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Opinião

Duas realidades, uma experiência

Avanço da Amazon alerta mercados tão díspares em relação ao ambiente de negócios quanto Brasil e Austrália


23 de outubro de 2017 - 12h34

Uma busca básica no Google, combinando a expressão “o Brasil que deu certo” e a palavra Austrália, aponta para quase 88 mil resultados. A frase que se ouve aqui e ali quando o papo na roda é a terra dos cangurus leva em conta certas similaridades como a colonização europeia, tamanho territorial, belezas naturais e uma imagem ensolarada, que faz inveja ao mundo, de que a vida é uma praia e as pessoas são provavelmente mais alegres por lá do que em outros lugares.

Já a parte negativa (para o Brasil) da comparação vem com a ideia de que a Austrália é um país melhor para se viver do ponto de vista socioeconômico. Tal percepção é construída, principalmente, por meio de indicadores tradicionais e as posições opostas em rankings que se propõem a quantificar a qualidade de vida e a felicidade das pessoas a partir de tópicos como segurança, renda, saúde, educação, satisfação, equilíbrio entre vida profissional e pessoal…

No plano econômico, já são mais de 25 anos sem que a Austrália passe por uma recessão técnica, configurada quando, por dois trimestres consecutivos, um país registra crescimento negativo: a última vez que isso aconteceu foi em 1991. Com uma projeção oficial de alta de 3% no PIB em 2017, podemos praticamente acrescentar mais um ano nessa conta.

Curioso é que a estabilidade política, assim como aqui, não foi o forte da Austrália nos últimos tempos: desde 2013, o atual primeiro ministro, Malcolm Turnbull é o quarto diferente governante máximo do maior país da Oceania. Está no cargo há quase dois anos.

Ou seja: o desejo dos brasileiros de que a economia um dia se descole da política de maneira consistente, tenha ciclos de desenvolvimentos próprios e maior resiliência diante da inoperância de nossos políticos é uma realidade para os australianos.

Apesar de tamanhas diferenças no ambiente de negócios, o setor de varejo de ambos os países está em alerta por conta de um mesmo episódio: a passagem da Amazon para um segundo estágio da consolidação de sua presença nesses mercados, nos quais, até aqui, comercializava basicamente livros impressos, digitais e leitores eletrônicos.

Na semana passada, a gigante com sede em Seattle lançou seu marketplace para eletrônicos no Brasil, com um catálogo de mais de 110 mil produtos. Serviço similar deve estar disponível na Austrália ainda em 2017, de acordo com as informações de consultorias e da mídia local especializada, cujas manchetes são dominadas pelo assunto desde que a empresa anunciou, em abril, os planos para ampliar seu portfólio de produtos, serviços e modelos de negócios no país nos próximos anos. O ritmo de contratações de profissionais, a transferência de um alto executivo da operação alemã para o posto de country manager e o aluguel de um grande espaço em Melbourne para servir como depósito fazem o mercado australiano acreditar que já em 2018 a Amazon funcionará com força total no país.

A estimativa da consultoria e gestora de fundos de investimento UBS é de que a Amazon abocanhe uma fatia de apenas 2% do faturamento total do varejo na Austrália nos próximos cinco anos, algo em torno de 3,5 bilhões de dólares australianos. Mas sua política agressiva de preços e a excelência no serviço de entregas podem ter um impacto proporcionalmente muito maior no caixa dos atuais líderes do setor, jogando para baixo as margens atuais e afetando os lucros em até 20%.

 

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