De colegas de faculdade a sócias: a trajetória das fundadoras da Atenas
A agência de Denise Garrido e Quércia Andrade completa 18 anos com reposicionamento de marca e planos de expansão para a Europa

Denise Garrido, CEO e cofundadora, e Quércia Andrade, co-CEO da Atenas.ag (Crédito: Divulgação)
Com 18 anos de estrada, a agência Atenas celebra a maturidade com um novo posicionamento de marca, focado na construção de estratégia junto aos clientes. A agência de brand experience comemora o marco lançando uma nova identidade visual, com novo site e vídeo-manifesto. Recentemente, a empresa recebeu o título de Great Place to Work e esteve no shortlist de Cannes deste ano, além de outros prêmios.
A história da agência começou quando Denise Garrido, CEO e fundadora da Atenas, e Quércia Andrade, co-CEO, estavam na faculdade em Salvador. A amizade que nasceu dos corredores da universidade se transformou numa sociedade que hoje tem se destacado no segmento de brand experience no Brasil.
“A gente entrou no live marketing bem no comecinho, quando ainda nem se chamava assim. À época, eram ações promocionais e ativações de marca bem mais tímidas como panfletagem, ações de PDV e stands pequenos. A gente foi evoluindo junto com o mercado de brand experience”, conta Quércia.
A agência, que começou na Bahia com ações regionais, logo expandiu para o sudeste, com operações em São Paulo e no Rio de Janeiro. Mesmo quando ainda eram regionais, elas já atendiam grandes clientes como Mondelēz, Coca-Cola, Sprite, Havaiana e Neoenergia. Com a expansão, conquistaram novos clientes como Amstel, Itaú, Heineken, Redbull e Tim, e ganharam visibilidade com a criação de experiências de marca com estratégia e inteligência cultural. Agora, o próximo passo é conquistar mercados internacionais, a começar pela Europa.
Nesta entrevista, Denise Garrido e Quércia Andrade falam sobre a importância das experiências para a construção de marcas no contexto digitalizado de hoje. Além disso, elas ressaltam como a diversidade e inclusão é um dos pilares criativos e estratégicos do negócio e comentam sobre o novo posicionamento de marca que celebra os 18 anos da agência.
Meio & Mensagem – Gostaria que falassem um pouco mais sobre essa expansão para a Europa. Como estão planejando esse movimento?
Denise Garrido – Agora, estamos captando alguns parceiros na Europa. Já temos alguns no radar e estamos começando a expandir. A ideia é vender nossa expertise para o mercado internacional. Começamos com alguns prêmios: no ano passado e neste ano, fomos a única agência brasileira a ganhar o BEA, o maior prêmio europeu de brand experience. Então, começamos a estruturar parceiros para viabilizar nossa operação local. Isso começou com um projeto para Amstel, em que fizemos o Kings Day Brasil e o Kings Day Holanda, onde levamos o nosso samba. [Kings Day é um feriado nacional nos Países Baixos conhecido como o “carnaval holandês”]. Fizemos um cross entre o carnaval brasileiro e o carnaval holandês. Essa foi nossa primeira ação internacional de fato, que abriu um leque de oportunidades. Agora, nossa expectativa é que, até 2026, a gente comece a operar na Europa.
M&M – Hoje, 80% da liderança de vocês são mulheres. Como foi o processo de chegar a esse marco? Foi planejado ou simplesmente aconteceu?
Quércia Andrade – Desde o início, queríamos ser uma agência feminina, com alma feminina. Acho que as coisas acabaram convergindo para isso naturalmente. Com o tempo, passamos a fazer ações afirmativas internas, e hoje lidero essa frente, que é o Janela Plural. O objetivo é garantir a pluralidade de minorias dentro da agência. Ter 80% de liderança feminina não foi algo que determinamos como meta. Acredito que isso aconteceu muito pelo que a gente inspira. Nossa pauta de ações atrai muitas mulheres, que acabam se identificando com a nossa história e vendo nela uma referência, seja para crescer, construir carreira ou se desenvolver. Hoje, além disso, temos 70% do time formado por mulheres, 45% por pessoas LGBTQIAPN+, 40% por pessoas negras e pardas autodeclaradas e 20% de pessoas do Nordeste e de regiões do país fora do eixo Rio-São Paulo. A gente se orgulha muito desses números e do fato de a inclusão ser uma pauta verdadeira aqui dentro. A gente apoia e busca isso todos os dias, porque acreditamos que diversidade e inclusão, além de refletirem o nosso país, trazem muito mais embasamento para as ações, pois são mentes diversas pensando juntas, gerando ideias.
M&M – Para o Rock in Rio 2024, vocês desenvolveram mais de 30 ativações para diferentes marcas. Como é o processo de criação das ativações de brand experience e quais aprendizados vocês tiraram dessa experiência?
