Três anos depois, mulheres são 26% na criação
Em 2015, índice era de 20% entre as 30 maiores agências do País segundo pesquisa de Meio & Mensagem; mercado se empenha em preencher cargos de diretoria
Três anos depois, mulheres são 26% na criação
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BuscarEm 2015, índice era de 20% entre as 30 maiores agências do País segundo pesquisa de Meio & Mensagem; mercado se empenha em preencher cargos de diretoria
Por Alexandre Zaghi Lemos e Isabella Lessa
Ainda que lentamente, cresceu o número de mulheres nas áreas de criação das grandes agências brasileiras. Mesmo assim, a ala feminina corresponde somente a 26% do total de profissionais da área, considerando vice-presidentes, diretores de criação, redatores e diretores de arte.
Há três anos, mais precisamente em dezembro de 2015, Meio & Mensagem realizou um levantamento junto a 30 agências listadas entre as maiores do País e contabilizou que as mulheres compunham menos de 20% dos departamentos criativos.
Entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019, a reportagem fez uma nova checagem com 31 das maiores agências do País segundo o ranking da Kantar Ibope Media de compra de mídia, consolidado de janeiro a novembro de 2018 – algumas consultadas não enviaram informações, mas as citadas abaixo estão entre as 40 primeiras do ranking. Nas agências ouvidas são 1.544 criativos, sendo 409 mulheres.
Além da maior presença de criativas nas agências, de 20% para 26%, existem outros avanços em curso. No final de 2015, havia quatro agências com mais de 30% de mulheres na criação; agora são dez: BETC/Havas, Escala, Fbiz, FBC, Grey, J. Walter Thompson, Multi Solution, Ogilvy, REF+ e SunsetDDB.
Nas funções de liderança, a presença de mulheres era de 6% em dezembro de 2015; agora subiu para 14%. As 30 empresas ouvidas informaram haver 180 profissionais de criação em funções de liderança, de presidentes, vice-presidentes ou diretores da área. Deste total, apenas 26 são mulheres (no fim de 2015, eram 11 mulheres em funções diretivas).
Mas algo permanece exatamente igual: a única agência entre as grandes que tem mulher no comando da criação continua sendo a FCB, com a CCO Joanna Monteiro. Outras líderes criativas em atuação nas maiores agências do País são as diretoras executivas Andrea Siqueira (BETC/Havas), Mariangela Silvani (Grey) e Sophie Schonburg (Africa). Há ainda as diretoras de criação Maria Carolina Velloso, Sibely Silveira e Marilu Rodrigues, na Africa; Keka Morelle e Luciana Haguiara, na AlmapBBDO; Alessandra Sadock e Daniela Ribeiro, na Artplan Rio; Laura Azevedo, na BETC/Havas; Denise Gallo, na DPZ&T; Renata Leão, na J. Walter Thompson; Geisa Lopes, na Lew’Lara\TBWA; Célia Alves, no escritório de Cuiabá da Nova/SB; Elisa Gorgatti e Marie Julie Gerbauld, na Publicis; Ana Castelo Branco e Marília Rollemberg, na SunsetDDB; Mariana Borga, na W+K; e Laura Esteves, na Y&R. E, com status de direção de criação, as diretoras de conteúdo Andreza Aguiar (Leo Burnett Tailor Made), Carol Teixeira (Escala), Fernanda Fontes (Fbiz) e Mariana Manso (SunsetDDB). Na nova SunsetDDB, fruto da incorporação da DM9DDB pela Sunset, há ainda a diretora de social media Inaiara Florêncio. Confira no quadro o total de profissionais atuantes na criação de cada agência ouvida, e quantos deles são mulheres, segundo informações fornecidas por cada uma das empresas citadas:
Incentivo e mais exemplos
Como mencionado na pesquisa, houve melhora na presença de criativas na liderança, de 6% para 14%. Cientes de que o índice está longe do ideal, profissionais e agências têm se mobilizado para formar criativas em estágio inicial de carreira, assim como promover mulheres a cargos diretivos.
O More Grls, fundado há cerca de um ano por Camila Moletta e Laura Florence, diretora executiva de criação da Havas Health & You, nasceu para facilitar a busca das agências por talentos femininos na área de criação. Hoje, a página reúne portfólios de mais de 3 mil profissionais e, além disso, ressalta a importância de o mercado concentrar esforços na área de criação para que, de fato, haja diversidade tanto internamente, quanto no produto final, a propaganda. No Facebook, organizado pelas próprias publicitárias, há o Mad Women, grupo de discussão e divulgação de vagas.
Para Renata Leão, diretora de criação da J. Walter Thompson, além do viés inconsciente que ainda faz com que homens contratem homens, muitas vezes há pouco tempo para preencher a vaga e, portanto, os responsáveis pelas áreas acabam não considerando a questão do gênero. “Vejo um movimento masculino para que vagas de liderança sejam preenchidas por mulheres, mas isso não acontece da maneira que deve acontecer por várias questões. O número de mulheres está aumentando, mas é preciso dar tempo para essas mulheres pegarem jobs maiores e irem se desenvolvendo”, afirma.
Mesmo com os esforços para contratar mais mulheres, algumas agências, como a Publicis, ainda encontraram dificuldades em recrutar mulheres. Para entender por que havia uma oferta de talento desproporcional, o CCO Domenico Massareto e parte da equipe fizeram uma pesquisa em diversas universidades que oferecem cursos de comunicação. E o que foi constatado pela agência é que desde a faculdade as estudantes de publicidade são desencorajadas a atuarem na criação. Seja pelo discurso dos próprios professores, que sustentam estereótipos de que mulheres não aguentam o ritmo necessário para se trabalhar em uma área tão dinâmica quanto a de criação, seja pela falta de exemplos na indústria.
“Todo curso de comunicação tem agência júnior e a gente percebeu em varias instituições que os alunos replicavam o que viam quando visitavam as agências. Ou seja, na criação não tinha mulher”, conta Domenico. Em março do ano passado, a Publicis deu início ao programa de capacitação para criativas, o Entre. Foram aulas quinzenais ministradas de abril a agosto para estudantes de publicidade abordando de redação publicitária a conversas sobre a carreira criativa em si. Ao final do curso, a Publicis contratou cinco alunas e outras onze foram admitidas em outras agências.
As agências e empresas de outros segmentos estão cada vez mais preocupadas em terem ambientes mais humanizados, onde o bem-estar seja garantido e a hostilidade, combatida. Na opinião de Sophie Schonburg, diretora de criação da Africa, o fato de a discussão estar acontecendo em 2019 é sinal de que “falta muito chão”. “Cada vez mais recebo pedidos de ajuda de diretores de criação querendo indicações de redatoras para contratar. O importante disso é ver que as agências estão se mexendo para aumentar o quadro de mulheres na criação, independente de qual razão elas tenham. O ponto que ainda temos que dar muita atenção é que essa lista de nomes de mulheres ainda é pequena. Caminhamos a passos curtos, mas caminhamos. O esforço tem que vir de todos os lados. Das lideranças, dos RHs, dos grupos de mulheres que ajudam a promover o talento uma da outra, de todos nós profissionais”, pontua.
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