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Tempo de anacronismos

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Ponto de vista

Tempo de anacronismos


8 de novembro de 2011 - 9h45

Eles atacam com paus e pedras, como salteadores medievais ou esfaimados saqueando um mercado. Escondem o rosto feito traficantes de drogas e criminosos rebelados nas prisões. Mas são jovens universitários privilegiados da USP, a fina flor da elite brasileira, selecionados pela sociedade entre milhares de candidatos para estudar às custas do dinheiro publico na melhor escola do país.

Alguma coisa parece fora de lugar na invasão da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, e em seguida da reitoria da universidade, por um ínfima minoria de “estudantes”, entre os mais de 50 mil alunos da instituição, em protesto contra a presença da polícia no campus e pelo direito de viver num território livre, imune às leis que regem o restante dos brasileiros.
Talvez seja a estranheza de ver a simbólica "Fefelech" – reduto histórico das lutas contra a ditadura e supostamente uma das vanguardas do pensamento nacional – transformada em bastião da militância pela prerrogativa de fumar maconha. Ou, quem sabe, o paradoxo da imagem de jovens vestidos com roupas e tênis de grife defendendo posições anarquistas e radicalismos incongruentes, como o tal “ Movimento da Negação da Negação", seja lá o que isto quer dizer.

Porém, o mais intrigante é o acachapante anacronismo deste tipo de protesto, primitivo e raivoso, num ambiente de inquestionável democracia, que abre espaço para a manifestação pacífica de todas as correntes políticas. É legítimo deduzir que esta turma andou cabulando aulas de história, pois não parece se dar conta de quanto o país avançou nos últimos 25 anos, desde a redemocratização, a ponto de termos eleito para a presidência uma ex-presa política sobrevivente da tortura.
 

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Esta ultra-minoria, que se recusa a respeitar até mesmo a vontade dos seus pares, já que uma assembléia votou majoritariamente pelo fim da ocupação, talvez não seja assim tão jovem. Afinal, jovens tendem inerentemente ao idealismo. Em todas as épocas, costumam estar em sintonia com as aspirações de mudança de seu tempo, capturam o chamado zeitgeist e projetam visões de futuro. Já o pessoal que brinca de revolução na USP se assemelha a crianças, que esperneiam, quando contrariados, por não saber dialogar. Ou, pior: velhos ranzinzas paralisados no tempo, brandindo armas contra inimigos imaginários e fantasmas do passado.

Vivemos um tempo de anacronismos, em que tudo parece obsoleto, em descompasso com novas realidades – nos mercados, nas empresas, nos governos, na comunicação e no marketing. Tempo em que as coisas mudam tão rapidamente que o velho e o novo convivem simultaneamente. E a própria democracia representativa expõe suas limitações, aqui e lá fora, embora ainda não se tenha descoberto um sistema melhor. Neste sentido, o patético espetáculo dos retardatários da USP nos faz pensar em quanto podemos,como profissionais, estar fora de sincronia em nossas próprias searas. É como se o mundo por inteiro clamasse por ser reinventado. Pena que não se possa contar com alguns estudantes da nossa melhor universidade para ajudar a construir este novo.
 

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