DTV+: os investimentos e desafios da TV 3.0
Executivos do setor avaliam como será a migração para novo padrão, previsto para junho de 2026

O início da transição para DTV+ está previsto para acontecer a partir da Copa do Mundo da Fifa, em junho de 2026 (Crédito: Stock Asso/ShutterStock)
O Ministério das Comunicações (MCom) estima que a migração para o novo padrão da TV aberta brasileira, conhecido como DTV+ ou TV 3.0, demandará investimento inicial de cerca de R$ 3,8 bilhões.
Esse valor, de fato, se refere apenas aos investimentos para aquisição de transmissores nas 15 maiores regiões metropolitanas do País.
Para isso, o governo divulgou iniciativas para viabilizar linhas de crédito em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento, Banco Mundial e BNDES.
Ainda, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação destinará R$ 25 milhões para o desenvolvimento de novas aplicações.
A estimativa inicial de R$ 3,8 bilhões, segundo Cristiano Lobato Flôres, presidente-executivo da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), é consistente com as premissas e escopo do estudo “Relatório de Investimento da TV 3.0”, do Fórum SBTVD.
Esse estudo, de fato, calculou o valor para investimentos, exclusivamente, para sistemas de transmissão de TV 3.01 em grandes mercados.
DTV+: projeções realistas
Paulo Henrique Castro, presidente da Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET) entende que o valor é uma projeção realista para a fase inicial de transição.
Essa fase tem foco em infraestrutura de transmissão, ou seja:
– Na substituição e instalação de transmissores de alta potência, combinadores, filtros, moduladores e core de codificação
– E demais elementos necessários para operar nas novas faixas de frequência do DTV+ no novo formato de acordo com as normas ABNT.
No entanto, Castro enfatiza que a migração envolve variáveis técnicas que podem influenciar no custo total como:
– densidade de cobertura,
– requisitos de robustez de recepção,
– maior eficiência energética e espectral
– e eventuais ajustes adicionais em infraestrutura de telecomunicações e radiofrequência, que podem aproveitar, em muitos casos, as torres existentes.
“Espera-se também que a implantação se beneficie de economias de escala, padronização de soluções e maturidade industrial, reduzindo custos unitários conforme o ecossistema se desenvolve e se organiza”, complementa o presidente da SET.
Estimativa inicial para DTV+ não inclui conteúdo
Vale destacar que a estimativa inicial, estritamente focada na infraestrutura de transmissão, não engloba:
– produção de conteúdo nativo para a TV 3.0
– capacitação em inteligência artificial (IA) e ciência de dados
– desenvolvimento de software e aplicativos (incluindo t-Commerce e publicidade endereçável)
– e infraestrutura de back-office e automação.
Segundo Castro, esses componentes virão depois da preparação da infraestrutura de transmissão, de acordo com a estratégia de cada radiodifusor e do apetite de experimentação e inovação em modelos de negócio e gestão da experiência do telespectador.
“Esses itens estarão em desenvolvimento contínuo depois que as emissoras estiverem aptas a transmitir no novo formato”, reforça.
A Abert avalia que a estruturação de crédito com a participação de organismos multilaterais é essencial para viabilizar transição para a TV 3.0.
E destaca que isso demandará grandes investimentos por parte das emissoras, ou seja, é um desafio maior para as afiliadas e as empresas de menor porte.
“O risco de concentração ou assimetria tecnológica é uma preocupação”, argumenta Flôres, da Abert.
A associação, afirma, já há algum tempo atua e debate sobre a regulamentação específica e as políticas públicas de incentivo, fomento e financiamento para garantir que a transição seja feita de modo escalonado e equitativo.
Nesse sentido, juntamente com a Associação Brasileira de Rádio e Televisão (Abratel) e o Fórum SBTVD, a Abert apresentou pleito conjunto ao BNDES para a criação de programa de financiamento de longo prazo com valor inaugural de R$ 5 bilhões.
O objetivo, segundo Flôres, é oferecer prazo total de financiamento (carência e amortização) o mais alongado possível, além de taxas incentivadas compatíveis com os programas de inovação e com políticas-públicas de transformação digital a todas as entidades concessionárias e autorizatárias de rádio e televisão no Brasil.
O impulso da Copa
O início das transmissões comerciais do novo padrão de TV aberta no Brasil está previsto para acontecer concomitante à Copa do Mundo da Fifa, em junho de 2026, pelas grandes capitais do País.
Flôres enfatiza que a transição será gradual com convivência entre a TV 2.X e a TV 3.0 por um período de dez a 15 anos.
Mas, observa, as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro e Brasília, são consideradas praças prioritárias para iniciar a operação em junho de 2026.
“O ciclo inicial será marcado pelo uso de conversores, enquanto as TVs integradas chegarão posteriormente, com preços sendo reduzidos à medida que houver ganho de escala”, diz Flôres.
A Copa, afirma o executivo,deve acelerar as vendas, mas que esse efeito será faseado, e não explosivo.
A Copa, portanto, é o palco ideal, segundo Castro, da SET, para apresentar, em escala nacional e com forte apelo emocional, as vantagens tangíveis do DTV+.
Possibilidades da DTV+
Entre essas vantagens estão a qualidade de imagem em 4K e HDR, o áudio imersivo, com possibilidade de personalização, as possibilidades interativas com dados sincronizados e experiência mais fluida, estável e gratuita.
“Esta experiência sensorial, em demonstração prática, poderá induzir decisivamente a primeira onda de substituição, principalmente entre os early adopters e consumidores com maior poder aquisitivo”, complementa.
No entanto, o executivo pontua que, para que esse impulso inicial se transforme em ciclo contínuo de renovação, é essencial que o mercado ofereça, logo após a Copa, uma grade permanente e atrativa de conteúdos em DTV+ que justifique o investimento.
Em maio deste ano, a Globo apresentou, no Rio de Janeiro, uma estação piloto da DTV+, para demonstrar o investimento e preparação para a TV 3.0.
Recentemente, a Algar, empresa do Grupo Algar, anunciou uma parceria com a TV Integração, afiliada de Minas Gerais da Globo, para experiência de interação na TV 2.5, que já antecipa o novo padrão da DTV+.
Gargalos técnicos e regulatórios
Apesar do modelo estratégico de financiamento, o presidente da Abert reconhece que desafios operacionais podem impactar o cronograma da migração para a TV 3.0, caso a linha de crédito final seja complexa, menos acessível ou lenta para emissoras de diferentes portes.
Entre os gargalos que podem comprometer o início das operações, destacam-se os técnicos relacionados à logística, entrega de equipamentos, instalação e testes.
No entanto, segundo o presidente da Abert, os desafios regulatórios, com destaque para a definição do arcabouço regulatório e das políticas de introdução da TV 3.0 – prioritariamente a atribuição da faixa de 300 MHz, o plano de canalização e a definição dos atos de requisitos técnicos – são críticos.

