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A inteligência artificial vai salvar ou matar a criatividade?

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Cannes

A inteligência artificial vai salvar ou matar a criatividade?

Eco Moliterno, CCO da Accenture Interactive para a América Latina, ajudou a responder essa pergunta em Cannes


20 de junho de 2018 - 16h01

Eco Moliterno foi do passado, quando os pintores eram os diretores de arte, até o futuro da atividade sob influência da inteligência artificial (Crédito: Eduardo Lopes)

 

Acompanhado por Alan Kelly (executive creative diretor), o brasileiro Eco Moliterno, chief creative officer da Accenture Interactive para a América Latina, liderou nesta quarta-feira, 20, um dos painéis do movimentado Interactive Stage.

O título sugestivo da discussão: “AI vai matar a criatividade / AI vai salvar a criatividade” foi reformulado por Alan numa questão: “A inteligência artificial vai matar o criativo, o redator e o diretor de criação?”. Os dois se revezaram nas respostas.

Para responder pelo diretor de criação, Eco recorreu à história para lembrar que há alguns séculos os pintores eram os diretores de arte que por algum tempo trabalhavam para retratar reis (e já atendendo a demandas especiais, como colocando alguns deles mais altos do que, de fato, eram, ou seja, melhorando sua imagem pública). Depois, as religiões também passaram a usar os pintores como publicitários – a cruz, é segundo ele, o primeiro logotipo criado. E passados dois mil anos, a tecnologia surge como um novo pincel aos pintores modernos. “Estamos indo para um tempo que as máquinas e as pessoas trabalharão juntos. Nos tornaremos super trabalhadores, super diretores de arte”, afirmou Eco. Ele reconhece que “de certa forma” alguns diretores de arte serão mortos pela inteligência artificial, mas um Picasso jamais será morto por uma máquina. Assim, defende Eco, devemos olhar exemplos como os desses artistas inquietos, que tentam muitas coisas e, ao contrário das máquinas, até cometem erros. “Nós seremos pagos para cometer erros”, disse.

“A inteligência artificial vai matar o redator?” questionou Alan. Para em seguida mostrar exemplos de que “por enquanto”, isso ainda está um pouquinho longe de acontecer, segundo testes atuais de textos produzidos por inteligência artificial. Citou o exemplo de um deles, em que se pediu para uma inteligência artificial passar a frase em inglês “the spirit is willing, but the flesh is weak” (algo como “o espírito tem disposição, mas a carne é fraca”) para o russo e, depois, voltar para o inglês, com o objetivo de captar se a máquina seria capaz de captar as nuances do idioma. O resultado que retornou foi: “the whiskey is strong, but he meat is rotten” (“o uísque é forte, mas a carne é estragada”). Mas Allan Kelly também mostrou cases feitos por “inteligências” humanas bem ruins para concluir que “Sim, AI matará os redatores, mas somente os que forem realmente ruins”.

Finalmente, sobre a possibilidade de a inteligência artificial eliminar os produtores, Eco lembrou que algoritmos podem ter previsto o sucesso de uma série como House of Cards, mas não como ela terminaria, após o protagonista Kevin Spacey ter sido demitido da Netflix após denúncias de assédio, o que fez a série ser interrompida. Assim, AI pode matar os produtores, mas somente os “preguiçosos”, que não preveem que coisas podem acontecer ao longo do caminho.

A conclusão da dupla sobre esses questionamentos, considerando a indústria como um todo, é que a inteligência artificial não vai substituir uma grande ideia, mas ajudar a melhorá-la. E – no fim das contas, dos algoritmos ou do que seja – a criatividade é a única coisa que vai prevenir que a inteligência artificial mate a criatividade.

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