Maria Brasil: “O País precisa sempre de exemplos positivos”
Presidente da Confederação Nacional de Jovens Empresários comenta o cenário do empreendedorismo brasileiro e aposta em políticas públicas para fomentar o setor
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Giovana Oréfice
10 de novembro de 2022 - 6h01
Comunicadora e nordestina, Maria Brasil é a primeira mulher a ocupar a cadeira de Presidente da Confederação Nacional de Jovens Empresários (Conaje) em 20 anos em que a entidade existe. Também empresária, ela é fundadora da Essence Branding, consultoria de branding e estratégia de marca com sede em Salvador, na Bahia, que conta com uma equipe 100% composta por mulheres.
Defensora do empreendedorismo, sobretudo o feminino, Maria tem como um dos projetos na entidade o “CONAJE para Elas”, que incentiva que mais mulheres jovens empreendedoras participem do associativismo. Representante do Brasil no G20 Jovem e na Federación Iberoamericana de Jóvenes Empresarios, ela esteve presente no encontro anual da G20 Young Entrepreneurs Alliance, que aconteceu no final de outubro.
Em entrevista ao Meio & Mensagem, Maria falou sobre o cenário do empreendedorismo no País, salientou a importância e necessidade de educação e políticas públicas, além de exemplificar as peculiaridades do brasileiro nos negócios e impacto da pandemia no segmento. Confira:
Meio & Mensagem – Em que situação o Brasil se encontra em relação ao empreendedorismo jovem?
Maria Brasil – Enxergo hoje um momento de empreendedorismo no Brasil em que, assim como tudo, existe luz e sombras. Vivemos um período em que existe muita abertura ao empreendedorismo hoje, se fala muito nesse tema, existem muitas entidades e organizações que apoiam. O próprio Sebrae é um grande parceiro da CONAJE e nacional, e apoia o micro e o pequeno empreendedor no Brasil. Existe a questão dos investimentos de startups, que também é algo que tem aberto cada vez mais portas. É um mercado que está em franco crescimento. Contudo existe o lado da sombra, em que ainda faltam muitas políticas públicas para que esse empreendedorismo e essa força consiga ser ainda mais impactante, e que o jovem principalmente, consiga se beneficiar dele. É um bom momento para o empreendedorismo, considerando que muitos jovens sonham em empreender e antigamente isso não era uma realidade. Cada vez mais o jovem tem esse modelo mental focado em ter o seu próprio negócio, porém o Brasil ainda carece de muitas políticas e de muitos caminhos abertos para que a gente consiga fazer isso de forma efetiva.
M&M – Teremos um novo governo pelos próximos quatro anos. Espera-se que esse campo seja olhado com mais cuidado e incentivo?
Maria – A troca do governo é muito relevante para todos os brasileiros em todas as instâncias, isso tem um impacto fundamental. Enquanto empreendedores, esperamos que esse tópico seja olhado com mais carinho e cuidado. Desde o primeiro turno criamos uma carta para ser enviada a todos os candidatos para levar a eles tudo o que é importante para nós, o que buscamos e precisamos. Nesse momento de uma eleição já definida é o nosso papel também retornar para esse candidato eleito para reforçar esses pleitos. Então, sim, acreditamos que o novo governo é sim sempre uma nova chance de iniciar um diálogo e de poder fazer com que a nossa voz seja ouvida.
M&M – Qual legado a pandemia deixa para o empreendedorismo no Brasil?
Maria – A pandemia sem dúvida foi um um elemento muito devastador para a economia e para a vida de muitos brasileiros, sobretudo os em vulnerabilidade e baixa renda que ainda necessitavam ordenar o seu sustento. Mas sempre digo que por trás de todo grande desafio existe uma grande oportunidade, e o mindset empreendedor é totalmente focado nisso: em conseguir enxergar a oportunidade dentro dos desafios que a vida traz. É sintomático, toda vez que um emprego informal cai no País, o empreendedorismo aumenta. As pessoas precisam se sustentar, então o empreendedorismo no formato considerado por necessidade cresce. Inclusive, nos últimos anos na pandemia, dentre as mulheres que perderam seus empregos, que precisavam cuidar dos seus filhos e estar aqui em casa encontraram no empreendedorismo uma forma de fazer isso acontecer. Acredito que o período remodelou muito a nossa forma de pensar, de viver e de conduzir as nossas vidas enquanto indivíduos e cidadãos, e o empreendedorismo encontrou o espaço para conseguir se desenvolver sobretudo nas pessoas que tinham necessidade de tirar o seu próprio sustento.
