Cérebros ou bundas: o que você quer contratar?
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Rodrigo Leao
22 de abril de 2012 - 9h17
Outro dia, a minha agência foi desclassificada de uma concorrência por falta de bundas. Ganhar ou perder concorrências faz parte do nosso negócio e as afinidades que levam um cliente a escolher uma ou outra agência são insondáveis por isso não ficamos tristes pela desclassificação. Ficamos chateados mesmo foi com o critério utilizado.
"Quantos funcionários tem a agência?", é como veio escrita a pergunta no formulário da concorrência. O que ela queria dizer era: só faremos negócios com vocês caso vocês já tenham um número suficiente de bundas amarradas em cadeiras (nome científico: gluteus maximus trancafiadus). Vale lembrar que, salvo raras exceções, na grande maioria das agências o trabalho é realizado principalmente com outra parte do corpo, o cérebro, que por sua vez, mesmo não estando presente no local de labuta pode ser acionado através de uma rede mundial de computadores chamada Internet — Duh! . Então, que diferença poderia fazer, nos dias de hoje, a quantidade de bundas que oferece um prestador de serviços ao seu cliente? Pra esse pessoal, fazia muita.
Me parece que um cliente interessado em bundas não entende de negócios. Afinal, se entendesse saberia que no ramo de serviços mão-de-obra é um dos custos mais altos. Uma boa agência terá sempre o tamanho exato da demanda de seus clientes e só crescerá junto com o aumento da demanda. Uma agência com excesso de pessoal vai cobrar mais caro de seus clientes sem necessariamente entregar mais. É como presumir que um escritório de advogados com 400 advogados vai livrar a sua barra melhor do que um que tenha apenas 10 chefiado pelo Dr. Márcio Thomaz Bastos. Ingenuidade.
Com apenas 8 bundas, ou 16 nádegas (se você for do financeiro), já tivemos anúncios, outdoors e filmes veiculados em mais 30 países. Acabamos de fazer uma campanha de mídia local na cidade de Nova York com o maior sucesso pra lançar a flagship Galeria Melissa nos Estados Unidos. Trabalhamos para grandes empresas multinacionais como a Grendene, a Kraft e Viacom. A questão é que usamos mais de 100 cérebros pra isso tudo, mas apenas 8 bundas.
Olhando o mundo pela perspectiva do traseiro não dá pra medir a eficiência de negócios do século XXI. É preciso considerar que existimos num mundo com a Internet conectando múltiplos e talentosos cérebros via arquivos de texto, imagem áudio e vídeo. Esta é a era do networking e netweaving para aqueles que gostam de um bom jargão.
Julgar a qualidade de uma agência criativa pelo número de funcionários que tem é como achar que o motor de 1000 cilindradas de uma moto Yamaha R1, que produze 180 cavalos de força é a mesma coisa que o motor de 1000 cilindradas do Uno Mille, que produz 48 cavalos de força. Falta de conhecimento.
Segundo conversas que andei tendo com colegas empresários da comunicação, descobri que existe um número mínimo de 25 popôs cravados nas Giroflex para que uma agência seja levada a sério pelo mercado. Um dos colegas com quem falei, inclusive, está pagando o investimento inicial da agência há mais de 5 anos. Seu raciocínio estava certo, a agência prosperou diante do tradicionalismo do mercado. Mas será que não teria sido melhor se ele pudesse investir esse dinheiro em atender melhor os seus clientes do que pagar juros ao banco para tranquilizá-los de que há gente suficiente para atendê-los?
Morro de rir toda vez que me lembro da história que o Francesc Petit, da DPZ me contava quando eu tive a felicidade de trabalhar com ele. Diz que uma vez uma repórter perguntou pra ele: "Sr. Petit, quantas pessoa trabalham na DPZ hoje em dia?" Ele parou, pensou e mandou: "Ah, no máximo uns 20%."
Acredito que o futuro das agências é ter no escritório apenas os 20% de funcionários fixos sem os quais o negócio não vive. E ter os outros 80% em hub, com cérebros conectados e retaguardas globalizadas por aí. A capacidade de pessoas e empresas de se conectar umas com as outras é que fará a diferença nos negócios dos próximos anos. É uma vantagem competitiva importante.
Isso vale pra agências com 10 ou 1000 funcionários. Gerir mal nosso negócio para atender inseguranças sem fundamento não parece boa governança. Mesmo que isso funcione no curto prazo, os resultados para ambas as partes serão sempre negativos no fim das contas. Utilizar esse tipo de critério para selecionar uma agência ou sucumbir à pressão de inchar se negócio para agradar seus clientes são práticas correntes no mercado. Resta saber com que parte do corpo queremos atuar.
Rodrigo Leão é sócio e diretor de criação da Casa Darwin.
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