Artplan usa livros para derrubar algemas em presídios
Criado para a editora Carambaia, projeto visa disseminar as resenhas literárias entre os detentos
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Bárbara Sacchitiello
27 de abril de 2018 - 12h58
Desde 2013, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) passou a permitir a utilização da leitura como um instrumento literal de libertação. Uma portaria permitiu que os juízes reduzam a pena dos presidiários que adotem o hábito da leitura e produzam resenhas das obras que leram durante o tempo nas prisões. A cada resenha entregue, é possível reduzir a pena em quatro dias.
Assim que a norma passou a valer, o Centro de Progressão Penitenciária de Hortolândia, no interior de São Paulo, começou a promover rodadas de leitura, análise e debates de resenhas de obras feitas pelas próprios detentos. Agora, por iniciativa da editora Carambaia e da Artplan, o clube literário da penitenciária teve sua atividade transformada em documentário, material publicitário e peças promocionais.
A ideia do projeto “Resenha Livre” nasceu a partir de uma pesquisa que a agência fez para a editora, da qual detém a conta publicitária, para conhecer o mercado literário brasileiro com maior profundidade. “Descobrimos que os presos leem muito mais do que a média do brasileiro, praticamente nove meses mais. Isso nos chamou a atenção e soubemos da portaria do Governo Federal que permite que detentos façam resenhas em troca da diminuição de suas penas. Tivemos acessos a algumas dessas resenhas – de qualidade surpreendente – e logo pensamos que os livros da Carambaia poderiam ser avaliados por um público tão apaixonado pela leitura”, explica Marcos Abrucio, diretor de criação da Artplan.
Após o conhecimento da questão da resenha literária como instrumento de redução penal, a agência entrou em contato com o centro de detenção de Hortolândia, que já mantinha um projeto de leitura liderado pela educadora Elisande de Lourdes Quintino. Então, a Artplan enviou uma remessa de livros da Carambaia ao presídio e transformou as resenhas feitas pelos presidiários em elementos de divulgação das obras.
Mais do que criar visibilidade para o acervo da editora, a proposta da ação é levar ao público uma imagem diferente a respeito de quem está inserido no sistema prisional. “A imagem que muitas pessoas têm dos presidiários é a pior possível. Queríamos apresenta-los como seres pensantes, críticos e sensíveis, que merecem ser ouvidos. Além disso, queríamos dar visibilidade ao projeto da professora Elisande e de outras iniciativas semelhantes”, argumenta Abrucio.
O material promocional desenvolvido pelos detentos foi apresentado ao público em um evento realizado na noite dessa quinta-feira, 26, na Escola Britânica de Artes Criativas, em São Paulo, onde também foi exibido o minidoc, gerado com o acompanhamento do projeto.
Embora reitere que a função da publicidade seja a de ajudar as marcas a empresas a venderem seus produtos, o diretor de criação da Artplan acredita que a atividade publicitária não pode continuar limitando-se a essa função. “Temos uma responsabilidade social. E tudo fica mais fácil quando a empresa e seus donos têm uma casa, um pensamento claro sobre o assunto, quando é o caso da editora Carambaia”, comenta. De acordo com o publicitário, a proposta é que outras editoras também abracem o projeto, doando livros a outros centros de detenção.
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