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Opinião

A leitura, o ruído e o Alzheimer social

Ler é um exercício mental que permite organizar ideias, desenvolver argumentos e senso crítico. Ou seja, sem leitura, sem assunto ou discussões saudáveis


27 de junho de 2023 - 6h00

A sobrecarga de informações é uma realidade do cotidiano (Crédito: Divulgação)

Compreender símbolos primitivos, representar ideias e bem depois ler e escrever, determina uma evolução fundamental humana. Com a escrita, a lupa embaçada da história fica mais nítida, discorrendo os detalhes dos fatos no ritmo de batimentos de corações. Uma brisa passa pelo rosto do leitor, abrindo portas para todos os tipos de sentimentos e sensações, ou gerando pânico e desespero, como um tufão passando pelo corpo de quem lê. Tecnicamente um exercício mental que permite a organização de ideias, desenvolvimento de argumentos estruturados e senso crítico apurado. Ou seja, sem leitura, sem ideias ou argumentos, sem assunto ou discussões saudáveis. Um pouco do quese vê por aí.

A informação ocupa nossa necessidade ancestral de saber o que está acontecendo ao lado ou em qualquer outro lugar imaginado. Fundamental para sobrevivência, mesmo que quase nada seja fundamental para sobrevivência no mundo automático, do conforto e da praticidade atual. Com o delivery de opiniões fastfood gratuito, mídia aparentemente democrática e descentralizada, parecia que tudo seria mais fácil, o que era somente uma ilusão. Telas que seriam filtros para o mundo, tornam-se lentes para distorcer a realidade. O excesso de informações e a quantidade multiplicadora de ruídos produz uma mídia poluída, permanentemente trapaceada com fakes news e todos os tipos de manipulações, exigindo um garimpo desafiador para separar verdade de desinformação.

No alvoroço de notícias, informações e afins, os títulos das matérias já terminam com ponto final, em meio a conteúdos diversos trafegando em alta velocidade pelas redes sociais, reforçando a tendência do cérebro humano de valorizar mais aquilo que já é sabido. São impactos de informações em fragmentos, em “looping” e em micro telas beirando a loucura. Informações por espasmos, pulando as notícias com os dedos, passando de forma automática pelos detalhes, descartando etapas e pulando processos. A instantaneidade digital, como jogar videogame ou manipular um aparelho celular, tomando as rédeas de humanos 100% analógicos.

Torna-se fundamental reconhecer que a tecnologia avança numa velocidade cada vez maior, superando a capacidade de adaptação das pessoas aos impactos das suas mudanças. A sobrecarga de informações é uma realidade do cotidiano, se sobrepondo ao que é essencial ou importante. Seguindo o fluxo, a vida segue na efervescência das informações, troca de estímulos a cada instante e tropeços em fragmentos de informações, o que acaba derrubando todo mundo ao mesmo tempo. Uma espécie de Alzheimer social, descrevendo uma sociedade caduca, sem lucidez, repetitiva, intransigente, impaciente e teimosa, onde o bombardeio de informações a todo instante soterra o conhecimento, ainda mais quando ele já pode vir instantâneo, embalado em chats de inteligência artificial generativa.

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