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Como a tecnologia reforça padrões de beleza e cria novos?

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Como a tecnologia reforça padrões de beleza e cria novos?

Segundo especialista, o uso de aplicativos e filtros de aprimoramento da imagem corporal pode fazer com que não seja mais possível distinguir a realidade da fantasia


25 de setembro de 2024 - 14h09

Por Dimalice Nunes

“A percepção de si e dos sujeitos contemporâneos é toda moderada, pois é mediada pela sociedade em rede. Desse tipo de percepção, não há mais qualquer distinção entre pessoa e máquina”, afirma Joana Novaes, coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e professora do Programa de Pós-Graduação em Psicanálise, Saúde e Sociedade da Universidade Veiga de Almeida (UVA).  

A tecnologia, a inteligência artificial (IA) e as redes sociais ganharam papel central no reforço dos padrões de beleza e na criação de novos. Na análise de Joana, o uso de aplicativos e filtros de aprimoramento da imagem corporal faz com que seja possível deixar de conviver com o que é considerado defeito. No entanto, em termos subjetivos, o reforço desses padrões pode fazer com que não seja mais possível distinguir entre realidade e fantasia.

Joana Novaes, coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e professora do Programa de Pós-Graduação em Psicanálise, Saúde e Sociedade da Universidade Veiga de Almeida (Crédito: Arquivo Pessoal)

Esse espaço em que é viável recriar o real e pasteurizar aparências entra em choque com o espaço da rua, marcado pela diversidade de características. “As plataformas operam pela comparação e por similitude, padrões de semelhança e de consumo. Mesmo as trocas de ideias são padrões de consumo e ideológicos. São espelhos, onde a mínima diferença gera tensão, e não enriquecimento. É completamente diferente de um confronto real, com uma luz que não é tão boa, com os cheiros da rua. Não é um confronto com a realidade em si”, complementa a psicóloga. Desse choque, surge um sentimento eterno de insuficiência e nascem as questões de saúde mental. 

Estudo publicado recentemente na revista científica Plos One mostra que apenas oito minutos no TikTok são suficientes para influenciar negativamente a percepção que as mulheres têm de si mesmas. A pesquisa avaliou o impacto da rede na autoestima de 273 mulheres australianas com idades entre 18 anos e 28 anos: 126 foram expostas a conteúdo que tratava de transtornos alimentares, dicas para perder peso, mulheres magras que exibiam o corpo e inspiração para vida fitness. As demais viram publicações relacionadas a natureza, culinária, receitas, animais e comédia. Antes e depois do experimento, responderam questionários para identificar a satisfação corporal e como internalizaram o que viram. As que assistiram aos vídeos que reforçavam padrões apresentaram a maior diminuição na satisfação com a imagem corporal e aumento na internalização dos padrões de beleza da sociedade.  

Joana explica que, em termos de saúde mental, a exposição constante a conteúdo que reforça padrões inalcançáveis para a maioria gera incremento dos quadros de ansiedade e depressão. A adição, ou dependência, é outro quadro comumente desenvolvido nesse cenário, seja o vício no uso das próprias redes e seus filtros, seja na busca por procedimentos estéticos. 

E a pressão que vem das redes não se limita a padrões de beleza, pois exerce influência sobre o estilo de vida de maneira mais global. É o conteúdo propagado por lá que dita normas para rotinas de exercícios, alimentação, sono, comportamento social e sucesso no trabalho. Ou seja, a régua do que é ser bem-sucedido, em todas as esferas, é única e despreza a diversidade real da sociedade. 

“Os aplicativos são as ferramentas para atestar conquistas”, resume Joana. É uma normatividade que dita como é preciso ser, qual corpo ter e como performar. “As redes funcionam como a grande mídia, como o grande meio propagador das normas sociais. Os valores e as formas de ser e estar no mundo são determinados nelas, ampla e irrestritamente”, completa. 

Para Joana, no entanto, o debate sobre a repercussão dos padrões propagados na vida das mulheres não pode se restringir ao que marcas e as próprias mídias podem fazer. Trata-se de um projeto de educação. “Devemos trabalhar os valores. Enquanto tivermos a beleza como um marcador de sucesso, pode fazer a campanha que quiser, falar sobre diversidade, pluralidade e aceitação, mas isso se torna superficial”, afirma. 

A questão, avalia, é achar outros marcadores que atribuem valor às pessoas. “O valor máximo de alguém não deve ser a aparência, e sim outras habilidades e competências”, ressalta. Nesse sentido, para Joana, o que deve ser valorizado no projeto de médio e longo prazo é a socialização. A beleza ser um marcador importante, e não qualquer outra coisa, exclui. “Sou entusiasta do body neutrality, que é dizer que alguma coisa é comum. O feio é comum. A beleza ser um marcador de inclusão é que gera exclusão”, conclui a psicóloga.  

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