Taís Farias
10 de junho de 2025 - 17h00
Formado em direito pela PUC-SP, Diego Barreto começou sua carreira no mercado corporativo olhando para as relações com investidores e passou por companhias tradicionais como AES, OAS e foi diretor financeiro da Suzano. Em 2016, no entanto, a entrada no Grupo Movile levou Barreto para o universo das startups.
Ele ingressou no iFood em 2018 como CFO e vice-presidente de Finanças e Estratégia até assumir o comando da empresa de tecnologia em 2024. Criado em 2011 por quatro sócios em São Paulo, o iFood vende, hoje, R$ 8 bilhões por mês. Neste ano, a expectativa da companhia é superar R$ 100 bilhões em vendas.
Convidado do CEO’s Talk Show, projeto de Meio & Mensagem e da agência Califórnia em que o publicitário Nizan Guanaes conversa com líderes de grandes empresas sobre seus desafios de negócio e gestão, Barreto conta que sua transição de um business tradicional para o universo das startups revelou algo sobre os negócios brasileiros.
“O Brasil, historicamente, não é um país dinâmico. Essa é a realidade. Somos um país rico, cheio de mineral, população diversa, sem guerra e não conseguimos fazer coisas que são do mundo da lua. Tudo que fazemos do mundo da lua, aqui, é exceção. Não é regra”, descreve.
O CEO do iFood se diz humilde em reconhecer a importância de outros modelos. Porém, analisa: “Mas, eu sou muito crítico também quando não vejo a elite econômica do Brasil se atualizando para um mundo que está dado. Nesse mundo mais conectado, ou nos empoderamos e fazemos disso um ativo brasileiro ou vamos ficar pelo caminho”.
Como ser uma marca amada?
Em 2024, pelo terceiro ano consecutivo, o iFood ocupou a liderança do ranking de marcas mais amadas do País, na pesquisa desenvolvida pela Ecglobal. Para Barreto, esse é o resultado de um projeto para criar uma marca icônica.
“O meu negócio tem tudo para ser odiado. Eu não controlo o tempo de cozinha. Eu não controlo se o entregador vai parar para abastecer durante a sua rota. A chance de as coisas não acontecerem para você, como meu consumidor, são enormes”, explica o presidente do IFood.
E continua: “O ponto é: eu preciso ser visto de uma forma que não é comum a uma marca como a minha ser vista. Isso me leva a, por exemplo, usar inteligência artificial para resolver as questões que eu não domino”.
Flexibilidade e renda
Na conversa, Barreto aborda ainda a proposta de valor da companhia para um dos pontos-chave do seu modelo de negócio: os entregadores. “O entregador no iFood, que se dedica de seis a oito horas por dia, cinco dias por semana, ganha dois salários mínimos líquido da despesa da moto ou da bicicleta. A maioria das pessoas que trabalha no dia a dia desse País ganha menos do que isso. O garçom, o rapaz do valet, a doméstica. A maioria dessas pessoas ganha menos de dois salários mínimos. E o entregador ainda tem um negócio que é flexibilidade”, aponta.
Nesse sentido, o conceito da plataforma estaria centrado em oferecer flexibilidade e o que o CEO descreve como uma renda digna para os entregadores. Uma maneira de ampliar esses pilares foi investindo no acesso à educação.
O programa Meu Diploma do Ensino Médio, da companhia, oferece bolsas de estudo gratuitas para o curso preparatório do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja) para entregadores e seus familiares. Em 2025, a meta da plataforma é chegar a 35 mil contemplados.