Pyr Marcondes
10 de setembro de 2018 - 8h44
Marketing não é uma ciência política, mas marketing é uma disciplina social. E nada social pode deixar de ser político. Pronto, dançou, marketing!
Essa é uma armadilha conceitual que as marcas souberam muito bem driblar até hoje, buscando manter-se isonômicas e distantes de qualquer envolvimento de caráter claramente político.
Isso começou a mudar com a adoção, por parte de várias marcas em todo o mundo, de posicionamentos mais claros em defesa da sustentabilidade ambiental e, mais recentemente, de causas ligadas a igualdade de direitos diante da diversidade de gêneros.
Só que o cardápio é bem mais profundo e variado do que apenas isso. E a fronteira imediatamente seguinte é a que a Nike acaba de romper com sua campanha Dream Crazy, que é posicionar-se, como sempre fez, pelas superações pessoais e sociais que o esporte pode promover, mas também postando-se politicamente de forma aberta contra o Presidente dos Estados Unidos Donald Trump, seu ideário uber-conservador e a opinião de milhares, talvez milhões, de norte-americanos consumidores, que apoiam Trump.
Ao dar destaque a questão da equidade nessa campanha e, mais particularmente ainda, por dar voz e imagem ao jogador da NFL Colin Kapernick, abertamente criticado por Trump e um monte de gente em redes sociais (por ajoelhar-se durante a execução do hino nacional dos EUA antes do jogos, como gesto de protesto contra o racismo), a marca assina comercialmente em sua campanha um statement público contra o poder institucional estabelecido na Casa Branca.
Não é pouca coisa.
https://www.youtube.com/watch?time_continue=125&v=Fq2CvmgoO7I
Como você acompanhou, não só muita gente foi contra a campanha da Nike, como tênis da marca foram queimados em protestos populares contra seu apoio a Colin (afastado da NFL por sua postura e sem emprego há mais de um ano por não abrir mão de seu posicionamento).
Isso vai dar ainda pano pra manga e outras marcas serão pressionadas pela sociedade a adotarem posturas ideológicas claras, pode estar certo disso caro (a) leitor (a).
Um âmbito novo e um novo desafio para o marketing, em que o político deixa de ser um campo neutro, para se tornar um ambiente mercadológico de batalha. Altamente minado.