Como alguém que nunca fez publicidade é jurada em Cannes?
Talvez o que a comunicação busque hoje seja exatamente esse frescor que vem de um mundo beta (esse onde eu atuo) e que está nutrindo uma nova geração de storytellers
Como alguém que nunca fez publicidade é jurada em Cannes?
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13 de junho de 2019 - 14h51
Se você trabalha com comunicação e publicidade, já sabe que Cannes é o evento mais importante para esse mercado e tudo mais. O que talvez soe como uma novidade para você é a notícia de que uma pessoa como eu foi escolhida para ser jurada este ano. Como alguém que nunca fez publicidade é jurada em Cannes?
Eu sei, para mim também foi uma surpresa. Creio que sou a jurada menos conhecida do meio publicitário e por isso vou começar com uma rápida introdução: Oi, eu sou Bia Granja, cofundei a YOUPIX em 2006, e hoje a empresa é o principal hub de negócios da Creator Economy na América Latina.
É legal te contar isso, porque muito da experiência que eu tenho com comunicação vem desse lado onde as pessoas tomaram para si o poder de criar histórias e revolucionaram uma porção de coisas. A ferramenta poderosa que possibilitou isso foi, claro, o digital e suas redes. Hoje, temos protagonismo e autonomia em relação às nossas jornadas de informação, conhecimento e consumo, o que também transforma nossa relação com instituições que sempre estiveram à frente dessas três instâncias: mídia, academia e marcas.
Nesse contexto, já sabemos que as marcas perderam seu protagonismo e tiveram que se reinventar. Deixaram de ser emissoras de mensagens para se engajar em conversas verdadeiras com comunidades segmentadas. Viram suas narrativas serem abraçadas e ressignificadas por essas comunidades, deixaram de controlar o processo de comunicação. Se tornaram menos donas da verdade, para colocar seus valores e posicionamentos na mesa, agregando valor à conversas mais amplas da sociedade.
Tudo isso tornou a comunicação muito mais complexa e sofisticada. O que nos traz de volta à minha presença no júri da categoria de Social & Influence este ano.
Se para mim está sendo uma experiência totalmente nova, já que sei pouco sobre os modelos já estabelecidos de publicidade, por outro lado me trouxe a provocação de que, talvez, o que a comunicação busque hoje seja exatamente esse frescor que vem de um mundo beta (esse onde eu atuo) e que está nutrindo uma nova geração de storytellers.
Trabalho com criadores digitais há 13 anos, sempre buscando entender (e acelerar) como essas gerações mais jovens usam o digital para criar movimentos culturais, sociais e, claro, quebrar todas as indústrias que já se entendiam como estabelecidas.
Outro dia vi no Twitter um post engraçado sobre isso: “Quanto tempo vai demorar pra alguém escrever um artigo sobre como a geração Z está matando a ‘indústria da campainha’ porque ao invés de tocar, já sai logo mandando aquele zap avisando que chegou?”
Esse modelo beta, caótico, visceral e colaborativo que vivo na veia desde 2006 faz parte do repertório que vou levar para meu trabalho como jurada de Cannes pela primeira vez, mas que aplico diariamente nos produtos e serviços da YOUPIX.
Em nossas consultorias estratégicas ajudamos marcas a trabalharem com influenciadores, mas também a se inserirem, elas próprias, nesse universo de comunidades e relevância. Em nossos cursos ensinamos as agências a deixarem a “Big Idea” um pouco de lado para criar histórias consistentes e perenes para seus clientes. No front com a nova geração de creators, aceleramos seus negócios e, principalmente, suas vozes.
É uma atuação um bocadinho fora do dia-a-dia da publicidade, mas se hoje sou a exceção, creio que a comunicação caminha para um lugar onde isso pode se tornar a regra. E foi nesse contexto que eu aceitei ser jurada de um festival e de uma premiação tão séria e tão importante.
Essas perspectivas todas foram colocadas a prova quando iniciamos os trabalhos de pré-julgamento das peças no mês passado. Em meio ao meu debate interior, recebi o email do PJ Pereira, presidente da minha categoria, enviado a todos os jurados que estarão atuando sob sua tutela no Cannes Lions 2019.
“Deixe seu coração falar” foi a frase do email que me pegou e me tranquilizou. Avaliações técnicas sobre os cases apresentados sempre abrem margem para discussão, mas a métrica do coração é fácil de entender e difícil de questionar. Se as marcas encontrarem um caminho até o coração dos jurados, o resto é… leão.
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