A potência do funk como negócio e fenômeno cultural
Rodrigo Oliveira, fundador da GR6, contou como começou sua carreira no funk e como esse gênero musical transbordou as fronteiras do Brasil, tornando-se uma potência de negócios
A potência do funk como negócio e fenômeno cultural
BuscarRodrigo Oliveira, fundador da GR6, contou como começou sua carreira no funk e como esse gênero musical transbordou as fronteiras do Brasil, tornando-se uma potência de negócios
Amanda Schnaider
12 de junho de 2025 - 11h39
Rodrigo Oliveira, fundador da GR6, um dos maiores estúdios de música da América Latina (Crédito: Eduardo Lopes/Máquina da foto)
A trajetória de um dos maiores empresários de funk do Brasil na atualidade, fundador da GR6, empresa que gerencia artistas, Rodrigo Oliveira, na música, na verdade, começou no pagode. Ele mudou de Recife para São Paulo aos oito anos, onde após alguns problemas familiares e dez anos morando num porão, entrou para um grupo de pagode. “Começo a conhecer os bares, baladas, o funk do Rio já vinha crescendo muito em São Paulo, e aí começo a cantar, a fazer evento”, contou.
Apesar de atualmente ser sócio de grandes majors, como Warner Music, Sony Music e Universal Music, a transição de sua carreira de músico para empresário não foi fácil. “Cantava nos bares para ganhar R$ 50. Hoje, vou ter uma estrutura gigantesca no meio de um bairro periférico”, disse.
A grande virada de chave na sua trajetória aconteceu, de fato, em 2019, quando assinou um contrato de US$ 40 milhões com Universal Music, para distribuição de conteúdo, o que possibilitou uma expansão significativa da empresa durante a pandemia, que pode investir em estrutura enquanto outros negócios estavam fechando as portas.
“Pós-pandemia o negócio cresceu, não parou mais. Mas hoje dentro da GR6 o artista tem gestão financeira, psicólogo, aula de canto, de música. Cuidamos como se fosse uma família”, enfatizou Oliveira.
A GR6 se consolidou muito com a produção de clipes para o YouTube, plataforma relevante, principalmente para o funk. Atualmente, o canal da empresa possui mais de 40 milhões de inscritos e recebe mais de 250 milhões de visualizações por dia.
Apesar disso, Oliveira entende que o clipe não tem mais a mesma potência de antes. Na sua visão, plataformas como o TikTok, com suas dancinhas, influenciadores e viralização, populariza o gênero musical mais rapidamente. Mesmo assim, o empresário continua enxergando o papel dos clipes para vendera carreira dos artistas, principalmente aqueles que estão começando. “Tanto dança do TikTok, tanto clipe, funcionam. Mas a música precisa ser boa”, reforçou.
De um gênero marginalizado, o funk se transformou em um fenômeno mundial, muito impulsionado pela carreira de nomes como Anitta, Ludmilla, MC Livinho. Neste sentido, para Oliveira, o funk é o único gênero musical brasileiro com potencial para atravessar oceanos. “Às vezes, você pode não entender a língua, mas a batida é muito dançante. Quando o gringo escuta, ele não consegue não dançar”, ressaltou. Artistas da GR6, como MC Livinho, tocaram em diversos países, como a Turquia.
De olho nessa internacionalização do gênero musical, Oliveira revelou que a empresa planeja uma expansão para fora do Brasil, com a criação da Casa GR6 em Miami, nos Estados Unidos, e um selo em Portugal.
Com apenas quatro ou cinco artistas mulheres em seu casting, como Drika, Mari, Sara Sol, o empresário destacou que é preciso fomentar a presença das mulheres no cenário musical do funk. Para isso, Oliveira afirmou que a GR6 tem desenvolvido iniciativas, como um camping exclusivo para mulheres realizado há três meses, e planeja criar um estúdio dedicado especificamente a artistas femininas, reforçando a importância da presença feminina em todos os espaços.
Apesar de reconhecer a crescente aceitação do funk tanto no Brasil quanto fora dele, para Oliveira o gênero ainda enfrenta preconceito. “Existe um preconceito ainda no funk, porque acho que nós precisamos melhorar. O artista precisa melhorar”, pontuou. “Não generalizando, mas tem artistas que também não ajudam”, disse, se referindo a artistas que postam besteira e fazem apologia a drogas na internet.
Além disso, na visão de Oliveira, parcerias com grandes marcas, como as que Hariel tem com Lacoste, Nike, iFood e 99, são cruciais para ajudar a romper essas barreiras remanescentes de preconceito e legitimar o movimento.
O movimento ao contrário também existe. O empresário destacou que o funk foi responsável por revitalizar a Lacoste no Brasil. A marca, que estava prestes a sair do Brasil, viu suas vendas dispararem após artistas de funk começarem a usar e popularizar a marca. A Lacoste observou isso e, inclusive, incluiu o Brasil em sua campanha de 90 anos, criada pela BETC Paris. Veja abaixo:
A potência do gênero musical também tem despertado o olhar do mercado de comunicação. Em 2023, a GR6 fechou uma parceria com Ogilvy e com a David, para lançar o projeto Crias, iniciativa que visa traduzir a linguagem e a dinâmica do funk para o mundo da publicidade. “Estamos construindo uma parada nova. Vários projetos com a música urbana”, adiantou.
Oliveira também destacou a importância das plataformas de streaming para a monetização, principalmente, dos artistas mais novos nesse mercado. “Dá para melhorar, mas tem um grande rendimento”, frisou.
Para exemplificar esse rendimento, Oliveira citou o set Cracolândia, criado com sete artistas iniciantes, em parceria com o Alok, que tinha como missão conscientizar os jovens sobre o perigo das drogas. Além de bater mais de 500 milhões de visualizações, impulsionar a carreira de Alok no Brasil, segundo Oliveira, o projeto continua gerando renda para os artistas iniciantes que participaram.
Além das plataformas de streaming, o executivo enfatizou o papel fundamental das grandes gravadoras, como Sony Music, Universal Music e Som Livre, e de outros escritórios em ascensão, como o de KondZilla, no crescimento e legitimação do funk brasileiro. “Acredito também que nossa entrada nas TVs vem ajudando muito”, complementou.
Por fim, Oliveira defendeu seu apoio político ao prefeito Ricardo Nunes, apesar de uma repercussão negativa na comunidade do funk na época das eleições municipais. “Ele está fazendo pelo nosso movimento e apoio quem está fazendo pelo nosso movimento, porque é um movimento que mudou a minha vida e muda a vida de muitas pessoas”, concluiu.
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