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5 de outubro de 2017 - 11h06
Por Omarson Costa (*)
Fonte da Imagem: Comercial do OMO em Propagandas Históricas
Toda minha admiração às mulheres que (sobre)viveram antes da invenção da máquina de lavar. Ela pode ser considerada um dos símbolos da liberdade feminina em tempos absurdos não muito longínquos em que elas eram educadas apenas para cuidar da casa e nem sonhavam em participar do mercado de trabalho. Hoje, justiça seja feita, ocupam 44% das vagas de emprego no Brasil, segundo levantamento do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged) e da Relação Anual de Informações Sociais (Rais).
Entre muitas das inovações pós-revolução industrial, o motor elétrico foi uma benção especialmente às donas de casa a partir da década de 50, permitindo que se livrassem do exaustivo ensaboa e enxagua de roupas.
Mas este artigo não quer promover um debate sexista. Vamos, então, ao que interessa: sua casa nunca mais será a mesma e irá transformar radicalmente a forma como vivemos. E muitas destas mudanças estarão relacionadas, claro, com o desenvolvimento de novas tecnologias em áreas como energia renovável, robótica, big data, inteligência artificial, machine learning e Internet das Coisas.
De volta para o futuro, assim como a Internet abriu estradas para o nascimento de novos produtos e serviços, a produção dos motores em larga escala foi a semente de grandes criações que começaram a reconstruir completamente a configuração das nossas residências.
Na segunda metade do século XX, os novos eletrodomésticos foram recebidos como sonhos de consumo sem os quais não seria mais possível chamar uma casa de lar. Agora, com a revolução digital, ela continuará sendo equipada com toda sorte de equipamentos, mas as empresas terão que oferecer muito mais do que produtos. Terão que oferecer serviços. É a tal da “servicificação” dos produtos.
No caso da máquina de lavar, aclamada em um comercial da Westinghouse dos anos 60 como “um tambor rotativo que reproduz 64 vezes por minuto os gestos milenares das lavadeiras”, o sabão em pó OMO já disponibiliza o serviço OMO Express. E se você é agnóstico em relação à marca do sabão em pó, pode usar os serviços da A Lavadeira.
Basta escolher um dos planos de assinatura mensal para que suas roupas sejam retiradas e entregues passadas, limpas e cheirosas em seu domicílio. A Unilever sabe que para vencer a concorrência precisa entregar muito mais do que “um moderno detergente que dá brilho à brancura”, como também anunciava em um antigo comercial do OMO na TV ainda no torturante tanque de lavar roupas.
Já no caso da geladeira, mesmo que ela não seja uma Brastemp, nunca é demais lembrar que com o avanço da Internet das Coisas ela passará a ser muito mais do que um “simples refrigerador”.
A Samsung apresentou na CES, maior feira de tecnologia e inovação do mundo, a geladeira acionada por voz e conectada na Internet (imagem abaixo). Se esta geladeira for conectada a um varejista (como a americana WholeFoods, comprada recentemente pela Amazon), então porque você precisaria assistir propagandas de alimentos?
Afinal, uma vez que ela já conhece as marcas e produtos habituais em sua casa, não haveria necessidade de ser impactado pela publicidade das marcas que sua geladeira sabe que você consome e precisa. Ou será que no futuro a geladeira será uma nova mídia e não mais a TV?
Fonte da imagem: Engadget
Ou quem sabe você precisará de uma geladeira que venha até você ao invés de você ter que ir até ela. Pois bem, a Panasonic já inventou esta geladeira pra você chamar de sua. Neste caso, não haveria mais tomadas em suas paredes, pois ela receberia energia de forma ‘wireless’, assim como alguns celulares Android.
Não é de hoje que imaginamos uma casa do futuro com robôs que realizam todo serviço doméstico. Os The Jetsons, a família do seriado clássico do início dos anos 60, já tinham a Rosie, uma empregada robô.
Os bots, claro, já estão aí para turbinar sua residência e trazer aos moradores um impacto tão revolucionário quanto foi (ufa!) o fim do sofrimento no tanque e a chegada da mágica máquina de lavar roupas.
Fonte da imagem: Lifehacker
Teremos robôs para passar, lavar, cozinhar, tirar o lixo, dar banho nas crianças (será?) e seu Amazon Alexa (imagem acima) estará te escutando 24 horas para “adivinhar” e realizar seu próximo desejo, seja pedir sua comida predileta, encomendar flores para seu aniversário de casamento, recomendar uma playlist ou sugerir um filme para assistir na sua TV de tela dobrável. Seu aposentado telefone fixo será substituído pelo Alexa Echo Show, que realiza ligações em videoconferência sem que nem mesmo precise usar as mãos para atender.
Mas o que mais podemos esperar para além da casa automatizada, conectada e robotizada?
