Como os candidatos à presidência usaram as redes sociais?

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Como os candidatos à presidência usaram as redes sociais?

Importância da estratégia digital se consolida na disputa pela presidência e desafio das fake News são uma constante, ainda que a sociedade esteja mais consciente


8 de novembro de 2022 - 10h09

Há pouco mais de uma semana chegou ao fim o processo eleitoral que culminou na eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a Presidência da República, com 50,9% dos votos válidos. Ele disputou o segundo turno com o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), que recebeu 49,1% dos votos válidos.

O resultado fez do pleito o mais disputado desde a redemocratização do País, já que a diferença percentual a favor de Lula é a menor já registrada por um presidente eleito.

 

Como os candidatos usaram as redes sociais

Salvador, Bahia, Brasil – 2 de outubro de 2022: mesários trabalhando na seção eleitoral de uma escola pública, durante as eleições, na cidade de Salvador (Crédito: João Souza/ Shutterstock)

Com a disputa acirrada, a comunicação com o público por meio das redes sociais foi um dos grandes investimentos das campanhas. A relevância das mídias digitais para a política, no entanto, não é uma novidade.

Em dezembro de 2019, o Instituto DataSenado, em parceria com as Ouvidorias da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, desenvolveu uma pesquisa sobre a influência crescente das redes sociais como fonte de informação para o eleitor. Das 2,4 mil pessoas entrevistadas, 45% afirmaram ter decidido seu voto levando em consideração informações vistas em alguma rede social.

Em paralelo, as fake news se tornaram um problema cada vez mais latente. Desde o início da campanha eleitoral, as empresas de tecnologia responsáveis pelas redes sociais apresentaram uma série de ações para tentar minimizar a desinformação em suas plataformas. Para os analistas, o fenômeno não esteve menos presente nas Eleições de 2022. A sociedade e as big techs, no entanto, estão mais conscientes de seu efeito.

Fake news e desinformação

“Temos visto desde 2018 a desinformação ser usada como estratégia Política. Uma dessas estratégias é a propaganda negativa, usada para descredibilizar um adversário”, aponta Eliana Loureiro, mestre em Comunicação e Consumo, coordenadora na Fundação Armando Alvares Penteado e professora na ESPM e Belas Artes. Ela cita a propaganda televisiva da campanha de Bolsonaro que afirmava que Lula tinha sido o candidato mais votado nos presídios. A peça foi considerada distorcida e retirada do ar pelo Tribunal Superior Eleitoral.

O mesmo aconteceu com a propaganda eleitoral de Lula que associava Bolsonaro a prática de canibalismo. “Mas de que adianta isso no tribunal da internet? A propaganda já tinha feito seu trabalho e pôde continuar sendo replicada nos aplicativos de mensagem como WhatsApp”, questiona a coordenadora da Faap.

Apesar disso, a mestre em Comunicação e Consumo enxerga avanços. “De 2018 para agora em 2022 e mesmo nas eleições de 2020, tivemos muitos aprendizados de como lidar com a desinformação. As plataformas de redes sociais passaram a se responsabilizar mais e assumir o compromisso de combater a desinformação, com o entendimento de que é algo que perturba o ecossistema de informação”, aponta.

Eliana acrescenta: “A opinião pública também parece um pouco mais consciente de que informação que está na internet ou que recebe pelos aplicativos de mensagem pode não ser verdadeira. O TSE também foi mais atuante e célere em suas ações”.

Eduardo Tessler, sócio-diretor da consultoria empresas de comunicação Mídia Mundo, compartilha dessa opinião. “Há uma máxima que diz que o vírus sempre se desenvolve mais rápido que o antivírus. Nesse caso a lógica é a mesma: toda e qualquer regra que se cria para disciplinar e regulamentar a distribuição de conteúdo por redes sociais acaba atropelada por uma nova forma de propagar a informação, nascida depois da regulamentação”, aponta o consultor.

