Cannes, 23 de junho de 2018
Este é o artigo que eu gostaria de escrever no dia seguinte ao encerramento do festival
Este é o artigo que eu gostaria de escrever no dia seguinte ao encerramento do festival
14 de junho de 2018 - 14h50
Ontem, encerrou o Cannes Lions International Festival of Creativity. E o desempenho geral do Brasil foi superior ao do ano passado, quando trouxemos 99 leões.
Em 2018, conquistamos 112 leões, inclusive em Glass, Titanium e Innovation. Na verdade, o resultado foi surpreendente, pois o que fez a diferença neste ano foram justamente as categorias onde não costumamos conquistar muitos prêmios: Film e Film Craft. Comparando com o ano passado, onde tivemos apenas um leão em Film e nenhum em Craft, os 11 leões que conquistamos neste ano têm uma explicação: uma mudança de mentalidade de agências e clientes.
Os clientes sabem que tudo está virando audio-visual. Que nunca o consumo de vídeo foi tão grande. Que as pessoas querem assistir conteúdos áudio-visuais interessantes, divertidos, emocionantes. E que, mesmo que esses vídeos sejam assistidos numa tela de celular, a qualidade de produção é fundamental para que eles sejam interessantes, divertidos e emocionantes.
A grande mudança foi que os clientes chegaram à conclusão de que não é possível produzir conteúdo áudio-visual com as verbas que eles estavam dispostos a pagar. Que as verbas de produção no Brasil eram infinitamente inferiores quando eles as comparavam com os orçamentos de áudio-visual das suas matrizes no exterior. Finalmente, eles entenderam que não adianta tirar verba da produção e colocar na mídia, porque algo mal produzido com muita exposição causa o efeito contrário ao desejado.
As agências perceberam que, além de um aumento das verbas de produção, era fundamental organizar-se internamente e também educar os clientes para produzir seus conteúdos áudio-visuais com prazo. Que uma campanha não pode ficar dois meses no planejamento, duas semanas na criação, quase um mês para ser aprovada, uma semana para orçar com cinco produtoras e mais quatro semanas de espera pela aprovação do orçamento. Aprovou! Agora corre, pois são seis dias corridos para a PPM, uma única diária de filmagem e quatro dias de finalização. Sim, as agências agora estão convictas de que um processo assim prejudica a qualidade do produto final tanto quanto a baixa verba. Que, com mais prazo, inclusive, é possível baixar custos. E que, afinal, Picasso tinha toda razão quando disse que “o que é feito com tempo, o tempo respeita”.
Na categoria Craft, então, o prazo é a diferença entre a inscrição desperdiçada e o metal na mala. Quatro dias a mais no 3D daquela cena faz com que ela passe de boa a impressionantemente bem executada. E que, curiosamente, justamente esta cena é a mais bem pontuada no pré-teste que muitos clientes tanto valorizam.
E essa tomada de consciência sobre a importância de uma verba e prazo de produção adequados a cada projeto permitiu que a produção áudio-visual brasileira pudesse, finalmente, ser competitiva na categoria que deu início ao Cannes Lions.
Este é o artigo que eu gostaria de escrever no dia seguinte ao encerramento do festival.
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