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Comunicação

Combate ao assédio motiva ações de marcas e agências

Além de apresentar balanço do estudo “Hostilidade, silêncio e missão", apresentado há um ano, Grupo de Planejamento realizou debates sobre lideranças e movimentos de diversidade


22 de novembro de 2018 - 14h27

Em 15 de novembro de 2017, o Grupo de Planejamento (GP) apresentava pela primeira vez o estudo “Hostilidade, silêncio e missão: o retrato do assédio no mercado de comunicação de São Paulo”, responsável por dar visibilidade ao abuso de poder presente na indústria. Após passar por mais de 60 agências e mais de dez entidades e centros acadêmicos, Ana Cortat e Ken Fujioka, conselheiros da entidade, reuniram-se ao lado de profissionais do mercado na manhã desta quarta-feira, 22, no Unibes Cultural, em São Paulo, para apresentar um balanço sobre os impactos da pesquisa.

O evento, oferecido pela Fbiz, ainda contou com dois painéis sobre lideranças e movimentos de diversidade. Jonas Furtado, editor-chefe do Meio & Mensagem, Lia Dutra, gerente de marketing da Ambev, Pedro Reiss, CEO da Wunderman, Thais Fabris, fundadora da 65|10, André Chaves, conecto do Papel & Caneta, Vitor Abud, coordenador do Programa “Os Kennedys”, da Wieden+Kennedy, e Raphaella Martins, account manager da J. Walter Thompson, participaram da iniciativa.

A pesquisa ouviu mais de 1400 pessoas, entre homens e mulheres, que trabalham em empresas de comunicação, na região metropolitana de São Paulo. Realizada em forma de questionário online, de forma anônima, o estudo contou com apoio do instituto de pesquisa Qualibest. “Com a pesquisa, queríamos mostrar a gravidade que a questão do assédio tem e fazer algo que trouxesse o masculino e o feminino dentro de um mesmo movimento. Afinal, a discussão depende dos dois lados para ser resolvido”, diz Ana Cortat.

O estudo revelou que, entre as mulheres entrevistadas, 90% já sofreram algum tipo de assédio, seja moral ou sexual, e os homens, 76%.  Entre as respondentes, 51% foram assediadas sexualmente no ambiente de trabalho. Desse número, 39% dos casos envolveram contatos físicos. Além disso, para 89% das mulheres e 85% dos homens, o assédio moral nas agências e empresas de comunicação faz parte do cotidiano de trabalho.

Ken Fujioka aponta que o silêncio, no momento de denunciar um assédio, dá-se por conta falta de rede de apoio e da certeza de que não podem encontrar suporte em seus próprio líderes. Por exemplo, 33% das mulheres disseram que nunca encontraram apoio em outras mulheres em cargos de chefia.

 

Renata D’Avila, diretora-presidente do Grupo de Planejamento, Pedro Reiss, Lia Dutra e Jonas Furtado (crédito: Victória Navarro)

Confira o que alguns profissionais disseram no evento do Grupo de Planejamento:

Danielle Bibas, ‎Chief Brand Communication e Content Officer da Avon
“Entender o tamanho do problema que existe no Brasil. As agências e clientes fazem parte desse problema. Aqui e na minha equipe, como cliente, isso pode acontecer, porque vivemos um momento em que o trabalho pede uma nova ética. A maneira como as pessoas trabalharam nos anos 1980 e 1990 não é mais aceitável hoje. Então, eu trouxe o tema para dentro da Avon. A gente fez uma apresentação. Eu convidei a equipe de marketing. Nós conversamos sobre o assunto, falamos sobre prazo, o relacionamento das pessoas com as agências, para que a assim a gente pudesse repensar os prazos. Todo mundo passa por urgência de trabalho, há época em que tudo está uma loucura e outra em que está menos. Mas, quando as urgências de trabalho, acontecem 52 semanas do ano, isso fica insustentável no ponto de vista saudável”.

Lia Dutra, gerente de marketing da Ambev
“No quesito de assédio moral, tem medidas que tomamos há um pouco tempo antes da pesquisa ser divulgada. Tem uma série de iniciativas que desenvolvemos para treinar nossas equipes. Nós temos muitas marcas e produzimos um volume de campanhas muito alto, então, trabalhamos diariamente com prazo e tempo que as pessoas se dedicam ao job. Lá, nós entendemos que tem uma período de seis a sete meses de trabalho, se queremos cumprir um calendário para as campanhas que precisamos desenvolver. Além disso, desenvolvemos um treinamento como um focado em ansiedade tóxica, afinal, somos todos seres humanos e precisamos passar questões como essa para frente e identificar os principais ativos de ansiedade, para que elas não transpassem nas relações”.

Pedro Reiss, CEO da Wunderman
“Quando falamos de assédio, há duas coisas que podem ser feitas. Uma é olhar para trás e responsabilizar as pessoas que fizeram coisas erradas e outra que é olhar para frente, para sermos melhor no futuro. Acho que sempre vão existir as pessoas que cometem os atos, se você tem um sistema que permite que isso aconteça. Mas, o combate não acontecerá de forma afetiva ao apontar os dedos. Cada um de nós deve olhar para o seu pedaço e não aceitar que a equipe da agência seja mal tratada”.

Thais Fabris (65|10)
“Desde que eu comecei a 65|10, viramos meio que um SAC feminista do mercado publicitário. Isso antes de existir a pesquisa e o Grupo de Planejamento virar esse SAC. As mulheres vinham recorrer para nós, quando acontecia uma situação de assédio. É muita gente e o estudo reuniu muitas histórias, fora as histórias que eu passei na minha vida profissional. Mas, deu um choque na hora de ver os números”.

*Crédito da foto no topo: RawPixel/Pexels

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