Assinar

O valor do erro

Buscar
Publicidade
Ponto de vista

O valor do erro


21 de novembro de 2013 - 11h39

Provavelmente o erro está muito mais presente nas nossas vidas do que o acerto. Ou, melhor dizendo, na vida de quem precisa ou deveria buscar o novo constantemente. 
wraps
Existe um estudo de Stanford que afirma que são necessárias 5 mil tentativas de inovação para que uma dê certo.

Então, para que coisas novas venham à tona, se faz extremamente necessário errar, estaticamente falando. E, nesse quesito, os norte-americanos gostam e até incentivam bastante a prática do erro e, é claro, uma discussão sobre ele. Vide as marcas que destinam um budget considerável para isso, oposto do que normalmente acontece por aqui, onde o erro tende a ser logo julgado e culpado, seja lá de qual linhagem ele for. TALVEZ, um resquício da forma como fomos colonizados, catequizados, educados, no melhor estilo "errou, tomou".

Se errar é importante dentro da nossa esfera de trabalho, por que será que pouquíssimas vezes ele vira assunto e tema de discussões acaloradas nas mais diversas rodas de marqueteiros, publicitários e homens de negócio; ou alguém já ouviu falar de um “Fórum de Business, Comunicação ou Marketing sobre o Erro”?

Afinal, qual é o ego do VP, Diretor e até do Garoto Prodígio que gosta de assumir e falar que "errou feio, errou rude"? Oxalá o livre então de dissecar sobre o tema.

O erro incomoda tanto, mas tanto, que, para não falar sobre ele, já foram inventadas algumas "adequações politicamente corretas do termo": a palavra "problema" foi substituída por OPORTUNIDADE, "consertar falhas" virou DESAFIO, "copiar o concorrente porque fez errado", ENGENHARIA REVERSA, o "resultado não foi o esperado" virou A PESQUISA HAVIA APONTADO, e por aí vai.
Vale qualquer coisa para não mencionar que algo está errado.

Como o desprivilegiado do erro quase nunca tem vez e fica restrito a ser pauta de folhetim do botequim da esquina, gostaria de trazer um ponto de vista sobre o assunto. Fique à vontade para me dizer que está errado.

Acredito que existem dois tipos de erro: o primeiro, mais comum, mais banal, é o erro da mediocridade, na origem da palavra de mediano; e o outro, cada vez mais escasso, quase em extinção, é o erro da ousadia, daquele que pode virar um IPOD ou um bip PAGER.

Embora sejam filhos do mesmo pai, eles possuem diferenças abismais entre si. O primeiro nasce do medo, da preguiça, da falta de vontade, de fazer só o combinado, do vamos copiar a concorrência para garantir. Ele tem a ver com seguir a pesquisa como bíblia, de se fechar no gosto pessoal do próprio nariz, do executar o alinhamento global sem questionar, do famoso "bora tirar isso logo da frente", ou do casual, fazer diferente vai dar muito trabalho, deixa isso pra lá.

Como disse Jobs:
"Você pode encarar um erro como uma besteira a ser esquecida ou como um resultado que aponta uma nova direção", e olha que ele errou.

Esse é o Erro da mediocridade, que, de tão insosso, não é nem capaz de apontar uma nova direção. É o tipo previsível, que quer garantir o bônus de fim de ano e nada mais, o fee, o relacionamento de negócio ante o de quem compra. É o erro "bem calçado", politicamente correto, que utiliza a pesquisa como muleta. O erro que não incomoda ninguém.

O resultado é aquela enxurrada de produtos similares, brigando de forma parecida, pasteurizando tudo o que se vê na TV e no PDV. Escolher um lado sem medo de errar virou ato heroico, porque o importante mesmo é ficar na média, errar na média, chegar na média.

Por onde andam as estratégias a la Harley Davidson?

O erro da mediocridade está dominando o mundo dos negócios, permeando quase tudo que é plano hipervalorizado de marketing e sendo escoado nos mais diversos meios e formas de comunicação.

Uma prova concreta da supremacia do erro da mediocridade são os balanços empresariais que apontam que o LUCRO vem advindo muito mais da eficiência operacional, fazer mais do mesmo até alcançar excelência, do que propriamente da inovação em produtos e comunicação, o que não é errado, mas é um recurso finito.

A busca pela otimização, da cópia de modelos de negócios e de padrões de comunicação são só alguns dos reflexos do tamanho da falta do outro tipo de erro, o que o benchmarking não encontra e que a Fast Company ainda desconhece.

É o erro enaltecido por Einstein quando disse:
"Quem nunca errou nunca experimentou nada novo."

Ou ainda por Henry Ford, quando diz que:
"Até um erro pode revelar-se um elemento necessário a um feito meritório."

Esse é o Erro da Ousadia. O erro capaz de apontar algo novo, de tirar da zona de conforto, de ter a insanidade de propor uma revisão do status quo. É o erro de gente que tentou fazer algo novo, e errou para depois acertar; é o Google Wave, o MD, o HD DVD, o Palm Top, o Lisa, é o Steve Sasson e o seu trambolho da Kodak que fotografava digital e que nenhum executivo acreditou na ideia.

É o erro capaz de descobrir e abrir portas desconhecidas, refrescar olhares de mercados engessados, incomodar a concorrência, acordar consumidores, crescer acima da média do mercado e de provocar algum tipo de reação.

É o erro de quem acertou gigante: é a Starbucks não vender só o café, e a 3M e a sua cultura de remunerar o erro, a Ikea e o seus móveis temporários, o DOM, o Porta dos Fundos, a C&A e sua coleção de estilistas para classe C, a Baccio de Latte e a sua proposta de preços honestos para sorvetes premium, é lançar um fato inédito em vez de uma campanha – #XuxaMorena, é Pepsi "Pode ser ?", é a Nissan e a sua estratégia de comparar, de provocar o confronto e ganhar 4% de share. Foi a Oi e a sua bandeira do desbloqueio, do sem multa e que posteriormente foi copiada por toda a concorrência.

Mas, no geral, a conta está insossa, pasteurizada, massificada, chata pra cacete.

Tem pouca gente ganhando e muita otimizando.

Tem gente demais buscando o erro da mediocridade e passando longe do da ousadia.

No final, tudo é produzido por gente, e gente erra e vai errar de novo Só precisamos estar certos de que estamos buscando e inspirando muito mais vezes o Erro da Ousadia ao invés do outro.

O Erro da Ousadia é aquele que, a princípio, parece estar errado. 

Thiago Nascimento é diretor de planejamento da NewStyle

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • Britânia promove espetáculo natalino ao som de Air Fryers

    Britânia promove espetáculo natalino ao som de Air Fryers

    Iniciativa foi desenvolvida pela Calia Y2 Propaganda e Marketing e conta com a presença do maestro João Carlos Martins

  • Campanhas da Semana: verão, festas e presentes

    Campanhas da Semana: verão, festas e presentes

    Intimus reforça importância do conforto no Verão, enquanto McDonald’s e Multishow apostam em música para se conectar com o público