Meio & Mensagem
13 de junho de 2011 - 11h06
Haverá um tempo em que saberemos o segredo do sucesso da televisão brasileira com os anunciantes nacionais. Um fenômeno de relacionamento inabalável, mesmo diante da queda de audiência do meio. Acreditem, anunciantes não assistem televisão.
Só pode ser essa a chave do enigma que provoca o investimento de 64% da verba publicitária em um meio que, notadamente, apresenta desinteresse por parte do telespectador.
Como não assiste aos programas que apóia com mais da metade da verba, o grande anunciante brasileiro acredita no que lhe contam as agências de propaganda e desta forma se sente seguro em promover um investimento acima de qualquer suspeita, mas abaixo da crítica em termos de qualidade da programação ou afinidade com o público.
Pois essa coluna irá contar para os anunciantes aquilo que eles se negam (espertos!) a assistir.
No início de cada Santo dia temos as maratonas dos matinais. Os regionais são uma agressão explícita a inteligência humana. Uma sucessão de acidentes automobilísticos ocorridos ao amanhecer do dia. Na versão nacional o desprezo para com a informação assume ares de um continente a ponto de um dia desses sermos brindados pelo estimulante tema "segurança dos motociclistas", com direito a entradas ao vivo e até uma demonstração de um air bag para os que andam sobre duas todas. Tudo isso lá pelas 8 horas da manhã.
O resto do período matinal é povoado por um tipo de programa transgênico, sem personalidade que mistura receitas culinárias com dicas de saúde. Esses são seguidos por jornalísticos (esporte e atualidade) que padecem de pautas bem elaboradas e apresentadores convincentes. Na longa tarde se acumulam reprises. Quando não de filmes, de qualquer outra coisa que, com certeza, já foi assistida pelos brasileiros.
A teledramaturgia de toda noite, entremeada pelos jornalísticos, é um convite, cada vez mais aceito, ao desligamento dos aparelhos de televisão.
Os programas na faixa noturna, depois do martírio da última telenovela, são inovadores nas resenhas e mofados na produção. Antigas idéias com jovens atores e velhos atores sem idéia alguma.
Portanto, não é de se estranhar a migração da audiência da televisão para outras plataformas, inclusive por aqueles que decidem os investimentos de suas empresas em publicidade. É somente dessa forma que se compreende o fato dos índices caírem e os recursos não. Se assistissem no que investem, os anunciantes iriam perceber o que o consumidor já descobriu: a qualidade da programação da TV aberta no Brasil não justifica sua participação da divisão das verbas publicitárias.
* André Porto Alegre é sócio-diretor da Mobz
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