“É preciso se antecipar ao que ainda vai acontecer”, diz CEO do Porta dos Fundos
Thiago Lopes acredita que a indústria do entretenimento precisa se habituar a lógica de tentativa e erro para surpreender o público
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Bárbara Sacchitiello
8 de setembro de 2023 - 6h00
Thiago Lopes dedicou boa parte de sua carreira a auxiliar marcas a se conectarem com o público, dentro de agências de publicidade. Já nos últimos oito anos, ganhou a missão de desvendar o que levava a pessoas a optar por diferentes estilos de entretenimento, quando liderou o pilar de marketing da Netflix no Brasil.
Desde abril, quando assumiu o cargo de CEO do Porta dos Fundos, o executivo vem combinando um pouco dessas duas expertises. Ao longo de onze anos de história, o que era um canal de humor no YouTube tornou-se um hub multiplataforma de conteúdo, com produções que vão da TV aberta ao cinema, passando pelo streaming – e sem deixar de lado os canais digitais.
Essa passagem de tempo fez com que o Porta dos Fundos, na visão do CEO, mudasse a maneira pelo qual enxerga as eventuais críticas e ganhasse um entendimento maior a respeito da importância de dialogar com diferentes pensamentos.
Em entrevista ao Meio & Mensagem, Lopes falou sobre os desafios de atender a uma audiência que anseia que anseia cada vez mais por conteúdos – e cuja atenção se fragmenta a cada dia. “Acho que é menos sobre perguntar, literalmente, e fazer um benchmark atrás do outro e mais ajustar a antena para captar essa sensibilidade”, pontuou.
Veja alguns trechos da entrevista com o CEO do Porta dos Fundos, cuja íntegra foi publicada na edição semanal de Meio & Mensagem.
Meio & Mensagem: O Porta dos Fundos sempre foi muito criticado e despertou diferentes opiniões. Como acha que a empresa aprendeu a lidar com isso ao longo dos anos?
Thiago Lopes: Acho que o Porta dos Fundos se entendeu como um negócio ao longo desses mais de dez anos. Essa é, aliás, uma mudança importante pela qual a empresa passou: ela saiu de uma célula criativa do YouTube para se tornar algo potente, do ponto de vista de negócios. E, na medida em que a empresa se entendeu desse jeito, ela também entendeu que certas coisas têm efeito mais importante para o negócio do que o efeito individual que aquela crítica possa trazer. É da minha gestão e também é do entendimento dos sócios, que não vale a pena processar as críticas que vêm de forma hiper pessoal, e que é melhor entender aquilo sob a ótica de uma marca que é referência para o País inteiro, que dialoga com pessoas de origens, opiniões e perspectivas de mundo muito diferentes e pensar como conseguimos fazer nosso papel de um jeito produtivo, que impulsione a marca e o negócio dentro dessa matemática toda.
M&M: Com o consumo de conteúdo cada vez mais fragmentado e pulverizado, como é possível conseguir ser relevante e chamar a atenção das pessoas e, ao mesmo tempo, atender seu anseio por conteúdo e entretenimento?
Lopes: Muitas vezes, quando perguntamos às pessoas o que elas querem, muitas vezes elas não têm o vocabulário necessário para apontar. As coisas que quebram paradigmas conseguem fazer isso porque trazem possibilidades que, até então, ninguém tinha pensado antes. Então, acho que é menos sobre perguntar, literalmente, e fazer um benchmark atrás do outro e mais ajustar a antena para captar essa sensibilidade. Às vezes, fazemos uma observação de algo sobre o qual as pessoas estão começando a falar e é preciso ter coragem de se antecipar e dar dois passos à frente, criativamente, em relação ao que sentimos que ainda vai acontecer. Para mim esse é o jeito de conseguir ganhar os louros digitais de quem conseguiu chegar primeiro em determinado assunto. E isso tem muito a ver com a necessidade de nos habituarmos a essa lógica de tentativa e erro, porque envolve muitos riscos. E, para os universos de marcas e de entretenimento, isso não é muito comum. Acho que nossa atenção é melhor investida quando aponta para algum lugar que toca o nervo das pessoas e esse é um exercício importante de se fazer.
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