Jonas Furtado
29 de setembro de 2015 - 11h00
Um dos grandes destaques dentre os seminários a serem realizados durante a edição 2015 do MaxiMídia será a apresentação de Caleb Gardner.
Ele é diretor digital da Organizing for Action, uma fundação sem fins lucrativos que trabalha para engajar pessoas e definir as estratégias de ação em prol das causas progressistas defendidas publicamente pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama – como uma política mais amigável para imigrantes, a melhor distribuição da riqueza, o acesso a uma rede de saúde de qualidade para todos e a expansão e proteção dos direitos das mulheres.
Também é sócio da 18 Coffees, consultoria por meio da qual tem a missão de estabelecer o mesmo tipo de conexão entre pessoas que compartilham paixões e valores, mas a serviço das marcas e empresas que contratam seus serviços. Com uma formação multidisciplinar que inclui História, Artes, Música, Design Gráfico e Marketing, Gardner é um dos expoentes da nova geração de pensadores que vem desvendando os códigos que levam à multiplicação em escala do engajamento propiciado pelo uso eficiente das redes sociais e plataformas mobile.
O MaxiMídia acontece em 6 e 7 de outubro, no hotel Unique, em São Paulo. A palestra de Gardner será no primeiro dia.O evento conta com patrocínio de Editora Abril, Globo, Google, Ibope Media e Record.
Construindo um movimento
Penso num movimento como um grupo de pessoas que compartilham uma paixão específica, certos valores e objetivos comuns, e trabalham em conjunto para alcançá-los. Tudo começa com uma missão solidamente articulada. Um movimento quer e precisa de progresso – e é exatamente isso que o diferencia de outro grupo qualquer de pessoas com interesses similares. Um clube de livros une um grupo de aficionados por livros. Mas só se torna um movimento quando essas pessoas começam a tentar mudar a forma como o segmento editorial e as empresas nele inseridas publicam suas obras.
Do público ao privado
Não acho que, funcionalmente, haja muita diferença na dinâmica de engajar pessoas quando se trabalha para o poder público ou para empresas privadas — ou, ao menos, não deveria haver. Organizações que trabalham voltadas para o bem estar público tem, obviamente, o compromisso de organizar as pessoas em prol da sociedade, mas as companhias privadas estão enganando a si mesmas se pensam que podem ignorar os desejos de seus stakeholders e continuar a usar um padrão vertical para falar com o público, empurrando a própria visão de cima para baixo, por meio de seus meios tradicionais de comunicação.
Engajando pessoas em escala
Tudo começa com o reconhecimento de que pessoas são indivíduos com seus próprios desejos, preferências e crenças. E elas esperam serem reconhecidas desta maneira. Tratá-las como um mercado significa estereotipá-las de tal forma que leva à frustração e à indiferença. Com as ferramentas digitais, podemos construir relações significativas em escala.
Ser presente sem ser intrusivo
Gostamos de pensar no mobile como uma plataforma, mas, na verdade, é um comportamento — afinal, as pessoas estão sempre em movimento. E é assim que elas gostam de obter as informações que precisam, e cada vez mais é a maneira pela qual gostam de se engajar. Ser intrusivo em qualquer plataforma é uma má ideia — mas é ainda pior em uma plataforma concebida para ser veloz e dinâmica.
Marcas e causas públicas
Sim, sou a favor (que marcas assumam serviços públicos negligenciados pelo Estado), mas com muito cuidado. Tem que ser algo que faça parte da missão à qual a marca se propõe. Não pode soar forçado. Há muitas oportunidades para se criar valor social verdadeiro, mas a primeira questão que as companhias devem perguntar a si mesmas dentro deste cenário atual é: qual é o nosso propósito com tudo isso? “Ganhar dinheiro”, por si só, não é mais uma resposta aceitável — assim como esquivar-se de assumir uma posição firme também não é.
Um sonho americano coletivo
Sem dúvida (está ganhando forma entre os jovens). É por isso que as eleições nos Estados Unidos tendem a mostrar que os jovens americanos são mais progressistas em relação a questões como imigração e casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Para mim, as novas gerações estão mais acostumadas com a democratização da informação porque, ao contrário de seus pais, elas cresceram com acesso direto a diferentes pontos de vista que coexistem.
Redes sociais e as questões globais
Para se conseguir algum progresso em grandes questões sempre foi necessária uma combinação de atenção da mídia e engajamento um a um. As redes sociais tem um papel estratégico nessas duas pontas. Social é também mais do que um canal — é um reflexo de como as pessoas se comportam. E as pessoas têm empatia por outras desfortunadas, a enfrentar situações trágicas. Elas precisam apenas de organizações ágeis e presentes para darem os primeiros passos concretos que podem colocá-las no grupo daqueles que realmente fazem a diferença.
Esta entrevista está publicada na edição 1679, de 28 de setembro, exclusivamente para assinantes do Meio & Mensagem, disponível nas versões impressa e para tablets iOS e Android.