Assinar

As razões que levam as mulheres brasileiras a empreenderem

Buscar
Publicidade
Women to Watch

As razões que levam as mulheres brasileiras a empreenderem

A edição de 2022 da pesquisa do Instituto Rede Mulher Empreendedora revela o contexto do empreendedorismo feminino no Brasil


10 de outubro de 2022 - 8h59

Um estudo publicado recentemente revela que o perfil das mulheres donas de negócios é majoritariamente composto por negras, mães e da classe C. Os dados são da sétima edição da pesquisa “Mulheres empreendedoras e seus negócios” de 2022, realizada pelo Instituto Rede Mulher Empreendedora (IRME), com apoio da Rede Mulher Empreendedora e Meta, e execução do Instituto Locomotiva.

Anualmente, o levantamento aborda temas relacionados ao universo do empreendedorismo feminino, trazendo diferentes perspectivas sobre o perfil dessas mulheres, sua visão de mundo e a relação com seus empreendimentos, além dos desafios que enfrentam.

A análise revela um contexto repleto de dificuldades e entraves que elas enfrentam na sua jornada empreendedora, além de trazer dados que demonstram o quanto as desigualdades sociais potencializam os desafios encontrados por elas. Dentre os 46% das mulheres que empreendem por necessidade, o instituto encontrou que 52% delas são negras, 71% estão nas classes D e E e 56% concluíram o ensino fundamental.

Ainda que elas optem pelo empreendedorismo para aumentar as suas rendas, nem sempre seus negócios geram lucros e muitas não conseguem fechar a conta no final do mês. 41% das empreendedoras ainda não têm renda suficiente para pagar as despesas do negócio. Já 35% dizem conseguir pagá-las, mas apenas 11% têm a possibilidade de poupar. Ainda assim, elas são positivas: 48% acreditam que o faturamento será melhor em um ano de negócio.

Segundo a pesquisa “Mulheres empreendedoras e seus negócios” de 2022, realizada pelo Instituto Rede Mulher Empreendedora (IRME), o perfil das mulheres donas de negócios é majoritariamente composto por negras, mães e da classe C (Crédito: Wazzkii/Shutterstock)

A pesquisa do IRME também revela que a pandemia foi a grande responsável por levar as mulheres ao empreendedorismo. Entre as respondentes, cerca de 38% dos negócios têm até dois anos de existência, ou seja, foram iniciados durante a pandemia da Covid-19. A maioria dos empreendimentos analisados foram abertos nos últimos cinco anos e se concentram na prestação de serviço ou na venda de produtos.

Dos negócios com até dois anos de existência, 52% são de mulheres das classes D e E, 45% residem em favelas ou comunidades e 42% abriram o negócio por necessidade.

PERFIL DA MULHER EMPREENDEDORA

O estudo mostra que 60% das donas de negócios são negras, 37% brancas, 2% descendem de asiáticos e apenas 1% são indígenas. Em relação à escolaridade, 28% possuem ao menos ensino superior e 24% ensino médio completo.

Já em relação à classe social, 50% delas pertencem à classe C, 34% às classes A e B e 17% às D e E. A maioria delas são casadas (57%), 73% são mães e, destas, 51% têm filhos com mais de 18 anos. Quanto à faixa etária, 63% têm até 45 anos, 28% estão entre 46 e 59 anos e apenas 10% têm acima de 60.

Outro dado importante é em relação à formalidade de seus negócios. Das empreendedoras que atuam na informalidade, os índices são mais altos nas regiões nordeste (64%) e norte (75%) do país. Resultado distinto do que é visto nas regiões sudeste, sul e centro-oeste, em que mais da metade conta com CNPJ. Dentre os motivos sinalizados pelas mulheres do porquê não têm CNPJ, 49% afirmam que não conseguem arcar com os custos.

O estudo também revela que a maioria delas trabalha sozinha (57%), mas quando empregam, tendem a contratar mais mulheres. Sendo que, destas que empregam ao menos um funcionário, 44% têm um quadro totalmente feminino, e 28% contam com uma equipe majoritariamente feminina.