Uma revolução mais do que aguardada está na geração de energia, principalmente em função, entre outros fatores, das aterrorizantes mudanças climáticas previstas para as próximas décadas. As casas milionárias da Flórida têm estruturas capazes de resistir ao furacão Irma que está devastando várias cidades americanas, mas a previsão é de que fiquem semanas sem luz por serem dependentes das transmissões através de postes ou cabos subterrâneos.
Chega de apagão. Bendito seja, o sol nasce pra todos.
Fonte da Imagem: Tesla
A Tesla já colocou no mercado painéis solares que são instalados nos telhados e geradores integrados que permitem produzir energia limpa e, melhor ainda, renovável, garantindo total autonomia energética.
Uma única bateria Powerwall, da Tesla, armazena 14 kWh de energia, mas o consumidor pode aumentar a capacidade adicionando até 10 baterias. O custo da unidade, incluindo instalação, é de US$ 11450. A concorrente LG fez uma aliança com a Sunrun, empresa de energia solar, para lançar a RESU, bateria que estoca 9.8 kWh de energia e tem preço inicial de US$ 4000.
Outras fabricantes de automóveis, como BMW, Nissan e Mercedes, também já entraram neste mercado, num movimento natural com o fim dos carros movidos a combustíveis fósseis. As montadoras não querem mais ficar apenas na garagem das casas. Querem se transformar em geradores de energia para abastecer o carro e toda residência.
Várias perguntas são inevitáveis.
Se precisarei fazer um único investimento ao construir minha casa para ter um sistema gerador de energia renovável, por que vou precisar dos serviços das concessionárias de energia, como da AES Eletropaulo, em São Paulo? E o que dizer do pobre arquiteto ou engenheiro que não conhecer as novas formas de geração de energia?
E se meu carro elétrico, também da Tesla, será abastecido com a energia que vou gerar na minha própria casa, o que será dos postos de combustíveis? Para que vou precisar de uma companhia de seguros se o sistema de energia da minha casa terá garantia eterna, como no caso dos painéis da Tesla?
A conta é simples. Se abasteço meu carro 1 vez por semana com 50 litros e o preço do litro está cerca de R$ 3,00 minha economia mensal será de R$ 600,00 (aproximadamente R$ 7.200,00 por ano no meu bolso). Nada mal. Inevitavelmente, os postos de combustíveis serão seriamente afetados. De acordo com a Expopostos, o Brasil tem cerca de 40,8 mil postos que vendem anualmente 130 milhões de litros de combustíveis, o que representa um faturamento de R$ 390,3 bilhões. Com a transição para o carro elétrico, é bom estes empresários e funcionários deste setor começarem a repensar seus negócios.
No caso dos gastos com energia elétrica os números não são menos impressionantes. Segundo relatório da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), o faturamento do setor em 2014 foi superior a R$ 95 bilhões.
Pare por um segundo e imagine o que aconteceria se os consumidores deixassem de ser abastecidos exclusivamente pelas distribuidoras de energia, já que as residências serão autossuficientes. Lembram-se do apagão de energia de anos atrás por conta das poucas chuvas? Pois este será mais um problema que deixará de existir.
O mesmo relatório mostra que o segmento de geração de energia é bastante pulverizado no Brasil, reunindo mais de 3 mil empresas, sendo que mais da metade são usinas termelétricas de médio porte movidas a gás natural, biomassa, óleo diesel, óleo combustível e carvão mineral.
Mais um dado: 74% da energia gerada são de origem hidrelétrica, o que reforça nossa dependência desta fonte. A energia limpa e renovável, como a solar e a eólica, já estão começando a beneficiar e serão uma dádiva para regiões com sol e vento abundantes, como no Nordeste do País.
Enquanto isso, o Governo Brasileiro aumenta os impostos sobre os combustíveis e a conta de luz, mesmo com alguns espasmos de baixa de preço, continua tendo forte impacto no orçamento doméstico. Para ter uma ideia do que o setor representa, o Instituto de Estudos Socioeconômicos – Inesc informa que o orçamento do Ministério de Minas e Energia de 2015 foi de R$ 4,53 bilhões.
Tecnologia para as casas se tornarem independentes no abastecimento de energia já é uma realidade. Resta torcer para que toda esta inteligência artificial que irá comandar sua vida doméstica não se rebele e crie uma linguagem própria, não humana, como, aliás, já aconteceu. Pior: com robôs que estão integrados ao seu Facebook.
Se você ainda acha que quem manda na sua casa é você, é bom ficar de olhos bem abertos. É bem capaz da Rosie tomar o seu lugar.
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No próximo artigo, aguardem, vou analisar o impacto do avanço dos carros elétricos e o fim, muito próximo, dos carros movidos a gasolina.
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(*) Omarson Costa é formado em Análise de Sistemas e Marketing, tem MBA e especialização em Direito em Telecomunicações. Em sua carreira, registra passagens em empresas de telecom, meios de pagamento e Internet.