Gordon Bowen: ego não é bem-vindo
Criativo conversou com o Meio & Mensagem sobre como é trabalhar com publicidade nos dias de hoje
Criativo conversou com o Meio & Mensagem sobre como é trabalhar com publicidade nos dias de hoje
Isabella Lessa
10 de junho de 2015 - 8h20
Na definição de Gordon Bowen, único dos três fundadores ainda na ativa, a McGarryBowen é grande o bastante para atender clientes globais e pequena o suficiente para dar a atenção que eles merecem. A rede chegou ao Brasil há exatamente um ano, com a adoção da marca pela até então Age Isobar — ambas pertencentes ao grupo Dentsu Aegis. Com dois escritórios nos Estados Unidos, em Nova York e Chicago, e, além da agência em São Paulo, apenas outras duas fora de seu país de origem, em Londres e Shangai, a McGarryBowen, inaugurada em 2002, tenta manter seus valores originais, mesmo após a venda para a holding japonesa em 2008. “Acredito em pessoas e quero colocá-las acima de qualquer outro objetivo dentro da empresa. Na minha visão, para trabalhar com ideias é preciso saber compartilhá-las. Ego não é bem-vindo”, sentencia Bowen, chief creative officer da rede. Segundo ele, o foco atual é o storytelling: descobrir a história da marca e “fazer a mágica acontecer”. E essa é uma tarefa à qual diz ainda gostar de se dedicar até hoje, aos 64 anos.
Meio & Mensagem — Como se deu a decisão de criar a McGarryBowen?
Gordon Bowen — Ao trabalhar para grandes agências, você conhece muitas pessoas e, principalmente, aprende com os erros. Quando decidimos abrir a McGarryBowen, não tínhamos ideia se conseguiríamos clientes. Na época, em 2002, eu havia me afastado do mercado para trabalhar na Olímpiada de Inverno de Salt Lake City (como diretor criativo). Pensamos em bater nas portas de clientes que já havíamos atendido. E, do nada, John começou a dizer a eles: nos dê o seu maior problema para a gente resolver. E muitos deram. Continuamos a fazer essa mesma proposta, e, assim, a agência foi crescendo. Eu estava interessado em criar uma cultura que colocasse as pessoas em primeiro lugar, em criar uma filosofia na qual os valores da empresa vêm primeiro, para inspirar a todos a fazerem o melhor trabalho. Para mim, o melhor em ter sua própria agência é contratar pessoas que são melhores do que você — o que não é muito difícil (risos). Criamos um dream team, mas eu não imaginava que um dia meu nome estivesse estampado em um escritório no Brasil (risos). Foi muito bom ter uma visão, que pode não ser certa para todo mundo, mas que é algo em que acreditamos muito. E se eu erro, não posso colocar a culpa em ninguém. Isso é bom e ruim ao mesmo tempo. Mas acho que acertamos mais do que erramos.
M&M — Como é para você e a McGarryBowen integrarem um grupo controlado por uma companhia japonesa? Há diferenças em relação, por exemplo, ao britânico WPP, ao francês Publicis e ao americano Omnicom?
Bowen — Não gosto de me comparar com outras companhias. Posso dizer que entre os aspectos pelos quais gosto de estar com a Dentsu estão o senso de valores, a forma aberta de trabalhar, a convivência com pessoas que sabem coisas que não sei — não preciso saber de tudo, tenho certeza de que meus clientes estão recebendo o melhor porque trabalho com gente muito boa — e a maneira como eles estruturam as equipes, sabendo onde está a expertise de cada uma delas. Somos como primos da mesma família. Estar nesse negócio requer confiança e compartilhamento de ideias frágeis. Uma ideia ruim é dura como rocha, mas uma ideia boa é muito frágil. Então, é preciso ter certeza de que as pessoas que estão junto com você podem lidar com ela com cuidado. Se colocar nas mãos erradas, é perigoso. Não tive problemas desde que vendemos. Até agora, tem sido maravilhoso.
M&M — Como você avalia o desempenho criativo da McGarryBowen Brasil?
Bowen — O ótimo dos escritórios globais é que eles são mais ansiosos para me mostrar o trabalho deles. Mas, em termos de criação, há nuances culturais e eles têm de explicar por que aquilo é engraçado. Há mais pontos em comum do que diferentes. Algo que não quero na agência é que haja muito ego envolvido. Quando uma pessoa tem uma ideia global e outra não quer trabalhar nela porque não foi sua ideia é inaceitável. Você tem de querer trabalhar em grupo. Percebo que o Brasil não tem medo de cor. O trabalho criativo é sofisticado, mas alegre, exuberante. Percebe-se a joie de vivre, há paixão e um senso de design muito bom. Os criativos brasileiros são apaixonados, se eles não amam o job, não fazem. E quando você tem paixão por algo, faz isso melhor. Sei que o País está passando por uma crise econômica, assim como o resto do mundo. Mas é um país grandioso em termos de recursos humanos, naturais. Será uma força cada vez maior. Não vejo nada a não ser ótimas oportunidades para nós.
M&M — Em sua biografia no site da agência, você é descrito como um otimista em relação ao futuro. Como acha que será uma agência de publicidade daqui a dez anos, em 2025?
Bowen — Sou otimista porque acredito nas pessoas, é uma época incrível para estar vivo. Obter conhecimento é bom, mas poder acessá-lo de qualquer lugar é incrível. Estamos em uma economia global, o que nos permite vivenciar insights e invenções impensáveis há 40 anos. O poder está na força criativa pelo mundo, e não me refiro somente à criação publicitária. O Uber é uma forma de se locomover que, há dois anos, ninguém sabia o que era. Haverá milhares de outras novidades nesse sentido, que nos empoderam como pessoas. As agências do futuro serão muitas coisas que não posso prever. Mas sei, com certeza, que haverá modos mais diretos e inteligentes de comunicação entre as pessoas e será importante que todo o time, não apenas os criativos, seja bem-sucedido. Produtos, marcas e clientes terão mais oportunidades e desafios. Não tenho ideia do que será inventado, mas tenho certeza de que será maravilhoso.
Leia a íntegra desta entrevista na edição 1663, de 08 de junho, exclusivamente para assinantes de Meio & Mensagem, disponível nas versões impressa ou para tablets Apple e Android.
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