Correndo atrás do paparazzo

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Ponto de vista

Correndo atrás do paparazzo


26 de maio de 2011 - 11h56

A julgar pela escassez de comentários, a provocação quanto à TV digital não causou muita espécie. Vai ver que todo mundo já se esqueceu do assunto e já se acostumou mesmo com o modelo atual. Menos o Ale Ugadin, da Giovani, que me mandou email dizendo que compartilha de minha inquietação e não é de hoje!.
Mas eu volto à tona algum hora.

Por enquanto, deixo aqui apenas um relato de programa divertido a que assisti recentemente. Um doc chamado TEENEAGE PAPARAZZO , dirigido por Adrien Grenier, exibido pela HBO.

Os caras acompanharam a história de um paparazzo americano de 14 anos, Austin Visschedyk. O personagem era tão inusitado que, de perseguidor de celebridades , passou a perseguido. Virou ele mesmo uma celebridade.

A boa e bem contada história embutia também pensamento interessante sobre o culto à celebridade. Dizem que é atávico e tem a ver com a evolução da nossa espécie e de sua própria preservação. Lá no começo de tudo quem se dava bem era quem pertencia a um grupo e seguia um líder. Quem não tava afim de seguir ninguém, se virava sozinho e acabava se dando mal.

Admirar o líder e sonhar em ser igual a ele parece estar na origem da fascinação que pessoas comuns têm por pessoas talentosas, geniais, fortes e bonitas…ou apenas famosas. E aí que mora a desgraça. E a culpa é toda nossa, produtores de conteúdo em mídia . Ninguém mais precisa ter talento para ser admirado.Basta ser famoso, célebre. Assim como o paparazzo teen. Ficou famoso por ser famoso, num ciclo vicioso aburdo. Se é famoso , deve ser bom. Se apareceu na tv ou na revista, é por que deve ser especial. Se é especial, é porque é famoso. E o pobre paparazzo teen, assim que deixar de sê-lo, babau…

A mídia distorceu a figura do líder do grupo ? Ele não conquista admiração por seus atos ou virtudes, e sim por atos de terceiros, que o elegem protagonista de programas infelizes, mas de sucesso entre o público médio. Vejam que isso não se aplica apenas a realiity shows. Afinal, que será pior? A avalanche de celebridades instantâneas, explicadas ou não pela teoria da evolução das espécies, ou a enxurradada de apresentadores de tv meia-boca, meio-carisma e meio-talento, que apenas por colar seus rostos na telinha, são premiados, incensados e, alguns, santificados?

* Zico Goes é diretor de programação da MTV Brasil

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