Inaiara Florêncio: educação e inquietude na publicidade
A jornalista acaba de se tornar CEO da Oju, braço de inovação e marketing de conteúdo da agência Gana
Inaiara Florêncio: educação e inquietude na publicidade
BuscarA jornalista acaba de se tornar CEO da Oju, braço de inovação e marketing de conteúdo da agência Gana
Lidia Capitani
26 de julho de 2024 - 15h43
Se hoje Inaiara Florêncio é uma profissional de referência no mercado da criatividade, é porque teve um grande modelo por trás: sua mãe, professora de biologia no ensino público. Infelizmente, ela morreu quando Iná tinha apenas 11 anos, mas seu legado ficou tanto para a escola no bairro de Tiradentes, em São Paulo, que recebeu seu nome como forma de homenagem, quanto na profissional inquieta que sua filha se tornou.
Ainda jovem, Inaiara escrevia nos jornais do condomínio e do colégio em que estudava. Por isso, quando escolheu cursar jornalismo na faculdade, não foi surpresa para ninguém. Ela começou a carreira com um estágio no jornal Estadão, mas nunca se satisfez com pouco. Passou por diferentes áreas: da assessoria de imprensa, rádio e TV às agências de comunicação, startups, campanhas políticas e projetos do governo.
Nas agências, ela foi precursora na criação de times de digital, com foco especial em comunidades e redes sociais. Passou pela Fábrica Comunicação Dirigida, Plano Digital, SunsetDDB e Adventures Inc, esta última em que foi sócia e diretora executiva de criação.
Em 2022, Inaiara recebeu um convite para ser diretora de conteúdo e marketing de influência no Mercado Bitcoin. Ali, seu objetivo era democratizar o conhecimento sobre criptomoedas, abandonando o “criptoquês” e adotando uma linguagem fácil e acessível, o que lhe rendeu visibilidade.
Chegando em 2024, mais precisamente em março, Inaiara assumiu a cadeira de CEO e sócia da Oju, braço de marketing de conteúdo e inovação da agência Gana. Todas essas experiências distintas agregaram habilidades importantes que agora ela traz para a divisão, da agilidade à tomada de decisão baseada em dados e o mindset das startups, essencial para inovar.
Nesta entrevista, Inaiara Florêncio fala sobre a fundação da Oju e como as agências podem incorporar e fomentar a inovação no processo criativo. Além disso, ela também reflete sobre a importância da educação no seu estilo de liderança e da inquietude para seu sucesso profissional.
Minha experiência no Mercado Bitcoin me proporcionou muitos aprendizados sobre Web3 e inovação, porque era uma empresa com 500 pessoas espalhadas pelo mundo. Eu estava sempre trocando ideias com muita gente de diversos lugares e aprendendo o que funcionava em diferentes regiões. Apesar disso, boa parte das pessoas que me seguem e consomem meu conteúdo, seja no Woman to Watch ou nas redes sociais, trabalham com marcas da Web2. Então, eu me via como uma ponte entre esses mundos.
A Oju nasceu dessa necessidade de continuar desenvolvendo estratégias de comunicação inovadoras. A pandemia me permitiu realizar várias ideias loucas de inovação, como fazer um carnaval dentro do GTA e permitir que as pessoas pedissem pizza pela Alexa. Essa experiência ajudou na criação da Oju, mantendo o viés de comunidade aliada à inovação.
Desde o Orkut, acredito no poder do pertencimento. As marcas ainda têm muito a aprender sobre a construção de comunidades ativas, onde as pessoas se sintam realmente engajadas. Um vídeo de um minuto no YouTube pode parecer longo hoje em dia, e as marcas precisam encontrar maneiras de continuar se conectando com as pessoas em meio a tantas distrações.
Nosso papel é moldar narrativas criativas e redefinir padrões da indústria, que vem mudando rapidamente. Não se trata apenas de usar tecnologia para inovar, mas também de contar histórias de maneiras diferentes que atendam aos objetivos de negócio. Minha experiência como cliente me ajudou a focar em dados e resultados, o que foi crucial para realizar todas essas iniciativas e promover mudanças reais.
Nossa, existem mil possibilidades. Sou uma pessoa inquieta e testo algo novo toda semana. Hoje, temos várias ferramentas incríveis que podem ajudar na criação de conteúdo, por exemplo, desde peças publicitárias até mídia de performance.
Sempre me guio por uma questão: o que você faz repetidamente no seu dia que a inteligência artificial pode otimizar? Por exemplo, eu tinha um bot que participava das minhas reuniões, puxava informações, fazia a ata e conectava com o Trello para abrir tarefas. Para mim, o principal benefício da IA é a otimização do tempo, permitindo que coloquemos nossa energia no que realmente importa.
Claro, existem questões de ética, dados e legislação, especialmente no Brasil, onde essas discussões ainda estão em desenvolvimento. Costumo dizer que devemos aplicar a ética que usamos em outros contextos ao uso da IA, evitando informações confidenciais e seguindo um guia de boas práticas. Não dá para imaginar um mundo sem o ChatGPT ou outras tecnologias avançadas. O algoritmo já faz parte da nossa realidade, e quem trabalha na área precisa acompanhar essa evolução.
