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Sandy na Playboy: é possível ter prazer com propaganda?

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Ponto de vista

Sandy na Playboy: é possível ter prazer com propaganda?


11 de agosto de 2011 - 8h50

A mais recente edição da revista Playboy deveria ter como destaque a nudez da bela apresentadora Adriane Galisteu, fotografada com requinte na costa italiana. Mas não foi isso que aconteceu. Uma pequena frase da cantora Sandy mobilizou a imaginação do Brasil em discussões intermináveis. E ninguém comentou a nudez da Galisteu. Foi como se um pequeno anúncio all type tivesse vencido o Grand Prix de Press em Cannes.

Você que é novo em propaganda nem deve saber o que é um anúncio all type — aquele tipo de anúncio que só tem letras. Não tem uma foto incrível de uma coisa que parece outra coisa; não tem uma analogia visual feita em computação 3D; não tem um cenário totalmente anacrônico e possível somente no photoshop; não tem um tag pra você fotografar com seu celular e concorrer a mais um pra-que-isso qualquer; não tem nada pra se olhar a não ser a tipologia. Saco, diria você. Mas é isso. O anúncio all type é a ideia vendedora na sua forma mais simples e espartana apresentada com síntese e fúria suficientes para acordar o leitor do torpor da mesmice editorial.

“É possível ter prazer anal” foi a frase que a Playboy delegou a Sandy e que ofuscou as fotos de appetite appeal da Galisteu. Foi o maior bafafá no Twitter e nas mesas de bar. Não houve redator júnior metido a engraçado no Brasil que não tenha formulado pelo menos uma piada com o assunto. Só que esse all type era fantasma.

A Playboy, outrora conhecida por seu excelente jornalismo e mulheres peladas idem, escorregou no quiabo geral. A entrevista na íntegra revela a má intenção dos editores. Ó só:

Playboy – Dizem que as mulheres não gostam de sexo anal. Você concorda com isso?

Sandy – Então… Não tem como não responder isso sem entrar numa questão pessoal. Mas, falando de uma forma geral, eu acho que é possível ter prazer anal. Sim, porque é fisiológico. Não é todo mundo. Deve ser a minoria que gosta.

Ou seja: Se a pergunta fosse “Dizem que os Serial Killers tem prazer sexual ao matar alguém. Você concorda com isso?” E a Sandy respondesse de forma similar, era bem capaz de lermos: Sandy alega que é possível ter prazer sexual com homicídio.

Além de economizar na qualidade jornalística, o pessoal da Playboy fez o pior tipo de propaganda. Apostaram tudo num atributo que o produto não oferecia, ofuscaram o seu feature principal (onde investiram pesado tanto em passagens pra Itália quanto em horas de photoshop) e terminaram a campanha perdendo seu principal valor estratégico de marca: a credibilidade.

Numa estratégia desesperada, Galisteu tentou pegar carona na polêmica, afirmando em entrevistas que a Sandy era legal por assumir seu apreço por receber o delivery pela entrada de serviço. Não deve ter lido a íntegra da entrevista pra falar uma coisa dessas. Mas aí ninguém mais tava prestando atenção porque o rating dos EUA caiu de AAA pra AA+, a bolsa caiu 8% num só dia e quem teve o tal prazer polêmico foi o Eike Batista que perdeu 27 bilhões numa só tacada.

Rodrigo Leão é sócio e diretor de criação da Casa Darwin

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