. Porque não é somente uma agenda sobre como acolhemos e desenvolvemos as mulheres. Isso, obviamente, é importantíssimo e seguiremos fazendo. Mas é uma agenda que precisa ser compartilhada. Como ajudamos os homens também a entenderem a importância de ter equidade dentro do processo e dos espaços que queremos ocupar. Temos uma caminhada ainda.