Em relação ao faturamento, 63% das empreendedoras recebem até R$ 2,5 mil, e 80% até R$ 5 mil. Dentre as razões para empreender, as mulheres citam a busca por maior independência financeira, o desejo de juntar dinheiro e para ter melhor equilíbrio entre trabalho e família.

NECESSIDADE VERSUS OPORTUNIDADE

Apesar da porcentagem das mulheres que empreendem por necessidade ser a mesma das que começaram por oportunidade (ambas representam 46% da amostragem), os perfis são bem distintos.

Daquelas que afirmam terem aberto seus negócios por oportunidade, 67% são das classes A e B, 64% têm ensino superior, 55% estão com seus negócios há mais de cinco anos e 54% são mulheres não negras.

Já o perfil das empreendedoras por necessidade é composto por 71% das classes D e E, sendo que 56% têm ensino fundamental, 52% são mulheres negras e 51% têm negócios de até dois anos.

DESAFIOS DAS EMPREENDEDORAS

As entrevistadas da pesquisa percebem o mercado de trabalho como um ambiente hostil às trabalhadoras. 3 em cada 4 mulheres concordam que elas têm menos oportunidades do que os homens de forma geral. Quando falamos de salário, a disparidade segue a mesma linha: 78% delas acreditam que as mulheres recebem menos do que os homens, mesmo quando ocupam cargos semelhantes.

A grande maioria das entrevistadas acredita que as mulheres são tão capazes quanto os homens de empreender, porém, elas também concordam que enfrentam mais dificuldades do que eles.

8 em cada 10 afirmam que muitas mulheres precisam empreender para conciliar o trabalho com os cuidados da casa e família, e 83% concordam que as tarefas domésticas atrapalham mais as mulheres do que os homens quando buscam empreender. Ainda assim, 70% delas afirmam que equilibrar negócio e família são um desafio, e 57% se sentem sobrecarregadas.

Outro grande entrave para as empreendedoras é o acesso a capital. 59% delas creem ser mais fácil para pessoas do sexo masculino acessarem crédito para um negócio.

REDE MULHER EMPREENDEDORA

Ana Fontes é o rosto por detrás da Rede Mulher Empreendedora e do IRME. Ela mesma enfrentou grandes desafios para empreender, e precisou de algumas tentativas para finalmente criar e manter o seu negócio atual. Ela conta essa história no podcast Falas Women to Watch.

Segundo Ana, “empreender é desafiador no Brasil, mas é mais desafiador para elas. Para apoiar estas mulheres e entender o impacto social que os seus negócios geram, devemos apoiá-las como sociedade e com políticas públicas destinadas a elas”.

A Rede Mulher Empreendedora é uma plataforma para mulheres empreendedoras e para as que querem empreender. Criada em 2010 por Ana Fontes, hoje conta com 1 milhão de participantes e já impactou a vida de mais de 9 milhões. Com o propósito de apoiar as mulheres na busca por autonomia econômica e geração de renda, a rede promove capacitações, mentorias, programas de aceleração e acesso a capital.

A Pesquisa IRME 2022 foi realizada online com metodologia quantitativa, entrevistou 3.765 pessoas maiores de 18 anos em todo o Brasil, com negócio próprio ou trabalho por conta própria, no período de 29 de junho a 5 de agosto.

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • Demonstrar paixão no trabalho pode atrapalhar mulheres, revela estudo

    Demonstrar paixão no trabalho pode atrapalhar mulheres, revela estudo

    De acordo com nova pesquisa da Harvard Business School, entusiasmo profissional favorece carreira dos homens e prejudica a das mulheres

  • 80% das mulheres não se sentiram prontas para primeira menstruação

    80% das mulheres não se sentiram prontas para primeira menstruação

    Pesquisa global aponta lacunas na educação menstrual e impacto duradouro na saúde e autoestima das pessoas que menstruam