10 de março de 2017 - 14h53
(Crédito: André Valentim)
Quando assumi o compromisso de entregar esse texto sobre o Rio Content Market ao Meio & Mensagem, imaginei minha presença em vários painéis e um caderno repleto de anotações. Que nada. Não consegui assistir a mais do que cinco ou seis falas durante os quatro dias de evento.
Um conjunto de leis de fomento, mais a regulamentação do setor, mais o aparecimento de algumas linhas de crédito, mais o ambiente digital que multiplicou o número de plataformas de distribuição, fizeram a demanda por conteúdo aumentar enormemente
Antes que você conclua que empreguei meu tempo entre a barraca do Pepe e o bar do hotel e abandone esses parágrafos em busca de outros que lhe ajudem a saber o que rolou na edição deste ano, devo dizer que o melhor do RCM acontece mesmo nos corredores e lobbys do centro de eventos do Windsor Barra.
Pense no seguinte: ao contrário da maioria dos setores da economia brasileira, o do audiovisual não entrou em recessão. No últimos anos, o PIB do meio vem crescendo acima dos 10% ao ano. O clima é de prosperidade. Se você estiver deprimido com o encolhimento do mercado publicitário, não deixe de vir ao Rio Content ou Rio Contente (desculpe, não resisti) o ano que vem.
Alguns fatores explicam essa pulsação do mercado audiovisual brasileiro. Um conjunto de leis de fomento, mais a regulamentação do setor, mais o aparecimento de algumas linhas de crédito, mais o ambiente digital que multiplicou o número de plataformas de distribuição, fizeram a demanda por conteúdo aumentar enormemente.
Por isso, é natural que, ao se dirigir a um dos muitos painéis do RCM, você encontre no caminho algum conhecido que vá lhe contar sobre os projetos que está desenvolvendo e vice-versa. E logo você já terá transformando aquela conversa de amenidades em uma reunião de negócios. E assim, ao invés de ver os convidados nacionais e estrangeiros, você pratica o conceito do festival: here we do business. Você até não fica culpado de perder a palestra do Alex Hirsch (da série Gravity Falls da Disney).
Mas pra não deixar na mão o leitor que me acompanhou até aqui, farei uma breve lista (com o auxílio das anotações da Sabrina Nudeliman Wagon) de alguns temas que dominaram os painéis e as conversas de corredor.
1 – Diversidade. Alta demanda por conteúdos que abordem de frente as questões da diversidade, em todos os seus aspectos.
2 – Conteúdo é a nova publicidade. E veículos, produtoras e plataformas se posicionaram como provedores de soluções de brand content. Ficou difícil de saber quem faz o quê nessa cadeia.
3 – Crescimento do video on demand. Só se fala nos cord cutters (os que vão abandonar a TV a cabo) e os cords nevers (os que nunca tiveram e nunca terão TV a cabo). Com isso, cresce a disputa pelo Market share dessa audiência online e o investimento em originais (força da exclusividade).
4 – Todos agora tem o seu OTT (Over The Top – serviço de vídeo como o do Netflix). Mas ninguém sabe dizer ao certo quem vai pagar por tantos serviços e como os players farão para ter tanto conteúdo. Poucos sobreviverão, mas enquanto a briga é de market share, o preço do conteúdo sobe. Eba.!
5 – Procura-se por bons roteiristas desesperadamente. O que mais se ouve é que esse profissional está em falta no mercado. Se content is the king, screenwriter is a god.
O RCM deixa claro que vivemos um grande período para quem é produtor de conteúdo audiovisual
Para meu gosto e interesse, o Rio Content poderia abrir ainda mais espaço para o ecossistema dos Creators Digitais. Houve um painel no auditório principal onde a Webedia e a Digital Stars se apresentaram, alguns falaram do Youtube, mas ainda é muito pouco para a relevância que têm esse agentes no setor.
O resumão do resumão: o RCM deixa claro que vivemos um grande período para quem é produtor de conteúdo audiovisual. Se isso está se refletindo ou se refletirá em produtos de qualidade já é outro debate. Mas ao meu ver, estamos caminhando para ter o essencial, sem o qual não há nada: o mercado. Que quando está aquecido, faz você fechar negócio até de pé no corredor.