Meio & Mensagem
25 de junho de 2012 - 12h14
Por Janaina Langsdorff
Em frente à gôndola, a criança exige a compra de um produto mesmo diante da recusa já insistentemente repetida pelos adultos. Testemunhada por todos à volta, a birra faz parte do processo educacional dos pequenos, que precisam aprender a superar as limitações e frustrações impostas ao longo da vida. Mas qual é a responsabilidade das marcas nesse aprendizado ? A carga deve mesmo pesar somente sobre os pais ? Essa é uma das principais discussões que cercam hoje o debate em torno do marketing infantil.
O tema está em tramitação há mais de uma década na Câmara dos Deputados por meio do projeto de Lei 5.921/01, que pode até proibir a publicidade voltada para crianças até 12 anos de idade. O texto de autoria do deputado federal Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) chegou a ser arquivado em 2010, mas com a reeleição de Hauly, voltou à pauta do Congresso Nacional, aguardando agora um novo parecer do atual relator, o deputado Salvador Zimbaldi (PDT-SP), ainda sem previsão para ocorrer.
Entre opiniões opostas, que vão do radicalismo anti-democrático do projeto até a necessidade de se conter o avanço do consumo exacerbado, surgem decisões inspiradoras, como a da Walt Disney, que a partir de 2015 vai proibir o anúncio de junk food em seus programas de televisão, rádio e internet para menores de 12 anos. Com o endosso da primeira-dama dos Estados Unidos, Michelle Obama, líder da campanha LeT’s Move, de combate à obesidade infantil, o plano prevê ainda a diminuição de 25% da quantidade de sódio nos alimentos comercializados dentro dos parques tematizados pelo mundo do Mickey Mouse.
Kraft e Nestlé também estão entre as empresas que tomaram a iniciativa de adotar diretrizes mais rígidas. Em 2009, esse grupo se comprometeu voluntariamente a não dirigir nenhum tipo de comunicação a crianças abaixo de seis anos e, para a faixa etária entre seis e 12 anos, a propaganda é feita conforme o perfil nutricional dos alimentos. “É fundamental oferecer produtos de modo responsável, de forma a estabelecer um relacionamento adequado e consciente com os consumidores de todas as faixas etárias”, diz Izael Sinem Jr., diretor de comunicação ao consumidor da Nestlé.
Mas é mesmo papel da marca assumir esse tipo de responsabilidade na educação infantil ? Especialistas em neurociência dizem que é somente a partir dos dez anos que a criança começa a diferenciar o que é conteúdo comercial e o que é entretenimento, mas daí a aceitar que o poder público diga o que ela deve ou não assistir é outra história, questionada por uma parcela de empresas preocupadas com a possibilidade de ter o marketing censurado. Meio & Mensagem convidou especialistas para debater o tema que divide o mercado mas fortalece os cuidados exigidos hoje para formar quem merece proteção e verdade nos relacionamentos, desde pequenos.
Compartilhe
Veja também
-
Meta pede reconsideração, mas ANPD mantém restrição sobre IA
Autoridade Nacional de Proteção de Dados recebeu pedido de reconsideração da determinação, mas manteve a big tech proibida de usar dados de usuários para treinar ferramentas de inteligência artificial
-
Masp vai hastear bandeira LGBT+ durante a Parada de São Paulo
Iniciativa inédita foi idealizada pelo Castro Festival e viabilizada pela marca Amstel
-
-
-