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O que o esporte tem a ver com liderança feminina? 

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Opinião

O que o esporte tem a ver com liderança feminina? 

A cada vitória, uma celebração, e com ela, a esperança de um futuro mais igualitário 


30 de agosto de 2024 - 16h30

Imagem de jogos paralimpícos

(Crédito: Shutterstock)

Reflita comigo: por que, apesar de tantas conquistas, as mulheres ainda enfrentam tantas barreiras para ocupar posições de liderança? As Olimpíadas de Paris 2024 foram das mulheres negras. As três medalhas de ouro que conquistamos foram delas. Do total das 20 conquistas para o nosso quadro, em 13 houve o envolvimento de mulheres.  

A cada vitória, uma celebração, e com ela, a esperança de um futuro mais igualitário. Mas mesmo em uma área onde elas ocupam os mais altos lugares no pódio, a presença feminina em cargos de liderança é mínima.  

Um estudo realizado por Nicole M. LaVoi, da Universidade de Minnesota, revelou que apenas 11% dos cargos de diretoria em organizações esportivas de alto nível são ocupados por mulheres. Um dado que choca pela falta de representatividade, mas que também prejudica o esporte quando pensamos pela perspectiva da falta de diversidade de ideias e abordagens, que são tão necessárias em ambientes de inovação e evolução.  

Se falamos do mundo corporativo, o cenário não é muito diferente. Um estudo da CNI, divulgado em 2023, aponta que no Brasil as mulheres ocupam somente 29% dos cargos de liderança. As mulheres negras são ainda mais sub-representadas. Uma pesquisa, denominada “Mulheres Negras na Liderança”, realizada pelo Pacto Global da ONU no Brasil e a 99jobs, revelou que 81% das empresas participantes têm, no máximo, 10% de mulheres negras na liderança.  

Para mudarmos o mundo de verdade, é preciso que estejamos todos incluídos. Acredito que não seja possível mudar o jogo, com o perdão do trocadilho, sem a promoção de diversidade e equidade. E, para fazer isso, é preciso começar da base. A jornada passa pela promoção de oportunidades para crianças e jovens, e é um movimento de transformação cultural. É sobre abrir caminhos para mudar um cenário que é historicamente desigual.  

Voltando ao esporte, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, cerca de 75% das garotas de 11 a 17 anos não fazem a quantidade recomendada de atividades físicas. O estudo mostra que as meninas iniciam a prática de esportes mais tarde e acabam desistindo com maior frequência. Some isso aos estereótipos de gênero, falta de apoio, dentre outros obstáculos enfrentados pelas mulheres. 

E como podemos transformar essa realidade? Eu penso em duas palavras: oportunidade e incentivo. Um relatório da Unesco, denominado “The Olympic Spirit: Fostering Peace in and through Sport”, publicado pouco antes das Olimpíadas de Paris, destacou a necessidade de políticas públicas inclusivas e programas específicos que tenham o objetivo de aumentar a participação feminina no esporte. 

Investir em esporte, principalmente no acesso de meninas e mulheres a ele, é investir no desenvolvimento de competências e habilidades de crianças e adolescentes, para que se tornem adultos e líderes melhores. Um estudo da consultoria Deloitte, realizado nos Estados Unidos e publicado no ano passado pela Forbes, mostrou que praticar esportes pode preparar mulheres para carreiras de sucesso. 

A pesquisa, que entrevistou mais de mil profissionais, concluiu que mulheres que praticaram esportes quando crianças e adolescentes têm maior probabilidade de ocupar cargos de liderança ou gestão quando adultas.  

Na prática, sabemos o quanto o esporte nos motiva a ter uma formação holística, juntando o pensamento tático com as competências socioemocionais, cada vez mais exigidas das lideranças. É saber jogar dentro das quatro linhas e nas relações interpessoais.  

Pensando por esse prisma, entendemos que apoiar programas esportivos tem tudo a ver com educação. Ao promover iniciativas onde o esporte caminha lado a lado com a rotina escolar, é possível incentivar e valorizar o vínculo com o ambiente educacional. Incentivar a participação de meninas no esporte é, também, apoiar uma mudança de cenário em relação à presença de mulheres em cargos de liderança.  

Como já dizia Nelson Mandela, “o esporte tem o poder de mudar o mundo. Tem o poder de inspirar, tem o poder de unir as pessoas de um jeito que poucas coisas conseguem”.  

De fato, poucas áreas mexem tanto com o emocional das pessoas como o esporte. As Olimpíadas são o espelho disso. Quantas vezes nos vimos torcendo como apaixonados por esportes até mesmo os menos populares? É hora de transformar essa inspiração em ação.  

Que o esporte tenha força para provocar mudanças não só nas piscinas, tatames, quadras e campos. Que nas Olimpíadas, nas Paralimpíadas e na vida tenhamos cada vez mais meninas e mulheres com oportunidade, incentivo e sendo reconhecidas pelos seus esforços. 

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