Pyr Marcondes
7 de agosto de 2017 - 11h22
A entrevista tem que ser lida em sua íntegra porque é muito rica de verdade. E também porque o Sergio Damasceno é o jornalista do nosso trade que mais entende do mundo telecom e de como ele se liga a indústria de comunicação e marketing. Ou seja, se o Navarro mandou bem, o Sergio idem.
Então, algumas frases que acho que merecem especial atenção e alguns comentários estúpidos meus.
“Não poderemos separar a vida física e analógica da digital. Não existirá outro mundo que não o digital”.
Altamente relevante ler um statement dessa natureza de um CEO da maior companhia telecom do Brasil. Está nas mãos dessas companhias parte mais que relevante de toda a cadeia de distribuição de conteúdo e dados da vida de todos nós e de todos os negócios da indústria de marketing e comunicação. Que tudo vai ser digital é matador nesse sentido: ou nossa indústria se prepara para isso, como estão fazendo as telecons, ou vamos ficar à margem da evolução de hábitos do consumidor (muitas áreas do nosso negócio já estão ficando marginalizadas e perdendo relevância – e faturamento – exatamente por isso).
Nesse mesmo sentido e complementando de forma muito esclarecedora o que nem sempre paramos para pensar sobre o termo “telefonia”, Navarro manda lá: “Não somos mais uma empresa de telefonia, no sentido que “fonia” – a voz – é cada vez menos relevante para o cliente, é menos que uma terceira parte das receitas, ou seja, cada vez menos voz. Da telefonia vai ficar a tele, vamos deixar a voz, vai ser telecomunicação, tele entretenimento …”.
Essa indústria nasceu e viveu décadas e décadas em cima de viabilizar a conexão de voz entre as pessoas, desde Graham Bell. Isso vai acabar. Uma transformação visceral para o negócio e que Navarro encara com franca coragem e transparência.
Outra: “Entre esses serviços (digitais) um deles seguramente será publicidade, respeitada a legislação”.
Então pare você e pense no poder de uma companhia como a Vivo, ou suas concorrentes todas, de conversar diretamente com os seus usuários e passar a ser um player de publicidade, marketing e comunicação. Elas têm a conectividade total da rede, os dados e perfis dos usuários e a geolocalização mobile. Meu Deus. É um poder inigualável de ativação. Agora, assumidamente, avisa Navarro, a serviço das marcas e da publicidade. Todas essas empresas serão publishers mais poderosos do que todos os existentes hoje. Muuuuito mais poderosos. Isso transforma radicalmente toda a nossa indústria. Não sei se tá todo mundo ligado nisso.
Sobre a Internet das Coisas que será anabolizada pelo 5G: “Vai estar tudo conectado, gerando informação. A grande novidade não é o fato de estar conectado, e sim que tudo que está conectado gerará informação todo tempo”.
Essa é a questão vital, para nossa indústria, diante da chegada dessas duas revoluções (que Navarro espera para 2021), a do 5G e a da Internet das Coisas: quem vai controlar esse fluxo ininterrupto de dados.
Ele não disse, mas minha aposta é que serão as próprias telecons. O controle não estará nos devices, mas na rede. Mas para isso elas teriam que se preparar para serem um bicho que ainda não são: gestores inteligentes de dados e conteúdos junto aos usuários numa escala hoje impensável de volume e velocidade. É quase outro business esse. Quase não, é outro business.
Sobre a ligação da sua empresa com a produção proprietária de conteúdo, Navarro é taxativo (sua frase, aliás, é a manchete que o Sergio escolheu para sua entrevista): “Não há intenção alguma em produzir conteúdo próprio”.
É uma decisão estratégica relevante, sem dúvida. Neste caso, e apenas neste caso, vou ousar ser aqui bem pentelho, porque acho difícil a Telefonica, empresa-mãe da Vivo, ficar de fora desse game.
Vejam este anúncio abaixo.
Tá lá, bem claro: “AN AT&T ORIGINAL”.
Obviamente, não serei eu quem vai dizer para uma das maiores empresas telecom do mundo qual será sua estratégia relativa a conteúdo no futuro próximo. Mas a concorrência vai certamente pressionar que esse tema (produção própria) esteja na mesa e na pauta da companhia nos tempos que se avizinham.
No mais, que excelente termos um líder do setor corajoso e transparente. Estamos precisando de gente assim na indústria.