A importância da audiodescrição para a acessibilidade na comunicação

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Comunicação

A importância da audiodescrição para a acessibilidade na comunicação

Lívia Motta, audiodescritora e diretora do Ver com Palavras, explica as oportunidades e desafios da inclusão de deficientes visuais na comunicação


25 de fevereiro de 2022 - 13h56

A Organização Ver com Palavras realiza a audiodescrição para diversos tipos de conteúdos e eventos (Crédito: Divulgação/Ricardo Ferraz)

Segundo dados do IBGE, existem mais de 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual no Brasil, sendo 582 mil cegas e 6 milhões com baixa visão. Na busca por uma sociedade mais inclusiva principalmente na comunicação, organizações como o Ver com Palavras oferecem serviços de audiodescrição.

Apesar desse formato mais conhecido ser em conteúdos em texto, ele pode ser utilizado em diversas situações como eventos, peças de teatro, produções audiovisuais e outras. A organização hoje trabalha com diversas empresas, entre elas, a Sala São Paulo, durante os concertos acessíveis.

Lívia Motta, audiodescritora, formadora de audiodescritores e diretora do Ver com Palavras trabalha  com audiodescrição há quase 18 anos e vem implementando o recurso nos mais diferentes contextos, dado cursos e preparações de professores de áudio descritores. Ela conversou com o Meio & Mensagem sobre o recurso. 

M&MComo a audiodescrição é feita? Quais as ferramentas necessárias?

Lívia Motta – Audiodescrição é um recurso de acessibilidade comunicacional que amplia muito o entendimento das pessoas com deficiência visual naquilo que assistem, seja um espetáculo, um produto audiovisual, um evento, em sites, etc. Ela é a tradução das imagens em palavras, então você percebe quantas imagens estão disponibilizadas em um site, nas redes sociais, na divulgação de notícias, de produtos e aí a pessoa que tem deficiência visual fica com o acesso a informação, que é prejudicado devido a essa barreira comunicacional. Então, a audiodescrição vem para possibilitar esse acesso ao mundo imagético por meio das palavras. Em um site, por exemplo, a audiodescrição pode ser inserida na formatação das imagens em texto alternativo, porque como as pessoas com deficiência visual acessam as redes sociais e os sites fazendo uso de um software com leitor de tela, que possui uma voz sintetizada e que faz toda a leitura. Quando esse software esbarra em uma imagem, se a imagem não tem a audiodescrição, ele não vai fazer a leitura, compromete grandemente o entendimento e o acesso a informação

M&M – Como a audiodescrição acontece fora dos conteúdos digitais?

Lívia – A audiodescrição de um produto audiovisual é gravada e inserida entre as as falas dos personagens para propiciar a informação e ampliar o entendimento do que está ocorrendo, das ações, dos figurinos, dos personagens, cenários etc. Em um evento ao vivo, como uma peça teatral, musical, concertos acessíveis como os que são realizados na sala São Paulo, a audiodescrição é feita ao vivo e vai acompanhando o desenrolar do evento fornecendo as informações referentes ao figurino, ao cenário, as ações. E assim, a pessoa com deficiência visual tem uma apreciação desses espetáculos em uma igualdade de condições e isso é fundamental. É um direito de acesso de todo cidadão. Essa conscientização das produções e dos espaços culturais vem aumentando. A gente tem avançado, em passos mais lentos do que desejaríamos, mas vêm avançando sim.

M&MA que se dá esse aumento na busca por acessibilidade agora?

Lívia – Ainda hoje o percentual de sites que são acessíveis a todos os públicos é muito baixo, mas a gente vem percebendo que, dia a dia, essa conscientização sobre a necessidade de trabalhar com acessibilidade digital, que permita um acesso de todos os públicos, vem se ampliando, principalmente devido a essa informação sobre o número de pessoas com algum tipo de deficiência no Brasil. Em torno de 24% da população que tem algum tipo de deficiência e enfrenta alguma barreira comunicacional para ter acesso à informação. Gradativamente, as empresas vêm percebendo a necessidade de ter um site que expõe a informação e que seja acessível, para que as pessoas possam navegar com conforto e com acesso igualitário a informação. Pouco a pouco, essa conscientização vem se  ampliando. Algumas grandes empresas e veículos de comunicação como a Folha de São Paulo, por exemplo, já vem utilizando recursos de acessibilidade, fazendo a audiodescrição das imagem e das fotografias no Instagram e no Facebook. Isso é extremamente positivo e acaba influenciando o setor.

M&M – Quais os desafios da acessibilidade na comunicação hoje em dia?

Lívia – Os maiores desafios da acessibilidade hoje é realmente derrubar essas barreiras comunicacionais. A primeira barreira que aponto é a barreira latitudinal: o conhecimento pequeno que as pessoas em geral têm sobre as pessoas com deficiência, as formas de acesso, os recursos de acessibilidade que já existem de tecnologia assistiva. Não é a deficiência que limita, cerceia e impede, mas é a falta dos recursos de acessibilidade para que as pessoas com deficiência possam trabalhar, se divertir, ter acesso às informações, à escola, a todos os contextos em igualdade de condições.

M&M – Como tem sido a experiência de trabalhar com a audiodescrição? O você que espera do futuro?

Lívia – O trabalho com áudio descrição é extremamente gratificante pelo fato de perceber que podemos colaborar com tantas pessoas para que eles tenham uma participação e igualdade de condições. É muito emocionante perceber a reação de uma pessoa com deficiência que assiste a um evento, a um filme, a um espetáculo com audiodescrição pela primeira vez, tendo acesso a todas as informações, tendo essa igualdade de oportunidades. Eu venho trabalhando incessantemente na divulgação do recurso porque eu acho que essa informação sobre acessibilidade é fundamental para que se amplie cada vez mais o uso. Que mais e mais pessoas conheçam os benefícios dos recursos de acessibilidade e como as pessoas podem ter uma um uma participação igualdade de condições, isso é fundamental. Quanto mais pessoas tiverem essa informação, mais ampliamos as possibilidades de implementação do recurso, nos mais diversos segmentos. Também defendo a ideia de ter uma disciplina que fale sobre os recursos de acessibilidade nos cursos de graduação, porque dessa forma os alunos vão ter um conhecimento e já vão entrar no mercado de trabalho com essa preocupação em como o aquilo que fazem pode contribuir para os mais diferentes públicos.

*Crédito da imagem do topo: Shutterstock

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