Procuram-se produções brasileiras
Mercado das produtoras já se agita por conta da nova regulamentação de TV paga, que obriga os canais a exibir mais atrações feitas no País
Mercado das produtoras já se agita por conta da nova regulamentação de TV paga, que obriga os canais a exibir mais atrações feitas no País
Bárbara Sacchitiello
9 de agosto de 2012 - 12h03
* Com Sandra Regina da Silva
Na edição de 2012 da Feira da ABTA (Associação Brasileira de TV por Assinatura), não se falou em outra coisa. A implementação da nova Lei do setor que, entre outras atribuições, estipula um percentual mínimo de conteúdo brasileiro por canal pago – e também, um mínimo de canais nacionais nos cardápios das operadoras – é um dos principais desafios para toda a cadeia da TV por assinatura. Se para os canais internacionais essa obrigatoriedade representa uma preocupação, para o setor das produtoras, a nova Lei surge como uma fonte de novos negócios.
A reportagem de capa do Especial TV por Assinatura, que circulou com a edição 1521 de Meio & Mensagem, destacou a preparação a expectativas do mercado em relação à nova regulamentação. Entre os temas abordados no especial estão os frutos positivos que as produtoras já vêm colhendo, uma vez que os canais precisarão de mais conteúdo brasileiro e são elas que estão aptas a fornecê-los.
O produtor e diretor Marco Altberg, presidente da Associação Brasileira de Produtoras Independentes de TV (ABPITV) conta que, mesmo antes de a regulamentação ser publicada, já se notava uma movimentação no setor para se antecipar a legislação. Na própria Feira da ABTA, o diretor geral da Turner no Brasil, Anthony Doyle, falou que a programadora já está, há tempos, de olho nas produções brasileiras para inseri-las na grade de seus 13 canais. Essa procura, no entanto, deverá se tornar mais frenética a partir de agora, quando os prazos dados pela Agência Nacional de Cinema (Ancine) para a adaptação às regras começam a encurtar.
“Notamos sim um aumento na demanda por trabalhos”, admite João Daniel Tickomiroff, chairman da Mixer. “Por enquanto, os canais estão mais interessados em comprar produções prontas, pois precisam inserir conteúdo brasileiro em suas grades com certa agilidade. Mas, assim que essa adaptação inicial passar, certamente aumentará a procura por produções mais específicas e novas”, acredita o executivo. Nesta semana, inclusive, a Mixer lançou mais uma atração nacional, desta vez em parceria com o Discovery Channel. Trata-se da série Desafio em Dose Dupla (versão brasileira do norte-americano Dual Survival). Esse programa, no entanto, não entra na cota de produções nacionais do canal uma vez que a Ancine não considera como genuinamente brasileira as versões de formatos internacionais.
Mudança de cultura
Além de aquecer os mercados das produtoras, a nova regulamentação também pode auxiliar a mudança da cultura de produções na TV brasileira. Diferentemente do que ocorre em muitos países, aqui é de tradição que a própria emissora de TV (sobretudo as abertas) usem sua própria infraestrutura, tecnologia e equipe para produzir as atrações. Com isso, as produtoras acabaram um pouco à margem do circuito televisivo. “Como essa cultura persiste entre as emissoras abertas, são os canais pagos que abriram o mercado para a produção independente na TV e, agora, com a Lei, já percebemos que a demanda aumentou”, disse Luis Antônio Silveira, produtor executivo da Conspiração, durante a ABTA.
A Bossa Nova Filmes é outra produtora que registra uma corrida dos canais pelas produções. “Estamos produzindo vários conteúdos e temos diversos projetos, a maioria para exibição entre o final deste ano e o início de 2013”, conta Edu Tibiriçá, sócio e produtor executivo da empresa. A produtora está com um foco especial em séries de ficção, desenvolvendo quatro projetos. Além desse, também há a produção de projetos factuais para GNT, Discovery Channel, Discovery Home & Health, Vh1, Cartoon Network, A&E e Fox.
A corrida pelas produções brasileiras pode, também, propiciar uma exposição maior do trabalho nacional, segundo Bilai Joa Silar, vice-presidente do Discovery Channel na América Latina. Ela usa como exemplo a série Águias da Cidade – que deverá entrar na grade do canal em setembro. Também assinada pela Mixer, a série, que mostrará a rotina do trabalho da polícia militar em seus helicópteros, foi toda concebida e produzida no Brasil. “Esse é um trabalho totalmente brasileiro. Nossa ideia é balancear, trazendo para cá formatos bem sucedidos lá fora e também exportando produções boas que tenham sido feitas aqui”, explica a executiva.
* Mais informações sobre os impactos da nova regulamentação da indústria dos canais pagos estão no Especial TV Por Assinatura, que circula esta semana, junta com a edição 1521 de Meio & Mensagem.
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