Denise – O primeiro ponto para criar qualquer ação de experiência é começar pela estratégia. Sempre partimos do entendimento do cliente. No Rock in Rio, por exemplo, a gente fez 32 ativações, e todas carregam a identidade de cada marca. Eu só começo qualquer criação a partir de um briefing criativo, construído pelo planejamento com base nas informações que o cliente traz. Por isso, nossas ações são completamente diferentes umas das outras. Trabalhamos muito integradas com as agências de ATL, digital e PR para garantir resultado real. Tanto que, das seis marcas que a gente atendeu no Rock in Rio, três ficaram entre as mais comentadas fora do evento. A Tim foi a primeira, Volks ficou em terceiro, e Trident em quarto. Nosso processo criativo é totalmente guiado por estratégia, com foco em resultado e em fazer com que cada marca se destaque naquele mar de ativações. A Heineken, por exemplo, foi eleita a ativação mais desejada do evento, e o nosso brinde foi o mais procurado. A gente consegue criar um diferencial e gerar impacto de verdade.
Quércia – Tudo isso tem a ver com o nosso novo posicionamento, que é muito pautado em estratégia para construção de marca. A gente deixa de falar só em brand experience e passa a falar em branding experience, porque essa é a nossa proposta: construir marca de longo prazo, com estratégia e foco no resultado.
M&M – Vivemos um contexto cada vez mais digitalizado, em que muitas marcas focam fortemente em sua presença digital. Por que investir em brand experience ainda é importante para as marcas nos dias de hoje?
Denise – Acho que a gente está vivendo um momento muito propício para o brand experience. As pessoas estão saturadas do digital. Você percebe um movimento de cansaço, de querer consumir menos. Começa a surgir um desejo de viver mais a vida real, fora dos filtros e das redes sociais. Por isso, a experiência tem ganhado cada vez mais relevância nas estratégias de marketing. Temos vários exemplos de construção de marca forte só com experiência. Um deles é Devassa: passamos dois anos construindo a marca no Nordeste apenas com ações de experiência. Não teve ATL, nem mídia que não estivesse ligada a branded content.
Também vemos uma mudança no papel do influenciador. As pessoas não querem mais ver alguém simplesmente falando do produto. Elas querem ver o influenciador vivendo, consumindo, experimentando aquele produto de verdade. Quando a marca investe em experiência, ela cria uma afetividade real com o consumidor. O digital tem muita informação, muita coisa que nem sempre é relevante. E as pessoas estão cansadas do que não tem significado para elas. Quando o conteúdo vem por meio de uma experiência, ele é muito mais efetivo. Um exemplo disso foi a ação de Amstel que fizemos, casada entre Brasil e Holanda. Ela bateu recorde histórico de share de mercado. Isso porque tudo estava alinhado: o que era feito na experiência, o que a marca comunicava no digital, o que os influenciadores viviam e o que o consumidor sentia.
Quércia – Além disso, vivemos num mundo com estímulos o tempo todo, internet, casa, trânsito. São estímulos multissensoriais por todos os lados. A gente não consegue absorver tudo. Então, quando uma marca oferece uma ação de experiência, ela cria um momento em que o consumidor vira protagonista. É ali que ele vive algo com a marca. E isso gera uma conexão emocional muito mais forte do que ser apenas impactado por mais um estímulo no meio de tantos outros no digital.
M&M – Como surgiu o novo posicionamento da agência e no que ele consiste?
Quércia – É um posicionamento muito mais maduro. Ele reflete esses 18 anos de estrada, as parcerias sólidas que construímos com grandes marcas e os resultados que entregamos para elas. Também mostra como apostamos em estratégias de cauda longa, para gerar conexões mais profundas com o consumidor. Deixa muito mais claro o que é a Atenas hoje e o potencial de resultado que a gente pode trazer para as marcas que atendemos. Esse novo momento também representa nossa cultura, nossas raízes, nossa criatividade, nossa excelência na entrega e nossa inteligência cultural. Tudo isso mostra a consistência da nossa trajetória, o nosso entendimento de mercado e, principalmente, para onde queremos ir junto com os nossos clientes. A gente não quer só entregar uma ativação, queremos entregar resultado com consistência.
Denise – A gente brinca que chegamos à maturidade e os 18 anos precisavam refletir isso na nossa identidade visual. A gente é uma agência que entende de cultura, que usa inteligência cultural e transforma a diversidade em vantagem. Temos olhares muito diversos dentro da agência, tem DJ famoso trabalhando em criação e planejamento, tem gente do Nordeste, do Sul, pessoas negras, e toda vez que precisamos montar um projeto, trazemos profissionais que ajudam a pensar com outros olhares. Além disso, temos aprimorado nossos métodos de criação. Estamos fazendo muito sprint criativo, workshops internos, treinamentos. E isso também se reflete nos reconhecimentos que conquistamos. A gente vem tentando construir estratégia junto com o cliente. E os resultados têm sido muito bons. Por isso eu digo que sou uma ativista do mercado. Acredito que a experiência, de fato, mexe com os ponteiros da marca. Acho que ninguém aguenta mais me ouvir falando que experiência constrói marca.