Mapeamento destaca atuação feminina na conservação marinha
Lançado na COP30, estudo reúne 52 iniciativas de proteção dos mares lideradas por mulheres
O papel das mulheres na ação climática ganha novo destaque com o lançamento do “Mapeamento Nacional de Iniciativas na Interface entre Gênero, Oceano e Clima”, grupo de trabalho da COP30 realizado pela Liga das Mulheres pelo Oceano. O levantamento reúne 52 iniciativas de todo o país que são lideradas por mulheres e que as contemplam como beneficiárias. Os projetos envolvem temas como conservação marinha, educação ambiental, economia azul, justiça racial e soluções baseadas na natureza.
Apresentado em Belém, no Pará, no sábado (15), durante evento no Climate Hub do Instituto Arayara, o estudo mostra a urgência em valorizar a atuação das mulheres na proteção do oceano. Embora elas estejam na linha de frente da conservação marinha e da pesca artesanal, apenas 1% dos recursos climáticos globais alcança organizações com projetos voltados às mulheres, segundo dados da ONU.
O grupo de trabalho da COP30 da Liga das Mulheres pelo Oceano reúne pesquisadoras, lideranças comunitárias e organizações da sociedade civil. “A princípio, o foco era identificar projetos cujas beneficiárias fossem mulheres, mas recebemos um número expressivo de iniciativas lideradas por mulheres, mesmo quando o público-alvo era mais amplo. Isso já é um achado importante, mostra o quanto elas estão protagonizando ações na interface entre gênero, oceano e clima em diferentes contextos e escalas”, explica Simone Madalosso, coordenadora do estudo. Ela ressalta que a lista não é exaustiva, pois nem todas as organizações que trabalham com o tema podem ter tido acesso ao questionário.
Conservação marinha no Brasil
Os estados do Norte e Nordeste, principalmente Amazonas, Pará, Amapá, Ceará, Bahia, Pernambuco e Sergipe, concentram iniciativas na pesca artesanal, no manejo de manguezais, na governança das reservas extrativistas costeiras e na adaptação de comunidades tradicionais às mudanças climáticas.
No Sudeste, o destaque são projetos relacionados à educação ambiental urbana, à recuperação de ecossistemas costeiros, à gestão participativa e ao uso de tecnologias para conservação marinha e oceânica. Já no Sul, predominam as iniciativas de formação comunitária, economia circular e gestão de baías e estuários.
Entre barreiras e soluções
Entre os principais desafios apontados pelas participantes está o financiamento. Madalosso observa que a maioria das iniciativas opera com poucos recursos e, em muitos casos, de forma voluntária.
As lideranças relatam dificuldades para acessar e compreender editais ou cumprir os requisitos burocráticos exigidos, o que as leva a depender de intermediários do terceiro setor para a submissão das propostas.
Os resultados reforçam a importância de financiamento direto e contínuo das iniciativas, e que os recursos devem priorizar as associações de base comunitária, responsáveis diretas pela segurança alimentar, geração de renda e desenvolvimento territorial.
O documento também sugere medidas importantes para o fortalecimento destes projetos como a articulação em rede para trocas de experiências, com integração entre ciência e saberes tradicionais, além de campanhas públicas e ações de comunicação para aumentar a visibilidade do trabalho das mulheres do mar.
Representatividade, capacitação e estrutura
Madalosso sublinha a necessidade de capacitar as mulheres para a gestão de projetos e para a captação de recursos, assim como de aprimorar os formatos de financiamento para acesso facilitado e de fomentar economias locais das quais as mulheres já fazem parte. O mapeamento também destaca iniciativas vinculadas a políticas estruturantes, como o Plano Nacional de Desenvolvimento da Bioeconomia (PNDBio), que promove o desenvolvimento de cadeias produtivas de base comunitária.
Segundo o estudo, é fundamental garantir a representação de mulheres e comunidades tradicionais em espaços de decisão, como conselhos, comitês de bacias e colegiados de gestão costeira. Para a equipe da Liga, o recorte de gênero e oceano deve ser incluído nas estratégias nacionais de clima, como o Plano Nacional de Adaptação e as contribuições voluntárias brasileiras para a redução das emissões, garantindo recursos específicos para ações lideradas por mulheres. “Elas devem partir do princípio de que as soluções climáticas mais eficazes são aquelas construídas junto a quem vive e protege os territórios”, frisa Madalosso.
O Plano Nacional de Adaptação é uma política federal brasileira que orienta iniciativas para a gestão e diminuição dos riscos relacionados às mudanças climáticas a longo prazo. Ele contém diretrizes para a adaptação e resiliência, incluindo ações específicas para setores vulneráveis, como a saúde, que foi divulgado durante a COP30. Já as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) são compromissos voluntários que o Brasil assume internacionalmente no âmbito do Acordo de Paris, estabelecendo metas para reduzir emissões de gases de efeito estufa.