Geraldo Leite
26 de setembro de 2013 - 4h58
A semana foi de aniversário do rádio ou dos radialistas. E como sempre nessas horas todo o mundo é a favor do meio, todo o mundo gosta, lembram dos melhores spots e jingles, relembram os velhos tempos, em geral com foto de aparelhos dos anos 30…
Como se o rádio estivesse parado, tivesse morrido e não estivesse, nessa mesma hora que você me lê, sendo criado, produzido e transmitido ao vivo por milhares de emissoras por todo o País.
Essa sintonia, essa vida, esse acompanhamento diário, espécie de sombra sonora que nos cerca, do ponto de vista do mercado publicitário, salvo raríssimas exceções é desprezada.
Há uma distância enorme entre o que o profissional do nosso mercado (agências, anunciantes, imprensa, …) acha do rádio enquanto ouvinte e enquanto eficiência de mídia.
A lógica, deduzo, deve ser porque acreditam que a mensagem auditiva não vale nada ou muito pouco, comparada com qualquer mensagem visual, principalmente se for pela televisão. Será?
Não é possível que todas essas conversas que ouvimos (e participamos) do rádio, como também todo esse tempo ouvindo música, nos seja apagado do cérebro, não reste nada em nossa memória.
A forma do rádio se comunicar com as pessoas é como se fosse a Mangueira (escola de samba): não é melhor, nem pior – apenas diferente. A diferença, inclusive, pode ser para melhor – mais eficaz, mais profunda, mais intrinsecamente ligada à vida de quem escuta rádio – pois faz parte da sua (e da minha) vida.
Esse desgaste com que o rádio é associado, esse desprezo, contamina tudo: não paga/não produzem bons comerciais (como se a trilha da TV fosse sempre eficiente), não pagam/não contratam bons talentos (ou pagam mal aos que têm), o que faz com que realimente negativamente (se é que isso existe) a qualidade do produto radiofônico – se contamine o conteúdo.
Temos que repensar os critérios subjetivos empregados para se definir a eficácia de um meio de comunicação. O tempo que as pessoas ficam com um meio e não falo só do rádio, tem um sentido, aponta uma escolha, uma preferência, uma prioridade.
Acho que profissionais de comunicação que trabalham para diferentes meios poderiam dar um bom depoimento sobre as singularidades e a força do rádio. Eu fico imaginando, por exemplo, o que um jornalista como Ricardo Boechat que é âncora da Band News FM, apresenta o Jornal da Band e também escreve na Isto é, nota de diferença quando fala no rádio. Lá ele não é só um apresentador, muito menos o redator de uma matéria, mas é aonde ele está mais inteiro – no rádio, ironicamente, só pela voz, é quando a gente o enxerga melhor, nota as ênfases, a opinião, a alegria, o prazer, a cumplicidade com os seus ouvintes e a bronca no que tem que ser criticado.
Como é que pode uma coisa dessas, por ser no rádio, “não valer nada”?
* Geraldo Leite é sócio-diretor da Singular, Arquitetura de Mídia
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