“Ou seja, é impossível controlar as redes. E não se trata de má vontade dos administradores, mas de algo que nenhum algoritmo, até agora, consegue fazer”, acrescenta Tessler.

Como os candidatos usaram as redes?

Por meio da plataforma de monitoramento Fanpage karma, a professora Eliana Loureiro analisou o desempenho dos candidatos nas redes sociais. A análise foi feita em duas frentes. Uma no primeiro turno, entre 16/08 e 02/10, e no segundo turno, compreendendo o período de 03/10 até 30/10.

No primeiro turno, Loureiro relacionou os tops cinco perfis com maior crescimento de seguidores e interação por postagem. O TikTok de Felipe D’Ávila (Partido Novo) foi o que conseguiu melhor resultado nesse métrica. Ele foi seguido pelo YouTube de Soraya Thronicke (União Brasil), o TikTok de Lula, de Ciro e o de Bolsonaro.

“Ou seja, o TikTok apresentou bons resultados para os candidatos, mas não foi para a rede em que mais produziram conteúdo. Os candidatos, em geral, produziram mais conteúdo para o Twitter”, analisa a mestre em comunicação e consumo. Na primeira parte do pleito, o candidato com maior número de postagens por rede, por dia, foi Ciro Gomes. Ele registrou uma média de 23 postagens no Twitter, 16 no Facebook, 13 no Instagram e 5 no TikTok.

Já quando a métrica é o número de fãs, Bolsonaro é o vencedor. Na comparação com os concorrentes, ele tem o maior número de seguidores em todas as redes sociais. No segundo turno, Bolsonaro manteve a liderança em número de fãs, mas Lula liderou a produção de conteúdo.

O candidato do PT registrou uma média diária de 35 postagens no Twitter (contra 8,7 de Bolsonaro), 13 no Facebook (contra 9 de Bolsonaro), 6,5 no Instagram (contra 5,1 de Bolsonaro), 3,1 no TikTok (contra 2,1 de Bolsonaro).

“Provavelmente, Facebook tem este protagonismo devido à idade dos eleitores (sabemos que é uma rede que agrega o público mais velho) e o Twitter é uma rede conhecida por ser utilizada pelo debate político. Além do fato, claro, de que essas redes fomentam o debate, ao contrário de TikTok e YouTube”, analisa a autora da pesquisa e responsável pelo monitoramento.

Os aprendizados de 2022

Para os analistas, há, sem dúvidas, uma consolidação da importância do digital nas campanhas políticas. “E acho que o digital está ganhando uma importância maior no desenvolvimento das campanhas, que não tinha anteriormente. A compreensão de que é preciso falar a linguagem da internet, com o desenvolvimento de memes para passar rapidamente uma mensagem. Cada meio tem sua linguagem e a comunicação política deve se adaptar para chegar a esse novo eleitor. As definições de campanha política foram atualizadas. Quem não pensa no digital e não sabe falar a linguagem de cada meio, perde relevância e, portanto, a chance de ser eleito”, aponta Eliana Loureiro.

O sócio-diretor da Mídia Mundo reitera: “Há uma evolução natural nas campanhas. Se a audiência está muito mais conectada por redes do que através de veículos tradicionais, é preciso repensar a estratégia de rádio e TV que as campanhas desenvolvem – inclusive os debates. A divisão do país – a partir das eleições mais equilibradas de todos os tempos – é também reflexo deste trabalho muito bem-feito por responsáveis pela estratégia digital”.

“Antigamente as eleições se decidiam em palanques, comícios. Depois carreatas e páginas de jornais. Em seguida, debates na TV. Agora é a era digital, onde não há possibilidade de controle. Pior, a tecnologia já permite que se utilize o ‘deep fake’, onde candidatos aparecem dizendo coisas que nunca disse – obra de seu adversário. É preciso repensar as lógicas e reinventar esse período de campanha”, acrescenta Tessler.

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