Perfil

Gilvana Viana, da MugShot, amplia vozes no mercado cultural

A empreendedora tem uma carreira marcada pelo compromisso com a diversidade em publicidade, música e cultura

i 19 de agosto de 2025 - 9h24

(Crédito: Grazielle Salgado)

(Crédito: Grazielle Salgado)

Atualmente dividindo sua morada entre os verões de Lisboa, em Portugal, e de São Paulo, no Brasil, Gilvana Viana começou a carreira aos 14 anos em um estúdio de fotografia, onde conheceu um de seus primeiros mentores e incentivadores, o fotógrafo Arnaldo Pappalardo. Durante esse trabalho, que durou cerca de oito anos, ela se formou em Economia e desenvolveu habilidades administrativas, já que cuidava da gestão do local.

A importância da formação acadêmica e a vontade de aprender sempre estiveram presentes na trajetória da futura executiva, que depois fez pós-graduação em marketing e publicidade, além de outros cursos. “Nunca deixei de estudar, porque para mim isso é fundamental. Criei para o audiovisual, fiz pós-graduação em marketing e esse é um lugar que eu gosto muito de habitar. Amo meu trabalho, então, não tem nenhum sofrimento. Eu faço porque eu quero ganhar dinheiro, mas também porque me dá prazer”, conta.

Além de sua formação, as experiências que teve na carreira ajudaram Gilvana a se tornar a empreendedora que é hoje: cofundadora da MugShot, Punks S/A e Casablack. No audiovisual, passou pela área de produção de imagens e som, atuando em diversas frentes, desde a parte de orçamento, prospecção de clientes, relacionamento, até entender os tipos de conteúdo para cada perfil de cliente.

A executiva admite que os períodos de adaptação lhe davam insegurança, mas foram de extrema importância pois abriram portas, e isso fez com que ela conhecesse mais pessoas. “A Flávia Moraes (diretora de cinema), que na época era diretora na Film Planet, me convidou para ser atendimento. Ela via muito potencial em mim e foi aí que eu deslanchei, porque ela me deu repertório”, conta.

Depois de alguns anos, quando estava grávida de seu segundo filho, Gil entendeu que precisava diminuir um pouco o ritmo e se afastou da publicidade por cerca de um ano e meio. “Saí
do trabalho e fiquei vivendo a gravidez. Não queria voltar para a rotina de domingo a domingo”, lembra.

Foi aí que conheceu a produção de pessoas de som, em uma oportunidade que, depois, se transformaria em seu próprio empreendimento, a MugShot, fundada junto de Maurício Herszkowicz e Arthur Abrami. A empresa já conduziu trabalhos para Mano Brown, no podcast Mano a Mano, Laura Florence e Camila Moletta, no Job para Ontem, entre outros.

Além disso, lidera a Punk S/A, uma plataforma de licenciamento de música para artistas independentes, e a Casablack, essa em parceria com Alê Garcia, em que trabalha com produtos culturais para criar projetos de alto impacto e relevância. “A Casablack não é uma agência que trabalha apenas para pessoas e produtos pretos. Trabalhamos com cultura. Temos uma empresa que fala sobre o nosso propósito de cultura e mercado”, afirma.

Meio & Mensagem — Você trabalha no segmento musical e de produção. Como você enxerga a evolução desses mercados em questão de diversidade e inclusão?

Gilvana Viana — Quando comecei e era secretária no estúdio de fotografia, não me chamava atenção esse aspecto da diversidade. Eu não prestava atenção onde tinham mulheres pretas trabalhando na publicidade. Quando fui para o audiovisual e estava mais à frente da parte de prospecção, falando diretamente com as agências e criativos, percebi que não havia diversidade, nem de gênero e nem de raça. É lógico que eu me sentia intimidada. Lá, não tinham criativos pretos, mulheres pretas. Reconhecia essas mulheres em serviços como café, limpeza, ou na área de suporte, nunca na criatividade, na administração, ou na recepção. Me surpreendi absurdamente quando fui à agência Africa, há uns 20 anos, e as recepcionistas eram pretas. Foi só a partir daí que as agências começaram a ter pessoas negras, mas ainda assim, contava nos dedos das mãos quantos criativos negros existiam no mercado publicitário. Tinham dois homens e, muitas vezes, nenhuma mulher. Certa vez, pedi a uma pessoa um convite para uma dessas festas do mercado publicitário. Ela olhou para mim e falou: “Querida, não vai ter convite para você; é uma festa para pessoas que têm nome, têm marca, têm prestígio e você é de uma produtora de som e uma mulher preta”. Pensei que, realmente, sou uma mulher preta, mas quando ela falou que eram pessoas de nome, que tinham relevância, aquilo me chamou a atenção, porque estou trabalhando nesse mercado há anos, tenho relevância, tenho o meu valor, conheço as pessoas. Ela não me deu o convite, mas eu consegui.

M&M — Esse cenário mudou? Como essas questões têm sido tratadas agora?

Gilvana — Há uns três ou quatro anos eu fui para o Festival de Cannes e fiquei chocada porque vi muita diversidade em um lugar que costumeiramente não encontramos. Tinha gente do mundo inteiro, da África, da Polônia, com cabelos loiros, com roupas chamativas. Pensei: “uau, abriu-se um novo mundo”. Isso foi impulsionado depois da pandemia, especialmente depois da morte de George Floyd (cidadão afro-americano morto em Minneapolis em 2020, por um policial). O Brasil descobriu que era racista e que precisava mudar. As marcas começaram a contratar e formar as pessoas, mas ainda falta muito. Estamos muito longe do ideal. Na verdade, hoje em dia, voltamos a um retrocesso. Em 2025, as grandes corporações demitiram muitas pessoas, entre homens e mulheres pretas. E as mulheres são as que mais enfrentaram dificuldade em conseguir espaço, então, começou um movimento de empreendedorismo feminino, abrindo negócios para conseguir espaço.

M&M — Na bio do seu Linkedin, você escreve a frase “inspirando e criando oportunidades para profissionais negros e mulheres”. Quais mecanismos têm sido essenciais para aumentar a diversidade?

Gilvana – Dentro de minhas empresas é importantíssimo que se tenha diversidade. Quando começamos a produzir o podcast Mano a Mano, junto com o Mano Brown, o Spotify e a agência Gana, o Mano fez uma observação bem importante. Ele pediu que a equipe de produção do podcast fosse 100% composta por pessoas pretas, sendo a maioria mulheres. Então, como eu impulsiono, como crio oportunidades Contratando e treinando. Tenho participado de alguns projetos para potencializar jovens talentos e todas as vezes que eu posso me envolver em projetos culturais e sociais, que sejam voltados para potencializar a carreira de jovens talentos, eu faço.