Opinião
Esqueça a resiliência: líderes precisam ser persistentes e adaptáveis
Muitas coisas não voltarão a ser como antes, exigindo de nós flexibilidade para conviver com o novo e perseverar nas causas que importam
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2 de agosto de 2021 - 6h15
Falar sobre resiliência se tornou quase um lugar-comum. A expressão, que na física refere-se à propriedade dos corpos de retornar à forma original depois de serem submetidos à uma deformação elástica, rapidamente ganhou um sentido figurado, que expressa a capacidade das pessoas de se recuperarem facilmente ou se adaptarem à má sorte ou mudanças.
Vira e mexe, reuniões e encontros de líderes acabam trazendo a resiliência como uma pauta importante, o que faz bastante sentido: negócios em geral se transformam e as iniciativas de impacto e as causas costumam lidar com instabilidades, altos e baixos de receita, sobe e desce de voluntários.
Mas sabe de uma coisa? Desde a minha última conversa sobre esse assunto, cheguei à conclusão de que as lideranças não precisam saber “voltar ao que era antes”, mas de persistência e adaptabilidade.
Isso porque ser capaz de deformar e voltar ao estado original pode ser útil em algumas situações, como quando a gente precisa enfrentar uma onda quebrando bem em cima da gente e nos mantermos de pé. No entanto, a maior parte dos desafios de hoje envolvem também deixar-se moldar um pouco pelos fatos, se adaptar em um novo mundo que começa a surgir, e que não voltará ao formato anterior.
Ou você acha que vamos sair das tantas transformações que fizemos durante a pandemia para simplesmente voltar para o mundo que tínhamos em 2019?
As intempéries a que sobrevivemos também transformam a gente, e não acho que isso seja bom ou ruim, é apenas um fato. Por isso, estar disposto a persistir, a continuar a existir e fazer acontecer por muito tempo, e fazer um esforço para se adaptar faz mais sentido com algumas causas de impacto que tem um perfil de “evoluir” e se modificar com o passar do tempo.
Para essas causas, não adianta “voltar para a forma anterior”, porque o antigo não combina mais com o espírito do tempo atual. Um exemplo que tem demandado muita atenção é a autorregulamentação da publicidade. São tantas as discussões, as tentativas para acomodarmos todos os atores. Muitos concordam que não podemos seguir sem uma autorregulamentação ou uma organização mínima do setor, outros defendem o livre mercado. Mas quem está pronto para escrever algo que acomode o que deu certo, o que funciona hoje e o que está por vir?
Arrisco até dizer que nem mesmo as autorregulamentações do início dos anos 2000 conseguem atender às demandas atuais, que envolvem novidades como a mídia programática, que talvez não estivesse nem no horizonte da profissão há 20 anos. Dá-lhe persistência e foco na missão.
Liderar negócios transformadores e causas de impacto exige mais do que ser capaz de resistir à rebentação das ondas e voltar a fazer as coisas “da mesma maneira de antes”. Na verdade, vejo que é mais proveitoso desenvolver a persistência de tomar um caldo, levantar, sacudir a areia molhada e subir novamente na prancha, aprendendo a surfar cada uma das novas ondas que aparecerem.
Mais do que ser firme, resistir ao impacto e retornar à forma original, sugiro aprender a se adaptar e persistir na causa que lhe faz sentido. Afinal, como já dizia a canção, “nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia”. E se a vida vem em ondas, é hora de persistir e aprender a surfar nas novas ondas.
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