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Opinião

A volta dos que não foram

Reflexões de quem passou um ano fora do Facebook


4 de novembro de 2015 - 9h38

Not_sure_if_I_hate_Facebook_or_people-Meme02Há exatamente um ano, tirei um sabático do Facebook. Tem gente que vai estudar em São Francisco, mochilar na Europa, meditar no Tibete. Em 2014, a máxima revolta que minha epifania de centro do universo permitiu foi viajar para fora do feici.

Relato a seguir uma breve avaliação desse período. Divido minha impressão em três relações de interesse entre eu e o FB: o jornalista, o amigo e o parente. Permeio reflexões sobre porque resolvi deixar a rede e, agora, voltar.

O jornalista
Para muitas profissões o FB é uma plataforma de extrema utilidade. É, afinal, um dos maiores distribuidores de conteúdo do mundo. E quem produz conteúdo precisa, naturalmente, estar no Facebook.

Ou não.

No meu caso, estive bem representado por uma equipe de profissionais articulados que navegam bem na plataforma e sabem utilizar com maestria suas ferramentas de distribuição. Entre eles, um especialista em analytics, talentoso na monitoração e mensuração de dados.

Uma ou duas vezes precisei buscar alguma fonte no FB e fui ajudado por alguém da equipe.
Logo, tudo certo aqui com este jornalista desconectado. Nada contra quem faz do FB uma ferramenta de comunicação. Para o que é super funcional, reconheço.

O amigo
Não senti a mínima falta da sua selfie no carro, com o gato, na academia, da-turma-sorridente-abraçada-bebadinha na balada, ou do seu perfil no contra-luz do sol-poente. Nem das suas hashtags #tudodebom #love #friends #summer #nofilter #amomuitotudoisso #bff #energia #vidanova #family #tbt.

Para falar bem a verdade, eu me senti muito aliviado por não ter de ler suas inteligentíssimas análises sobre a guerra na Síria, o mensalão mineiro ou a ciclovia do Haddad.

Senti falta de agenda. Sim. Os guias de cultura que costumavam ser minha referência para fazer coisas legais na era pré-cambriana ao FB não conseguiram, em sua maioria, realizar uma transição boa para o digital. Ainda servem para ver programação de teatro e cinema, e só. As postagens dos amigos eram a melhor fonte para saber de shows, baladeenhas, passeios, expos… Disso senti falta.

O parente
Minha família não é muito grande. Pelo menos o núcleo mais próximo e mais amado é uma dezena de pessoas, mais agregados. Então achei que seria fácil transferir a porção mais digitalizada do carinho familiar para outros recantos.

Ledo engano.

O povo lá curte um feici. E minha família não agita muito no Whatsapp.

Tudo bem, moramos razoavelmente perto, nada que não possa ser substituído por uma visita ou um telefonema.

Ledo engano parte 2.

Uma porção muito amada da família está a 9 mil quilômetros de distância e publica no FB, o tempo todo, fotos de um serzinho fofo que chegou a esse mundão há pouco mais de um ano. Olha ele aí:

William-CRED-Igor_Ribeiro

Meu sobrinho é o bebê mais lindo nascido em 2014 e fim de papo

Sim. A família pesou na volta ao Facebook.

A sensação mais chata era me sentir excluído das conversas quando encontrava a turma nacional falando da turma do estrangeiro.

Então, social media, aqui me tens de regresso.

Vou reestabelecer esses laços digitais. Mas de forma mais serena. Afinal meu sabático começou quando me dei conta de que estava ficando tempo demais por lá.

Considerações finais
Desde antes de 4 de novembro de 2014 já atravessava uma espécie de detox do FB. Fui de um hard user até voyeur do UFC eleitoral do ano passado (também usava o messenger, é verdade). Passava tempo demais ali, mais do que eu gostaria. Gosto de comparar à espécie de atração mórbida que faz curiosos cercarem um corpo que aguarda o rabecão ou que leva motoristas a reduzirem a marcha e esticarem o pescoço para fora da janela ao cruzarem com um acidente. Eu não tenho essa espécie de necrofilia da vida real, mas sentia uma vontade besta de ficar vendo boa parte do conteúdo repulsivo e desinteressante que costumava (costuma?) ser postado no FB.

Foi bom sair para quebrar esse círculo vicioso. E afirmo seguramente que, apesar dos pequenos prejuízos listados, minha vida seguiu normal e tranquilamente fora do Facebook.

Este texto não é um libelo a favor da internet livre ou coisa que o valha. Cada um que gaste suas preciosas horas da forma que achar melhor. Se percorrer a timeline em busca de sua dose homeopática de ilusão diária te deixa feliz, que bom! Seja feliz.

Tampouco vou tecer profundas análises sobre dados, transparência, logaritmos, publicidade, fuga de anunciantes, retargeting, viewability, programmatic, ad blockers etc. O mercado de comunicação está em transformação constante e intensa e minha decisão de sair e voltar não tem nada a ver com isso.
Mas no meu sabático eu recuperei um tempo real que eu havia quase esquecido que existia. Portanto, mesmo voltando ao FB, não estarei muito no FB.

Mas prometo postar em breve minhas fotos do Tibete 😉 #energia #vidanova #tudodebom

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