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Recommerce: o papel de marcas e consumidores na moda circular

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Evento ProXXIma

Recommerce: o papel de marcas e consumidores na moda circular

Porta-vozes do Enjoei e da Fashion Revolution Brasil falam sobre os desafios e caminhos do tema no Brasil


11 de junho de 2025 - 6h45

Recommerce

Ana Luiza McLaren, vice-presidente executiva da Enjoei, Fernanda Simon, diretora executiva da Fashion Revolution Brasil e Caio Fulgêncio, repórter de Meio & Mensagem (Crédito: Eduardo Lopes/Máquina da Foto)

O painel “Recommerce: sustentabilidade e geração de negócios”, com a participação de Ana Luiza McLaren, vice-presidente executiva da Enjoei e Fernanda Simon, diretora executiva da Fashion Revolution Brasil, moderado por Caio Fulgêncio, repórter de Meio & Mensagem, destacou no Proxxima 2025 os principais desafios sobre a moda circular, a construção da confiança e educação do consumidor e a responsabilidade das marcas sobre o tema. 

Ana Luiza compartilhou que o Enjoei nasceu em 2009 como um blog despretensioso, impulsionado pelo desejo de criar algo mais interessante e criativo do que os modelos tradicionais da época.

Com o tempo, a proposta se transformou e consolidou-se como plataforma de recommerce, dando espaço para que os próprios usuários participassem ativamente do processo de venda e compra.

“A gente começou pequeno, sem pretensão, e cresceu porque as pessoas queriam algo diferente. Vencemos o preconceito contra o usado não falando diretamente sobre isso, mas apostando na estética, no humor e na comunidade”, explicou.

A confiança, segundo Ana, foi construída ao longo de 15 anos, com foco na experiência do usuário: boas fotos, boa luz, cuidado visual e afeto ao contar a história das peças.

Esse cuidado se refletiu em uma base fiel de usuários que valorizam marcas e coleções antigas e contemporâneas, reconhecendo o valor afetivo e simbólico das roupas. “Um fala pro outro, e isso gera credibilidade”, disse.

O que é o conceito circular?

Já Fernanda Simon trouxe uma visão crítica e urgente sobre o conceito de moda circular.

Para ela, só falamos de circularidade hoje porque estamos diante de uma indústria da moda essencialmente linear e predatória, que ignora os impactos dos processos desde a matéria-prima até o descarte.

“A maior parte das roupas é feita a partir de petróleo e combustíveis fósseis. A lógica atual é do excesso, e o fast fashion se tornou ultra fast fashion, com processos cada vez mais opacos e distantes”, alertou.

Ela apontou também que muitas iniciativas chamadas de “circulares” não têm um propósito real, sendo apenas adaptações de marketing para um sistema que continua baseado na produção desenfreada.

“Não se trata apenas de revenda, mas de repensar toda a cadeia: produção, distribuição, consumo e descarte. Precisamos de soluções integradas, que envolvam o setor público, o terceiro setor e mais pesquisa.”

Nesse ponto, Ana complementou dizendo que, apesar de muitos não entenderem o tempo e os recursos necessários para a produção de uma única peça, leis e políticas públicas podem ajudar a transformar a percepção coletiva.

“As pessoas não vão deixar de comprar fast fashion sozinhas — é difícil visualizar o que está do outro lado da cadeia. Precisamos de regulação”, afirmou.

Tanto Ana quanto Fernanda defenderam a importância de informação acessível, concreta e transparente, que ajude o público a entender os impactos das escolhas de consumo.

“Remendar uma roupa é bom senso e também tecnologia ancestral. A gente precisa recuperar isso como um valor”, disse Fernanda, lembrando ainda das conexões entre o algodão, o desmatamento do cerrado, o uso de agrotóxicos e a grilagem de terras — impactos ambientais e sociais muitas vezes invisíveis para quem consome.

Participação das marcas é fundamental para a transformação do setor

Questionadas sobre o papel das marcas nesse processo, ambas reforçaram que é necessário que as empresas assumam responsabilidade por suas cadeias produtivas, com metas efetivas, apoio a projetos sociais e combate ao greenwashing, ou seja, à prática enganosa em que empresas tentam aparentar uma postura sustentável ou ambientalmente responsável que não condiz com a realidade.

“A mudança é sistêmica, e precisamos da participação de todos”, reforçou Fernanda. Ana também apontou o paradoxo entre sustentabilidade e crescimento: “As empresas precisam crescer, vender mais, produzir mais. Isso é estrutural. A mudança real passa por educação e por políticas que regulem esse modelo.”

O futuro, para Fernanda, é desafiador, mas há iniciativas positivas sendo construídas — e o importante é que elas recebam apoio e visibilidade.

“Estamos diante de uma emergência climática. O comprometimento precisa ser maior e coletivo”, conclui.

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