Luiz Sanches: “Hora de repensar como produzir conteúdo”
CCO e chairman da AlmapBBDO diz que trabalhos feitos à distância vão vir diferentes, mas a possibilidade de adaptar ideias deve ser valorizada
Luiz Sanches: “Hora de repensar como produzir conteúdo”
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Isabella Lessa
20 de março de 2020 - 6h00
Na semana passada, na quinta-feira de 12 de março, a AlmapBBDO teve o primeiro caso de pessoa infectada pela Covid-19. Nas horas que se seguiram, a agência adotou uma série de medidas, da higienização do escritório ao afastamento de todos os funcionários do local. E, então, os líderes de cada área se reuniram para orquestrar o plano de como seria o fluxo da operação remota da equipe e da troca de informações com os clientes. De acordo com Luiz Sanches, CCO, chairman e sócio da Almap, o desafio imposto, sem exceção, às empresas de todos os segmentos, foi, particularmente para as agências, uma prova de como podem ser capazes de entregar soluções rápidas aos clientes:
Meio & Mensagem – Como as agências podem garantir eficiência aos clientes sob condições atípicas?
Luiz Sanches – É o momento de usar a criatividade, a profundidade em dados, para desenvolver ideias. É o momento para a propaganda se ressignificar por meio desse novo processo de trabalho. Particularmente, eu trabalho de forma metódica: faço ligações constantes com os diretores de criação, com nossos clientes. Usamos muito o Whatsapp e reduzimos o número de interlocutores para que não tenha desentendimento, para que a informação chegue de forma rápida. Outra coisa que conversei muito com time é sobre a criatividade como uma forma de mensagem, daquilo que vamos dizer. É um momento ruim para o negócio: como podemos usar materiais que a gente tem para criar mensagens que possam ser interessantes para o cliente? Porque agora as pessoas vão consumir mais conteúdo do que nunca. É o momento de repensar a forma de se produzir conteúdo, a forma de a gente trabalhar, em sermos mais diretos. Não é uma experiência positiva, porém, em toda crise há oportunidade.
M&M – Como fica a atuação de duplas, trios e grupos que normalmente trabalham de forma presencial?
Sanches – Trabalhamos com gente, então o contato entre pessoas produz um trabalho diferenciado. A mistura de pessoas com diferenças e diversidade é o segredo do nosso negócio. Para que se crie uma coisa única. O contato pessoal entre pessoas e saudável e insubstituível, aquele olhar de empolgação que você dá a outra pessoa, faz com que ela queira impressionar e superar limites. Ter pessoas em locais diferentes, mesmo que a tecnologia permita contato por vídeo e telefone, não substitui o presencial. Se fosse assim, não precisaria fazer viagens de negócio. Neste momento, quero dizer que existe adequação. Como uma música que você gosta e é preciso tocá-la de um outro jeito. Somos criativos, independentemente da plataforma. À distância, em tempos diferentes, os trabalhos vão vir diferentes. Não piores, mas diferentes. Inclusive no processo de confeccionar. Não pode abrir câmera na cidade, mas a criatividade bota a gente com diferencial competitivo em relação a outros setores, pois ideias podem ser adaptadas.
M&M – Você será presidente de júri no Festival de Cannes, que acabou de ser postergado para outubro. Haverá desistência nas inscrições? Como ficará o processo de julgamento de peças?
Sanches – Aconteceu tudo muito rápido: o festival queria comunicar em abril a mudança para outubro. Mas acho que é saudável, não tem cabimento acontecer em junho. Os festivais têm de ser presenciais faz com que a gente veja. Eu apoio qualquer mudança de qualquer festival em termos de datas. No Festival de Cannes, a condição é de seja feita discussão presencial entre os jurados, porque sem isso não faz sentido ter Cannes.
M&M – Como vislumbra o impacto nos negócios dos clientes e das agências daqui para frente?
Sanches – Todos os segmentos de alguma forma serão impactados. As pessoas estão mudando seus hábitos. Isso vai impactar o pequeno e o médio negócio. Nós, do setor de comunicação, vamos sair mais fortalecidos. O valor que temos, somos responsáveis por passar a mensagem. Nosso negócio de comunicação vai sair mais fortalecido em plataformas que hoje são commodity, em plataformas de tecnologia.
*Crédito da imagem no topo: iStock
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