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O viés no jornalismo e como somos todos vítimas dele

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Blog do Pyr

O viés no jornalismo e como somos todos vítimas dele

O viés implícito está aqui agora, comigo e com você, paciente leitor (a). Desde a primeira letra que escolhi para falar o que estou falando, estou fazendo escolhas e navegando meio às cegas através de conceitos e ideias embedadas em mim por códigos programados pela vida, que eu não consigo controlar.


28 de janeiro de 2019 - 10h54

Na faculdade, meu trabalho de final de curso foi pra provar que objetividade jornalística não existe. A tese era simples: diante de uma folha de papel em branco (era máquina de escrever e papel, não tinha computador nem internet), tudo que se colocar nela é uma escolha. E aí fodeu. Toda escolha é subjetiva. É uma armadilha existencial e socialmente engajada de toda a escrita. A tese subjacente a essa, que eu também defendia (copiando Roland Barthes), é que até uma bula de remédio é um texto político. Simples de novo: tudo em sociedade é engajado. Cada gesto. Cada pensamento. Cada linha de texto, porque está preso a história, ao seu tempo, o momento e ambiente contextual em que foi produzido (para mais de talhes leia O Grau Zero da Escrita, do Barthes).

A objetividade no jornalismo é um mito. Um sonho inalcansável por definição contextual. É uma questão ontológica, não ideológica, nem metodológica.

Como profissionais, acho que temos que perseguir incessantemente esse sonho inatingível da isenção absoluta, só que sabendo, nós profissionais e o nem sempre avisado leitor, que cada conteúdo editorial publicado em qualquer lugar do mundo tem seu viés.

E esse é o tema aqui. Viés.

Se cada linha é uma escolha e toda escolha, num ambiente social, é um ato político, como ficamos nós, jornalistas, e nossas audiências, diante do que decidimos ser “objetivo” e difundimos como verdade? Verdade de quem, cara pálida?

Nao tem jeito, tudo em jornalismo é viés.

Vou mais fundo.

Eu tenho meu repertório de vida, que resulta de uma série sem fim de inputs recebidos ao longo de minha jornada até aqui. Meu coleguinha jornalista ali ao lado tem outro repertório, resultado de outra história. Isso, em tese, é bom, porque é exatamente da diversidade social e de análise que viverá sempre a maior riqueza do jornalismo.

Ok.

Só que tanto o meu repertório, quanto o do meu coleguinha, têm seus próprios gametas sociologicamente introjetados, o que quer dizer que, mesmo que persigamos tecnicamente o sonho inalcançável da objetividade absoluta, tudo que produzirmos será sempre fruto do viés oculto de cada um de nós.

De novo, uma armadilha da qual não conseguimos escapar, porque nem sequer a vemos ou controlamos. Ao contrário, o viés oculto, é que nos controla.

Em inglês, os cientistas chamam isso de “implicit bias”, ou viés implícito. Ele foi mapeado cientificamente e é analisado sociologicamente. É uma ferramenta para entendermos o que somos e porque somos o que somos.

O viés implícito está aqui agora, comigo e com você, paciente leitor (a). Desde a primeira letra que escolhi para falar o que estou falando, estou fazendo escolhas e navegando meio às cegas através de conceitos e ideias embedadas em mim por códigos programados pela vida, que eu não consigo controlar.

Nesse sentido, você e eu, assim como todo o jornalismo, somos vítimas do viés.

Trata-se de um tema caro para mim , como você já percebeu. Desde a faculdade eu o persigo e ele me persegue.

Li esses dias um dos mais interessantes textos sobre o assunto ( depois de toda a obra de Roland Barthes, é claro, que li também), que divido aqui com você.

https://niemanreports.org/articles/how-implicit-bias-works-in-journalism/

 

 

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