Nas redes sociais ainda somos adolescentes
O panóptico social está silenciando as redes e matando a conversação coletiva
O panóptico social está silenciando as redes e matando a conversação coletiva
Meio & Mensagem
19 de abril de 2013 - 2h37
Por Eric Messa
É comum ouvir por aí que as redes sociais evoluíram muito ao longo dos últimos anos, mas, e nós? Evoluímos junto com as redes?
Costumo comparar nossa evolução nas redes com o desenvolvimento de uma criança. Quando surgiram as primeiras plataformas sociais, éramos livres de qualquer experiência, assim como uma criança pequena. Publicávamos de tudo, sem filtros. A conversa acontecia espontaneamente. Aprendemos e trocamos experiências com desconhecidos. Como num parquinho.
Nessa época achávamos que as redes sociais seriam a salvação da democracia. Ideia muito semelhante àquela de que o mundo seria melhor se fosse regido por crianças de pensamento puro. Ainda acredito que as redes sejam uma grande ágora virtual, porém não sou ingênuo. Nenhuma rede, por si só, é capaz de salvar o homem dele próprio.
Mas naquela época (poucos anos atrás) éramos crianças brincando na rede. Falávamos de tudo. “O que você está fazendo agora” era motivo para iniciar uma conversa e, no meio disso tudo, respingavam centelhas de conhecimento. Boas ideias surgiram assim; e depois transformaram-se em startups de sucesso.
Os anos passaram e nossa relação com as redes deixou de ser semelhante ao comportamento de uma criança. Passou a parecer-se mais com um adolescente. Daqueles revoltados e críticos em relação a tudo. Que acreditam ser donos do mundo, ditando regras de comportamento. O que pode, ou não, ser publicado nas redes.
Quando comentei esse assunto nas redes sociais em que estou presente, a Mariela Euzébio lembrou que essas “regras de conduta” têm inibido a participação de muitas pessoas que, por sua vez, passaram a atuar apenas como meros “ouvintes” das redes. Ou seja, criamos uma espécie de panóptico social que está silenciando às redes e matando a conversação. Se antes o “grande irmão” era o governo, hoje somos nós mesmos.
Outra característica desta nossa época: tudo o que é publicado tem a intenção de angariar novos “seguidores”. É por isso que a Rosana Hermann chamou de “era da intenção”. Há sempre um propósito por trás de cada publicação, que, em geral, visa ao status social.
Há, claro, diferenças entre as estruturas das diversas redes (Twitter, Facebook, Google+, Instagram etc.) que acabam influenciando a sua dinâmica. A Ligia Pfeffer e o Fábio Maschi ressaltaram inclusive como a simplicidade do Twitter muitas vezes favorece a interação, apesar da limitação de caracteres. Por isso é bastante utilizada pela televisão (a tal da “social TV”).
No Twitter, a troca pública e coletiva acontece com mais facilidade. Já no Facebook, sua estrutura prioriza a criação de “guetos”. “Seguir” no Twitter é o mesmo que “acompanhar” no Facebook, mas todos preferem “adicionar como amigo” e em consequência, restringem o círculo de contatos. Durante minha conversa aberta nas redes, a Elisa Pequini lembrou que “não precisa e nem deve ser assim”. Na visão dela, usuários das redes que só seguem amigos próximos desistem facilmente da rede. É bem possível.
Dito isso, acredito que, chegamos num estágio em que mais do que analisar a estrutura de cada uma das redes, é essencial pensarmos que uso queremos dar para a ferramenta. O que, afinal, queremos potencializar nas redes sociais?
Particularmente penso que não poderíamos deixar morrer a conversação coletiva das redes que foi prenunciada, ainda em 1999, pelo famoso Manifesto Cluetrian. É preciso evitar a inibição que essa onda do panóptico social causa nos usuários das redes.
Outro ponto que prezo muito é o espírito colaborativo, que é intrínseco às redes, mas várias vezes é deixado de lado. É a colaboração que está movendo grande parte da revolução que vivemos na propaganda e, também, em outros mercados.
Foi inclusive para exercitar o poder colaborativo das redes que realizei a seguinte experiência: construir esse texto que você lê agora, baseado nas conversas que estabeleci no Twitter, Facebook e Google+. As frases que aparecem nesse artigo eu publiquei nestas redes acompanhadas da hashtag #VaiProArtigo. A partir delas, estabeleci conversas coletivas com outros usuários que espontaneamente motivaram-se a participar. Minha conclusão dessa experiência: nem tudo está perdido.
Em alguma outra oportunidade, quero dar continuidade para a proposta do “#VaiProArtigo”. Infelizmente meu período como articulista desta coluna termina nesta edição. Reservo minhas últimas linhas para agradecer àqueles que acompanharam meus artigos; e também à equipe editorial de Meio & Mensagem. Nos vemos pelas redes.
Eric Messa é Professor da Faculdade de Comunicação e Marketing na Faap/SP. Planejamento criativo em mídias digitais é hoje seu dia a dia profissional acadêmico. Este artigo foi publicado na edição 1551 do Meio & Mensagem, de 18 de março.
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