M&M – O empreendedorismo feminino, bem como o de periferia, muitas vezes está ligado à necessidade. De que maneira o incentivo pode reverter esse cenário e relacioná-lo a oportunidade?
Maria – Quando temos no nosso País um governo e iniciativas focadas em realmente ajudar as pessoas a se desenvolverem, vemos essa situação mudar a partir do empreendedorismo. O empreendedorismo é uma excelente e potente alavanca de mobilidade social. Conseguimos fazer com que as pessoas mudem suas vidas, transformem suas vidas a partir do empreendedorismo, porque elas entendem que não precisam aguardar pelo emprego informal, mas sim que ela consiga prover esse próprio sustento a partir do negócio. Dentro de políticas públicas precisamos falar, por exemplo, sobre educação empreendedora. Para mim, esse é um dos pontos fundamentais para qualquer nação se desenvolver. […] Mulheres são a pauta do meu coração, que levei para a CONAJE e para minha empresa com todo o afinco. Acredito que levar isso para as mulheres é realmente uma forma de movimento social coletivo. Para muitas mulheres, a possibilidade de ter seu próprio negócio é uma forma de libertação, de não ter dependência de um marido, de sair de um relacionamento abusivo e de uma situação de violência doméstica. Ter o seu próprio sustento a partir do próprio trabalho é uma mudança de realidade para muitas dessas mulheres e isso no Brasil é uma realidade muito chocante. Quando uma mulher é educada e libertada, toda uma sociedade se liberta, pois ela vai trazer consigo seus filhos e educá-los da mesma maneira. E outras milhões de meninas podem se sentir mais inspiradas por aquela perspectiva. Você não pode ser o que não pode ver, e pensando nisso precisamos fazer com que essas mulheres se desenvolvam dentro da economia de uma forma sustentável.
M&M – Algumas empresas, como a Nestlé, tem programas voltados para o empreendedorismo jovem. Qual é o papel da iniciativa privada nesta causa?
Maria – As iniciativas privadas normalmente atuam dentro de um recorte, mas são muito relevantes. Como empresária, defendo muito que as empresas olhem para esse público e entendam a urgência desse tipo de assunto, e consigam, dentro das suas possibilidades e utilizando os seus recursos, fazer o possível para que a gente mude a realidade também. Vejo muitas empresas com políticas voltadas à inclusão de mulheres no seu board, por exemplo, querendo ser mais inclusas e diversas para várias outras categorias subrepresentadas no Brasil. Penso que a iniciativa privada tem um grande papel, porque além de ser educativo para quem está dentro e fora, é bem uma forma de exemplo. E o Brasil precisa, sempre, de exemplos positivos.
M&M – Quando comparado a outros países, qual o status do empreendedor brasileiro? Por que?
Maria- Na Europa, um continente com uma situação econômica muito mais favorável do que a nossa, é possível que talvez os jovens que estão lá tenham mais estímulos a empreender, que tenham mais políticas públicas focadas nisso. Temos que entender, dentro da realidade de cada país, que a população pode ter uma economia e um câmbio mais favorável para que isso seja feito. Mas quando falamos de brasilidades, gosto muito de valorizar as virtudes que temos aqui. A criatividade é uma delas e é muito forte. Existem negócios incríveis no mundo inteiro, mas o brasileiro é capaz de fazer muitas coisas. A criatividade do brasileiro constrói muitas coisas e isso não consigo enxergar em nenhum outro lugar. E o empreendedorismo é totalmente sobre isso. Criatividade não é só criar produtos e serviços diferentes. É solucionar produtos complexos de forma diferente e uma ferramenta fundamental para convivermos no nível de complexidade social atual.
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