Meio & Mensagem
9 de maio de 2025 - 11h49
*Com informações do Ad Age
As agências de publicidade dos Estados Unidos estão reavaliando seus planos de viagem para o Festival Internacional de Criatividade Cannes Lions, no mês que vem, na França, devido aos receios de reentrada de funcionários que são residentes permanentes, portadores de visto H-1B, temporário para trabalho, e até mesmo cidadãos naturalizados.

(Crédito: Ada McCullough/Shutterstock)
No geral, muitos profissionais da indústria estão evitando viagens internacionais, temendo detenção no aeroporto e recusa de reentrada nos EUA devido à repressão do governo Trump aos vistos e imigração, conforme apurou o Ad Age.
De acordo com uma fonte de uma rede internacional independente, que concordou em falar sob condição de anonimato, executivos estrangeiros C-level que já estiveram em Cannes diversas vezes, decidiram não comparecer à edição de 2025. Por excesso de cautela, a fonte também decidiu não ir ao festival este ano, apesar de ser cidadã americana naturalizada.
Outros funcionários da organização e profissionais de todo o setor que planejam viajar para Cannes têm expressado grande ansiedade sobre a viagem. Muitas agências emitiram orientações para funcionários que viajarão para a França para o evento, que acontece entre 16 e 20 de junho.
Um porta-voz da WPP declarou ao Ad Age que a holding “fornece orientação abrangente de viagens para os funcionários, incluindo recursos específicos para membros da equipe que são titulares de visto ou green card residentes nos EUA. Esta orientação descreve a documentação recomendada e etapas proativas para ajudar os funcionários que viajam a estarem o mais preparados possível”.
Na Gut, a CEO, Andrea Diquez, comentou que a agência está mantendo a “flexibilidade”. “Embora amemos comemorar Cannes juntos e nunca tomemos isso como garantido, estamos aqui para apoiar cada indivíduo com orientação, flexibilidade e empatia, porque apoiar nosso povo vem antes de qualquer coisa”, disse ela em um e-mail.
Em determinadas agências, os próprios líderes estão salientando diretamente aos funcionários de que não são obrigados a viajar caso não queiram, não apenas para Cannes, mas também para outras produções comerciais ou reuniões com clientes.
Embora a agência normalmente tenha uma “grande contingência” para viajar a Cannes, este ano, dois membros cujos trabalhos foram inscritos no festival decidiram não viajar. A situação é lamentável, confessou Orgando, pois comparecer a Cannes pode ser uma oportunidade transformadora para criativos de pequenas agências independentes.
No caso da Mischief @ No Fixed Address, braço americano da agência canadense No Fixed Address, a agência tem tomado medidas para mitigar riscos associados a viagens internacionais. Por exemplo, está garantindo que “os detalhes das passagens e de vários documentos coincidam, que os passaportes estejam a mais de seis meses da data de vencimento, que [os colaboradores] tentem atualizar para o Real ID, se possível, e que os green cards e vistos estejam em mãos, atualizados e sejam os originais”, disse a presidente e sócia, Kerry McKibbin.
Além disso, tem exigido que portadores de visto e green card portem cartas de verificação de emprego e oferece recursos para ajudar os funcionários a se prepararem para responder a perguntas sobre seu emprego aos agentes da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA.
Medo intensificado
Autoridades de fronteira dos EUA estão usando táticas de triagem mais agressivas em diferentes portos de entrada, levando vários países, incluindo Alemanha e França, a atualizar seus alertas de viagem.
As táticas, que o governo Trump chama de “verificação aprimorada”, incluem buscas em telefones e questionamentos de estrangeiros, incluindo imigrantes legais que expressaram opiniões que o governo acredita que ameaçam a segurança nacional e prejudicam a política externa.
Embora a política não seja nova e tenha sido adotada por outros governos, tem deixado pessoas nervosas, que sentem que podem ser alvos, indica Daniel Schwarz, sócio do escritório de advocacia de imigração Fragomen, Del Rey, Bernsen & Loewy. Segundo ele, o escritório observou um aumento nas segundas triagens e na intensificação da verificação por meio de buscas por telefone, embora a probabilidade de qualquer pessoa ser alvo permaneça incerta.
“Esse tipo de escrutínio sobre indivíduos que entram nos Estados Unidos não é tão novo assim”, lembrou. “É algo que fez parte do primeiro governo Trump, e de todos os governos, mas acho que a diferença é que a verificação adicional e a maior publicidade em torno disso é o que realmente deixou as pessoas preocupadas”.
Embora as políticas atuais estejam causando mais estresse, nem todos estão impedidos de viajar. Luis Miguel Messianu, fundador, presidente e diretor de criação da agência hispânica MEL, acredita que “agências multiculturais ainda poderão participar do Cannes Lions, mas planejamento e precauções extras são essenciais em 2025 e depois”.
Ele sugeriu realizar um briefing com a equipe antes da viagem para revisar documentos, cronogramas e contingências. Também recomendou a nomeação de um líder ou coordenador de viagens para gerenciar quaisquer problemas de fronteira ou com as companhias aéreas, além de ter um contato de RH ou jurídico disponível durante a semana do festival de Cannes, caso seja necessário suporte.
*Tradução por Giovana Oréfice