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Blog do Pyr

Sobre os Leões Fantasma do Brasil em Cannes

Ninguém falou sobre o tema, mas tô de olho. Tivemos pouquíssimas peças fantasmas este ano do Brasil em Cannes. Esse percentual já foi bem maior, mas não importa, importa é que deu.


24 de junho de 2019 - 6h58

Num festival cada vez mais ético e por causas verdadeiras, numa indústria que finalmente começa a perceber que tem um importante papel a interpretar em prol da sociedade e do Planeta, produzir peça fantasma deixou de ser um joguinho de espertalhões baratos, para passar a ser um avilte pela busca legítima e mais transparente por uma indústria melhor, a nossa e a global.

Então, acabo de decretar: produzir peça fantasma agora é crime!

A indústria tentando se engajar nos reais desafios de sobrevivência social e global, e você criando um fantasminha pra amealhar uma porra de Leão em Cannes? Faça-me o favor, cidadão!

Olha, eu sei todos e cada um dos leões fantasma do Brasil deste ano. Sei porque vi um por um e aprendi, depois de mais de 40 anos de profissão, sendo 10 como sócio e diretor de criação de agência, perfeitamente identificar todas as artimanhas baratas para faturar prêmio.

Mas (por enquanto) vou poupar você, profissional, que desde agora entrou na minha mira. E falo com você porque quem cria fantasma não é a agência, é vocezinho aí que está me lendo.

Por enquanto, mas só porque estou ficando um avô mega bonzinho (agradeçam ao Nico, meu neto, isso), achei justo deixar claro, um ano antes, que vocês têm aqui em mim, a partir de agora, um inimigo voraz. Doido para ser provocado.

Eu sei tudo o que vocês fizeram nos últimos meses antes de Cannes este ano. Ano que vem, vou ser implacável.

Me desafiem. Make my day!

A história de uma palhaçada consentida

A prática de se produzir peças fantasmas para certames premiáticos publicitários nunca foi privilégio brasileiro. Todos os países produziram e seguem produzindo peças assim até hoje.

Designa-se como uma peça fantasma aquela que foi intencional e planejadamente criada, produzida e veiculada para ganhar uma láurea (escrota, porque ilegítima e ladra) em qualquer festival da esquina. Vale Cannes também.

As agências escalam equipes, destinam verbas, criam estratégias, usam a mesma criatividade que, na maioria dos casos têm de sobra para criar as peças reais do mundo real, para criar peças que nunca foram, de fato, solicitadas por ninguém. Daí o desígnio de fantasma.

O Brasil, infelizmente em Cannes, tornou-se mestre nessa arte.

Praticamente a inventou nos anos 70, esmerou-se a nível de produtor world class nos anos 80 e 90, diminuiu seu ímpeto nos últimos 20 anos, mas se houvesse um ranking mundial, difícil imaginar quem nos superaria ainda hoje.

Malandro é malandro, certo mano?!

Tem uma justificativa sócio-econômica para isso. Vou te explicar.

Como, mesmo sendo um país subdesenvolvido com uma evidente criatividade nata para a propaganda, competir contra todo o mundo desenvolvido, com verbas de produção incomensuravelmente maiores, estruturas econômicas e de mercado incomensuravelmente mais sólidas, sendo … rã, hum … o Brasil dos anos 70?

Drible no pé: tasca-lhe malemolência criativa vil. Papelote batizado. Passistas da Croizette. Organizada da Cotê D’Azur. Mata no peito, bola na rede, é Braziiu, ziu, ziu …!!!

Foi assim que nossa consciência vira-lata e nossa inegável criatividade deram um jeitinho brasileiro no que chamávamos (com razão, by the way) de imperialismo anglo-saxão.

Deu mega certo.

Durante praticamente 4 décadas, o Brasil foi considerado a terceira força criativa global da publicidade, atrás apenas de Estados Unidos e Inglaterra.

A má notícia desse feito é que, se expurgarmos os leões fantasmas do Brasil das premiações que conquistamos nesses 40 anos, nosso desempenho lá seria bem pior. Fantasmagoricamente menor.

Mas enfim, eram outros tempos.

Hoje, são outros tempos também.

Que viva o futebol arte dos dois Grand Prix dos meninos da AKQA, que driblaram na real times adversários muito mais fortes do que nós, porque, afinal, a desigualdade sócio-econômica e de mercados continua a mesma.

Se você (e é você quem cria, não é “a agência) não se recusar a fazer parte dessa palhaçada anti-ética e, hoje, anti-social e anti-sustentabilidade-real-do-Planeta, você estará matando a sua profissão, sendo conivente com algo que deixou de ser apenas uma escaramuça para ganhar um prêmio, para se tornar um delinquente responsável direto por uma atitude anti a vida.

Pense nisso. Mas não pense muito. É no brainer.

Vamos lá, brasileiros mega-criativos que somos, driblar todo mundo!

Nos 90 minutos. Na real e na leal.

O VAR da sua consciência é que vai validar seu sono daqui para frente.

OBS.: Ah… eu também! Até Cannes 2020!

 

Enviado do meu iPhone

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