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A reação do Leão

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Opinião

A reação do Leão

A expansão de temas, prêmios e público do Festival de Cannes obviamente obedece a uma lógica comercial, mas também reflete fielmente o desenvolvimento e as simbioses da indústria da comunicação


30 de maio de 2016 - 10h25

Se os princípios da publicidade permanecem os mesmos desde os primórdios, independentemente da época — hoje, como nos anos 1930, a ideia central é estabelecer diferenciações que transformem a atração do consumidor em vendas —, a linguagem e as execuções mudaram drasticamente, acompanhando a evolução cultural da sociedade, acelerada em décadas recentes pelo aprimoramento de novas tecnologias e canais de comunicação. Atravessar seis décadas mantendo a relevância como autoridade em reconhecer grandes talentos e a excelência de trabalhos singulares dentro dessa indústria em transformação é uma tarefa hercúlea, que o Festival Internacional de Criatividade de Cannes tem cumprido dignamente, em especial nos anos mais recentes, correspondendo à legitimidade e ao protagonismo que o mercado lhe confere.

A consistência nessa movimentação tem arrefecido as críticas de quem enxerga no formato atual do evento uma grande máquina comercial — até porque não é segredo para ninguém que o Festival é gerenciado para ser o mais lucrativo possível. Sim, é fato que o excessivo número de categorias dilui o reluzir dos Leões tradicionais e o aumento do número de delegados reduz a sensação de exclusividade que um dia foi boa parte do glamour de marcar presença em Cannes.

Mas poderia ser diferente para um evento que se propõe a ser o termômetro de todo um mercado, que não para de ampliar seu alcance? A expansão de temas, prêmios e público reflete o desenvolvimento e as simbioses da própria indústria. A boa nostalgia alimenta a alma, mas sua versão pessimista despreza o futuro.

Em sua estratégia de renovação, o Festival aposta, este ano, em ampliar o espaço para a inovação com um lineup mais robusto para o Lions Innovation, enquanto uma nova área, batizada de Lions Entertainment, reforça os caminhos cruzados entre companhias de entretenimento, de mídia e agências de publicidade.

“O Festival está trazendo um conteúdo que está mais próximo dessa nova economia de compartilhamento, onde o consumidor é produtor de conteúdo, vendedor e freelancer. Essas transformações fazem as agências repensarem seus trabalhos”, afirma Fred Saldanha, diretor executivo de criação da Huge Nova York, para quem o frescor de festivais como o SXSW provocou “esse monstro adormecido em Cannes”, como declarou em entrevista à repórter Isabella Lessa, que assina a matéria de capa, sobre a evolução do Festival.

Ao mesmo tempo, segue a todo vapor a busca por maior atenção de veículos não especializados, fundamentada na escolha a dedo de palestrantes que orbitem universos mais abrangentes e sejam referências em atividades de interesse de massa — uma agenda que abre mais oportunidades de receita para o caixa do evento. Em junho, colocarão o Palais sob holofotes globais nomes como Oliver Stone, Will Smith, Gwyneth Paltrow, Iggy Pop, David Coperfield e Alejandro Iñárritu, entre outos.
Em meio a essa constelação de astros pop, brilhará também a estrela de Marcello Serpa, que receberá o Leão de São Marcos, prêmio pelo legado e reconhecimento de suas contribuições criativas históricas com a indústria da comunicação.

O brasileiro, que cultiva uma relação visceral com Cannes, será apenas o sexto profissional a receber tamanha honraria, entrando para um seleto time no qual já estão John Hegarty (fundador da BBH), Dan Wieden (fundador da Wieden + Kennedy), Lee Clow (chairman da TBWA\Media Arts Lab), Joe Pytka (diretor de cena) e Bob Greenberg (fundador da RG/A).

Bons motivos, portanto, não faltam para ficar ligado na cobertura especial que Meio & Mensagem planeja para o Festival Internacional de Criatividade de Cannes. A partir de 17 de junho, as notícias passarão a ser enviadas direto do front, com nossa equipe atualizando em tempo real, em nossas redes sociais, tudo o que acontece na Riviera Francesa, informando e analisando os cases vencedores e os destaques brasileiros em um hotsite dinâmico, além de matérias e entrevistas exclusivas na edição impressa — que você, caro leitor, começa a acompanhar já nesta semana, nas páginas 16 e 17.

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