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Opinião

Tinha tudo para dar errado

Copa do Mundo de Clubes da Fifa está longe de ser um evento perfeito, mas seria injusto não reconhecer o sucesso desta edição inaugural


1 de julho de 2025 - 6h00

No último ano, diversos atores do futebol e da mídia global gastaram tempo atacando ou simplesmente ignorando a Copa do Mundo de Clubes da Fifa.

A Uefa alegava que o torneio era desnecessário, já que a Liga dos Campeões, promovida por ela mesma, reunia os melhores clubes do mundo. A Concacaf, que organiza o futebol na América Central, Caribe e América do Norte, não criticou abertamente, mas agendou seu próprio torneio de seleções nacionais para o mesmo período.

Vários clubes classificados reclamaram da obrigatoriedade de participação sem saber como seriam recompensados. Outros, que ficaram de fora, questionaram os critérios de qualificação.

Patrocinadores da Fifa também se mostraram desconfortáveis: por se tratar de um evento novo, não incluído em seus contratos, foram solicitados a pagar valores adicionais, o que levou alguns a recorrer à Justiça para garantir seus direitos sem custos extras.

Donos de estádios impuseram muitas exigências para reduzir seus custos, como a manutenção de placas de publicidade não visíveis nas transmissões ou o direito de exibir marcas locais nos telões, práticas impensáveis em uma Copa do Mundo tradicional.

Jogadores, individualmente e por meio de associações, manifestaram preocupação com o excesso de jogos, o risco à saúde e a perda das férias no verão europeu.

As empresas de mídia rejeitaram a proposta da Fifa de pagar US$ 1 bilhão pelos direitos globais de transmissão. O torneio ficou sem cobertura até poucos meses antes do início. Foi então que, por coincidência (ou excelente articulação nos bastidores), a Dazn adquiriu os direitos mundiais e anunciou que transmitiria todos os jogos gratuitamente para os torcedores — dias antes de receber um aporte no mesmo valor do PIF, o fundo soberano da Arábia Saudita.

Com tamanha incerteza, a venda de ingressos e pacotes de hospitalidade também começou tardiamente, especialmente em comparação com outras Copas do Mundo.

A imprensa fez seu papel, criticando duramente decisões da Fifa, como a classificação do Inter Miami de Messi, além da frequência com que o presidente Gianni Infantino e o troféu do torneio apareceram na Casa Branca, em Washington, D.C.

Um ano antes de a bola rolar, tudo apontava para o adiamento ou cancelamento do evento. A Copa do Mundo de Clubes da Fifa tinha tudo para dar errado. Mas, para a decepção de muitos, não deu.

As primeiras semanas mostraram bons jogos, estádios razoavelmente cheios nos fins de semana e nas partidas de clubes europeus (não com padrão de Copa do Mundo, mas melhores do que muitos jogos do Brasileirão), ativações eficientes e um grupo de patrocinadores de fazer inveja a qualquer evento esportivo.

As marcas que apostaram nesta primeira edição — AB InBev (Michelob Ultra), Airbnb, Bank of America, Coca-Cola, Hisense, Lenovo, PIF, Qatar Airways, Visa, Motorola e Betano (as duas últimas em pacotes regionais) — estão celebrando a decisão. Os clubes participantes, que dividirão US$ 1 bilhão em premiação, também.

Os torcedores, inicialmente céticos, passaram a acompanhar os jogos dos times brasileiros pela TV ou plataformas digitais, gerando algumas das maiores audiências do ano. Com as boas campanhas de Palmeiras, Flamengo, Botafogo e Fluminense na fase de grupos, até a imprensa mudou de tom, passando a celebrar cada vitória.

Não me entenda mal: o evento está longe de ser perfeito, e a Fifa ainda tem muito a melhorar. Mas seria injusto não reconhecer o sucesso inicial desta edição inaugural, especialmente diante de tantas forças que trabalharam contra sua realização.

A Copa do Mundo de Clubes tem potencial para se consolidar como um dos principais eventos do calendário global do futebol. Se a Fifa conseguiu realizá-la em 2025, não há dúvidas de que a edição de 2029 pode ser um sucesso comercial e esportivo ainda maior.

Parabéns à Fifa.

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