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Opinião

No futebol, nos negócios e na vida

Lição da camisa 10 Marta é fundamental: “Chorar no começo para sorrir no final”


27 de junho de 2019 - 16h50

Marta (Crédito: Jamie Squire/Getty Images)

Como foi bonito ver Tamires entortando a marcação pela lateral direita, o combate da “interminável” Formiga no meio de campo, os belos passes em profundidade de Andressa, a velocidade de Debinha pela ponta, a inacreditável habilidade de Marta e, claro, as finalizações sempre precisas de Cristiane na Copa do Mundo.

Mas, mais do que o jogo em si, o fundamental foi testemunhar a aula das meninas fora do campo. Ganhar ou perder faz parte do jogo e da vida, mas é preciso agarrar as oportunidades como se elas nunca mais fossem aparecer — até porque, muitas vezes, é isso mesmo que acontece!

Por isso, o desabafo de Marta ao final da partida contra as francesas me pareceu perfeito como microcosmo de como as coisas precisam mudar, urgentemente, no Brasil e em boa parte do mundo. Ela disse que é preciso chorar no começo para sorrir no final, e que não é possível depender de Marta, Cristiane e Formiga para sempre. Pessoalmente, acredito piamente nisso: porque as conquistas não acontecem por milagre, por acaso. Elas são fruto de dedicação plena, investimento (de dinheiro e de tempo), comprometimento e resiliência. Conquistas são resultado de batalhas diárias, muitas vezes de sofrimento, correção de rumo, adaptação e vontade de quebrar paradigmas e ideias feitas.

Aqui, a gente parou tudo para ver as meninas e mulheres do Brasil lá na França. Por que era o certo a fazer? Sim. Por que elas merecem o mesmo tratamento dispensado aos homens durante o Mundial masculino? Também. Aliás, aqui na empresa, homens e mulheres que ocupam cargos similares ganham o mesmo salário.

Mas, principalmente, porque elas representam muitas outras lutas dentro e fora de campo. E porque o futebol feminino tem muita qualidade.

Mercados mais avançados no esporte, como Estados Unidos, Canadá, Noruega, Suécia, Alemanha e Japão, fazem grandes investimentos no futebol feminino. E investimento bem feito sempre dá retorno. No caso dos EUA, são três títulos mundiais e quatro medalhas de ouro olímpicas no currículo. Mas claro que isso só aconteceu porque a modalidade é tratada como um produto de alto nível no país.

Na Europa, a Alemanha tem nove títulos continentais em 20 edições da competição — além de uma medalha de ouro olímpica e três de bronze. É uma potência que rende mídia (inclusive, e principalmente, espontânea), público fiel nos estádios e venda de produtos ligados ao esporte o ano inteiro.

Nesses países, o sonho de muita menina é ser uma estrela do futebol. Faz todo o sentido. Por que aqui, no país do futebol, isso é diferente? Não faz nenhum sentido!

Quantas vezes já não vimos ou ouvimos as histórias de superação dos nossos craques do futebol? O esporte representa uma fabulosa oportunidade para os extratos mais pobres da população brasileira. O que pouca gente sabe é que muitas mulheres que jogam futebol passam pelos mesmos problemas — e só a popularização dos torneios femininos será capaz de dar a elas também as mesmas oportunidades midiáticas (e de contratos de patrocinadores também) que os rapazes têm. Meu filho participou dos jogos globais da sua escola há alguns anos e minha filha caçula, que também joga futebol, poderá ter a mesma oportunidade. Ambos amam futebol e devem ter os mesmos direitos.

Como fazer isso? Investindo na igualdade de oportunidades desde cedo, em um calendário nacional capaz de atrair público, mídia e anunciantes. E na base também. Imagine o quanto a economia brasileira teria a ganhar com um campeonato de futebol feminino bem planejado, com novas craques surgindo e se tornando emblemáticas para as novas gerações de meninas. É equidade, sim, mas é dinheiro em caixa, criação de novos mercados, novos consumidores. É a roda da economia girando de maneira sustentável e responsável.

Costumo dizer que a igualdade de gênero não é algo apenas moralmente essencial, mas ela dá frutos no médio prazo às empresas. A matemática demonstra: segundo pesquisa do Bureau para Atividades dos Empregadores da OIT (Organização Internacional do Trabalho), lançada no primeiro trimestre deste ano, 60% das 14 mil empresas entrevistadas em 72 países relataram aumento de produtividade e lucro após mudarem suas políticas de equidade.

E isso funciona em todos os aspectos da vida. Basta ver os resultados da Copa do Mundo feminina este ano, com muito mais visibilidade graças à transmissão pela TV aberta.

Nossas meninas (dentro e fora dos gramados) têm talento, determinação, espírito de luta e liderança, raça, postura leal, comprometimento. Qualidades que toda empresa busca (tanto em seus funcionários e funcionárias quanto em seus embaixadores e embaixadoras de marca). Trata-se de uma combinação que gera resultado em qualquer lugar. A começar pela nossa própria casa.

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