Acredito que os líderes devem provocar e puxar o time. No início, é legal ter um comitê para trazer novidades e estimular a curiosidade das pessoas. Alguns são naturalmente curiosos e exploram as ferramentas por conta própria, enquanto outros precisam desse estímulo.
Ter um profissional de liderança que serve de referência, independente de ser um designer, redator ou alguém de social media, é crucial. Isso acelera o processo, porque a inovação também envolve uma visão cultural, ou seja, uma disposição para testar e aprender, mesmo que nem sempre funcione. Às vezes, algo que não faz sentido agora pode funcionar no futuro com melhorias. É importante estar aberto a testar novas coisas e se provocar a fazer diferente.
Acredito que minha liderança é mais insurgente. Sempre fui inquieta e questionava o jeito que as coisas eram feitas, então procuro maneiras criativas e justas para promover mudanças significativas. Por exemplo, quando passei a questionar o racismo no ambiente profissional, isso me deu a oportunidade de construir um time mais diverso. Hoje, muitas pessoas que contratei estão em posições de diretoria, e isso me enche de orgulho.
Minha liderança não é apenas sobre sucesso, mas sobre significância. Não adianta eu ter sucesso se ele não tem significado. Quem são as pessoas que estão construindo comigo? Quero crescer junto com elas. Se elas precisarem ir para outros lugares, que levem um pouco dessa experiência e impactem positivamente onde estiverem. Fico feliz ao ver que as pessoas levam uma “sementinha” do que aprenderam comigo para outros lugares.
Entendo que não somos todos iguais, não temos as mesmas referências ou estruturas familiares, e isso impacta como cada um vê o mundo. Sempre busquei pessoas fora do radar tradicional. Uso minha liderança para estimular quem está perto e amplificar isso, trazendo luz para outros espaços, conversas e perfis.
Minha mãe foi uma grande inspiração para mim. Nos anos 1990, ela criou um laboratório para ensino prático no sistema educacional público, algo nada óbvio na época. Ela ensinava primeiros socorros, biologia aplicada ao dia a dia, e um de seus alunos se tornou médico por isso. Também fui muito influenciada pela minha primeira chefe mulher, que me levou para um treinamento de desenvolvimento pessoal, e isso foi um divisor de águas na minha vida. Desde então, participei de mais de dez desses treinamentos, me aprofundando no autoconhecimento, o que também me ajuda a liderar melhor.
A técnica se lapida com o tempo, mas quando sinto que algo não faz sentido no meu coração, sei que é hora de mudar. Acredito que minha liderança insurgente e humana busca entender e valorizar as diferenças, promovendo crescimento significativo e coletivo.
Acredito que essa inquietude é essencial, especialmente para nós, mulheres. Muitas de nós enfrentam auto sabotagem, um desafio cultural que ainda persiste. A sociedade não nos preparou adequadamente, e isso é evidente nos dados sobre a presença de mulheres em posições de liderança e nas dificuldades relacionadas à maternidade. Para mim, essa inquietude feminina, que alguns chamam de intuição, é o que impulsiona mudanças e inovações. Negócios liderados por mulheres frequentemente têm melhor desempenho.
Meu conselho é sempre se especializar, olhar para a técnica, que é importante, mas, acima de tudo, acreditar em si mesma. Quando nos transformamos, temos a força para transformar nossos espaços.
Sempre tenho um plano, seja de curto, médio ou longo prazo. Este ano, compartilhei publicamente meu plano de abrir minha empresa, fazer parte de um júri internacional e ser presidente em alguma organização. Embora o caminho não tenha sido exatamente como eu esperava, acreditar na minha inquietude me ajudou a chegar aonde estou.
É fundamental não ter medo de compartilhar, ter uma rede de apoio que nos lembre de não nos auto sabotarmos, fazer planos e estudar constantemente. Como mulheres, somos mais cobradas, e isso pode ser um peso. Por exemplo, em reuniões, eu sentia que, como mulher negra falando de inovação, não podia errar. Esse fardo é grande, mas acredito que há maneiras mais suaves e naturais de construir nossa confiança e capacidade.
Em resumo: acredite em si mesma, compartilhe suas ideias, tenha uma rede de apoio, faça planos e continue estudando.
Hoje consigo enxergar com mais clareza como a educação sempre foi uma parte essencial da minha vida, muito inspirada pela minha mãe. Nos times que liderei, sempre adotei uma lógica de aula, incentivando todos a aprenderem. Sempre me envolvi ativamente e tenho a postura de “você não sabe fazer, mas quer aprender? Senta aqui que eu vou te ensinar”. Acredito que a única forma de nos transformarmos como comunidade é por meio da educação e da informação. Tenho isso muito claro do ponto de vista da comunicação: unir pautas e dar visibilidade a elas.
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